Poluição em fábrica na Alemanha. — Foto: AP Photo/Michael Probst
Em um relatório divulgado nesta sexta-feira (21), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou que a temperatura média global em 2022 ficou 1,15ºC acima da era pré-industrial.
📈 Contexto: O índice é preocupante porque é muito próximo de 1,5ºC, a meta para 2030 com a qual o Brasil e outros cerca de cem países se comprometeram para barrar o aquecimento global.
No final do ano passado, a agência da ONU já havia advertido que não estamos nem perto do nível e do ritmo das reduções de emissões de metano necessárias para conseguir limitar a elevação das temperaturas na Terra.
🆘 Consequências: Cientistas têm apontado que o aquecimento global trará graves consequências ao planeta, com impactos ambientais e sociais, como o aumento dos níveis do mar, ondas de calor e desertificação.
🥵 Recorde de calor
A OMM também confirmou que os últimos oito anos foram os oito anos mais quentes já registrados e que o ano passado foi o "5º ou 6º ano mais quente" desde então.
E tudo isso tem uma explicação clara: o aumento contínuo das concentrações de gases de efeito estufa e o acúmulo constante de calor.
Como resultado disso, vimos ao longo de 2022 ondas de calor extremas, secas e inundações devastadoras, ressaltou a agência.
❄ Gelo marinho: O relatório anual, divulgado um dia antes do Dia da Terra, mostrou ainda que o gelo marinho na Antártica recuou para uma taxa mínima recorde em junho e julho.
🌊 Oceanos: Já os oceanos tiveram as temperaturas mais quentes já registradas, com cerca de 58% de suas superfícies experimentando uma onda de calor, afirmou a organização.
Mas por que a taxa de 1,15ºC preocupa?
A OMM chamou atenção que essa taxa foi registrada mesmo com a influência do La Niña, um evento climático natural que manteve as temperaturas globais relativamente “baixas” nos últimos dois anos.
Além disso, o índice é muito próximo de 1,5ºC, o chamado “limite seguro” das mudanças climáticas.
Esse é o aumento máximo da taxa média de temperatura global definido para este século a fim de evitar as consequências da crise climática provocada pelo homem por causa da crescente emissão de gases na atmosfera.
🌡 Como se chegou nesse 1,5ºC? Essa taxa é medida em referência aos níveis pré-industriais, a partir de quando as emissões de poluentes passaram a afetar significativamente o clima global.
Apesar disso, especialistas vêm alertando ao longo dos últimos anos que as demandas vistas como fundamentais para que o aquecimento do planeta não ultrapasse essa taxa vêm sendo implementadas num ritmo considerado “insuficiente”.
"Temos as ferramentas, o conhecimento e as soluções. Mas temos de acelerar o ritmo. Precisamos de uma ação climática acelerada com cortes de emissões mais profundos e rápidos para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 grau Celsius", disse o secretário-geral da ONU, António Guterresna ocasião.
Ele também ressaltou a necessidade de ampliação dos investimentos em medidas para mitigar essa situação, principalmente para os países e comunidades mais vulneráveis que menos fizeram para causar a crise.
Derretimento de geleiras bate recorde
Derretimento da geleira de Qori Kalis, no Peru — Foto: NASA
Ainda de acordo com o relatório, as geleiras do mundo derreteram a uma velocidade vertiginosa no ano passado, um fenômeno que parece impossível de ser impedido.
"O gelo marinho da Antártica atingiu seu nível mais baixo e o derretimento de algumas geleiras europeias literalmente quebrou recordes", alertou a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência especializada das Nações Unidas, em seu relatório anual sobre o estado do clima mundial.
O nível do mar também atingiu recordes, com uma elevação média de 4,62 milímetros por ano entre 2013 e 2022, o dobro de entre 1993 e 2002.
Temperaturas recordes também foram registradas nos oceanos, onde termina cerca de 90% do calor retido na Terra pelos gases do efeito estufa.
As geleiras que os pesquisadores usam como referência perderam em média mais de 1,3 metro de espessura entre outubro de 2021 e outubro de 2022, uma perda muito maior do que a média dos últimos dez anos.
Desde 1970 as geleiras perderam cerca de 30 metros de espessura.
Na Europa, os Alpes quebraram recordes de derretimento de geleiras devido a uma combinação de baixa neve no inverno, uma intrusão de poeira do Saara em março de 2022 e ondas de calor entre maio e início de setembro.
"Para as geleiras, o jogo já está perdido", disse à AFP Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
"A concentração de CO2 já é muito alta e a elevação do nível do mar provavelmente continuará por milhares de anos", explicou.
Nos Alpes suíços, "no verão passado perdemos 6,2% da massa glacial, a maior quantidade já registrada".
"Isso é sério", alertou, explicando que o desaparecimento das geleiras limitaria o fornecimento de água potável para humanos e para a agricultura, além de prejudicar as conexões de transporte se os rios se tornassem menos navegáveis.
Isso representará "um grande risco para o futuro", disse Taalas. Não é possível parar o degelo "a menos que criemos uma forma de eliminar o CO2 da atmosfera", acrescenta.
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