26/04/2016 09h54 - Atualizado em 26/04/2016 10h02

Mais de 20 fazendas em região de MT são invadidas por grileiros

Uma das fazendas invadidas, em Juruena, teve duas casas queimadas.
Áreas rurais estão sendo divididas em lotes e comercializadas ilegalmente.

Lislaine dos AnjosDo G1 MT

Barracos foram montados em fazenda da região (Foto: Arquivo pessoal/ Fellipe Stühler)Barracos foram montados em fazenda da região (Foto: Arquivo pessoal/ Fellipe Stühler)

Ao menos 22 fazendas da região de Juína, a 737 km de Cuiabá, foram invadidas por grupos de grileiros nos últimos 30 dias. Segundo o Sindicato Rural do município, os invasores escolhem áreas de projetos de manejo sustentável ou de preservação permanente, dividem as áreas em lotes e comercializam ilegalmente o direito de exploração da terra.

De acordo com o presidente do sindicato, José Lino Rodrigues, as invasões não são feitas por pessoas ligadas ao Movimento dos Sem Terra (MST), mas por quadrilhas que visam o enriquecimento ilícito com a venda irregular dos terrenos, e já ocorreram em Juína, Juruena (a 893 km de Cuiabá) e Castanheira (a 780 km da capital).

“Eles invadem, derrubam o que existe no local, desmatam tudo, até mata ciliar, é uma desordem. Na sequência, eles subdividem o terreno, aliciam e enganam pessoas, vendendo a elas o direito de trabalhar na área. Queremos proteger os legítimos proprietários da terra e estamos preocupados porque eles [invasores] deixam a mata destruída e os proprietários podem ser multados ou acionados posteriormente por esses atos”, afirmou o sindicalista.

Uma das fazendas invadidas é de propriedade da empresa Rohden Indústria Lignea, do empresário Apolinário Stuhler, de 61 anos, localizada em Juruena. Segundo ele, a fazenda é a única área de Mato Grosso a possuir o selo verde de certificação internacional do Conselho de Manejo Florestal – Forest Stewardship Council (FSC) – e está ocupada por invasores desde o dia 2 de abril.

Fazendeiro diz que casas da fazenda foram queimadas por invasores (Foto: Arquivo pessoa/ Fellipe Stühler)Fazendeiro diz que casas da fazenda foram queimadas por invasores (Foto: Arquivo pessoa/ Fellipe Stühler)

A fazenda tem 12 km  de frente ao longo da BR-174 e pelo menos 400 grileiros estariam no local desde o início do mês. Segundo o proprietário, os invasores são profissionais, estão armados e já destruíram duas das quatro casas localizadas na fazenda.

“Eles queimaram as casas e os caseiros fugiram para a mata. Eles começaram a fazer 'picadas', a vender lotes e, até onde já consegui apurar, já arrecadaram mais de R$ 500 mil com esse comércio ilegal. Eu tinha um inventário de todas as espécies lá, as árvores todas etiquetadas e perdi tudo”, lamentou o empresário.

De acordo com ele, as ameaças de invasão de sua propriedade – a qual ele possui desde maio de 1990 – tiveram início em março deste ano e, quando se concretizou, ele procurou a Justiça estadual para garantir a reintegração de posse da terra, o que conseguiu há 10 dias.

“É uma área voltada 100% ao manejo florestal e eles destruíram todo o de exploração desse ano, roçaram tudo e estão derrubando o que estiver na frente. Daí, dividem lotes para vender e enganam um monte de gente mal informada. Mas também tem gente mal caráter, que sabem que a empresa é dona daquela terra e mesmo assim se aproveita da situação”, afirmou.

Ameaça
Apolinário disse que, atualmente, vive trancado com a sua família em casa, após já ter sofrido novas ameaças por parte dos grileiros. “Há mais duas casas na fazenda e eles prometeram queimar também. E também estou preso dentro de casa, com guardas na frente dia e noite, sem poder sair, porque eles ameaçaram botar fogo na minha casa”, disse.

Movimentação durante invasão de área (Foto: Arquivo pessoal/ Fellipe Stühler)Movimentação durante invasão de área
(Foto: Arquivo pessoal/ Fellipe Stühler)

Ele afirmou que já denunciou o caso para cinco órgãos ambientais diferentes, mas que ninguém apareceu no local até o momento. Além disso, ele esteve em reunião com representantes do governo estadual há cerca de duas semanas e disse ter apresentado a liminar que permite a reintegração de posse da área, a fim de que fosse feito o estudo necessário para garantir que a ordem judicial seja cumprida, mas que não recebeu uma resposta sobre o caso até o agora.

“Já levei na Casa Militar para que fosse coordenada a reintegração, para que eles vejam qual o efetivo necessário, mas não vieram nem aqui olhar ainda. Nunca desmatei nada e agora a área está sendo destruída e um empurra [o problema] para o outro. A única coisa que funcionou rápido até agora foi a Justiça”, disse.

Reintegração
Após o governo ser notificado da decisão judicial, o Comitê de Conflitos Fundiários faz um levantamento sobre a área invadida para saber quantas famílias estão no local, em que condições estão vivendo e se há outras áreas para onde elas podem ser remanejadas.

As ações contam com o apoio do município onde o conflito ocorre. As informações colhidas, então, são usadas para a coordenação da ação de reintegração, que é executada pelas forças de segurança pública, como a Polícia Militar.

O G1 entrou em contato com o governo do estado, uma vez que o secretário-chefe da Casa Militar está viajando. A Casa Civil, que também integra o comitê, foi procurada, mas não se posicionou sobre o caso até a publicação dessa reportagem.