Os vereadores de Campo Grande demonstraram surpresa na sessão desta quinta-feira (10) com o relatório final do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime organizado (Gaeco) que acusou 23 pessoas, sendo 13 parlamentares, de participar de um esquema que resultou na cassação do mandato do prefeito Alcides Bernal (PP), em março de 2014.
O atual presidente da Casa de Leis, vereador João Rocha (PSDB), aparece na lista do Gaeco. “Se os nomes estão citados, deve ter concretude. Eu sei do voto que eu proferi na cassação. Foi um voto baseado em documentos da Comissão do Calote. De forma alguma [teve articulação]”, afirmou.
O ex-presidente Mario Cesar (PMDB), que presidiu a sessão no dia 12 de março de 2014, é apontado como um dos articuladores. O peemedebista disse que não teve acesso ao relatório, mas nega as acusações. Ele foi afastado do cardo no dica a deflagração da operação Coffee Break, no dia 25 de agosto e só retornou ao cargo de vereador três meses depois.
“Primeiro que não teve nenhuma articulação, nenhum esquema para cassação do Alcides Bernal. Foi feito tudo com a maior lisura, transparência. Quem arquitetou tudo isso o próprio Alcides Bernal que cometeu as irregularidades”, pontuou Mario Cesar.
Além do peemedebista, são citados como organizadores do esquema: os empresários João Amorim, João Baird, Carlos Naegele; vice-prefeito Gilmar Olarte (PP); os vereadores Flávio César (PT do B), Airton Saraiva (DEM); Fábio Portela, Luiz Pedro Gomes Guimarães, Raimundo Nonato de Carvalho, o ex-prefeito Nelson Trad Filho (PTB) e o ex-governador André Puccinelli (PMDB).
Flávio César disse que só vai falar sobre o assunto pelo advogado. Nelson Trad Filho também se disse surpreso e não vai se manifestar sobre o assunto. André Puccinelli não vai se manifestar, por enquanto. Amorim e Olarte disseram que não tiveram acesso ao relatório e, por isso, não vão falar.
Luiz Pedro disse ao G1 que não teve acesso ao relatório e o que sabe foi o divulgado pela imprensa. O vereador Saraiva não atendeu às ligações.
o relatório, também foram indiciados pelo crime de corrupção ativa: João Amorim, João Baird, Gilmar Olarte, Mario Cesar, Flávio César, Airton Saraiva, Fábio Portela.
Além disso, os vereadores Paulo Siufi (PMDB), Edil Albuquerque (PMDB), Edson Shimabukuro (PTB), Eduardo Romero (Rede), Jamal Salém (PR), Otávio Trad (PT do B), Gilmar da Cruz (PRB), Waldecy Chocolate (PP), Carlos Borges (PSB), João Rocha e o ex-vereador Alceu Bueno (sem partido) foram acusados de corrupção passiva.
Interesse
Segundo o Gaeco, os interesses eram basicamente dinheiro e poder. O poder passa pela política. O grupo de André Puccinelli e Nelsinho Trad estava há 16 anos no poder. De repente, eles perderam o controle da capital sul-mato-grossense e fizeram de tudo para retomar. Só que havia muitos interesses.
A investigação aponta que os empresários não queriam perder os contratos lucrativos com a prefeitura e os vereadores queriam influenciar na prefeitura conseguindo cargos para aliados e até pra eles mesmos. Já Gilmar Olarte queria ser prefeito a todo custo.
Os promotores do Gaeco estão convencidos que toda ação do grupo passava por André Puccinelli. Não há gravação telefônica ou documentos com assinatura do ex-governador. Entretanto, as conversas e mensagens de texto dos envolvidos indicam a participação dele nesse esquema de poder.
Esse relatório ainda está sendo avaliado pela Procuradoria-Geral de Justiça, que deve apresentar uma denúncia à Justiça. Mas isso só deve ocorrer depois do recesso do judiciário, em 2016, e a procuradoria pode desconsiderar alguns itens do relatório. Depois disso, cabe à Justiça aceitar ou não a denúncia.