10/12/2015 21h45 - Atualizado em 10/12/2015 21h45

Bernal na prefeitura atrapalhava planos de suspeitos, diz Gaeco

Empresários, vereadores e políticos suspeitos juntaram os interesses.
No diário da mulher de Amorim, ela relata que marido não tem limites.

A presença de Alcides Bernal (PP) na prefeitura de Campo Grande atrapalhava os planos dos 23 suspeitos de cassar o pepista em março de 2014, segundo consta no relatório do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).

Os empresários queriam manter os privilégios na prefeitura. Aos vereadores interessava indicar aliados para cargos na administração municipal. Já Gilmar Olarte (PP) desejava virar prefeito. Ainda segundo o Gaeco, a ideia do grupo era tomar de volta o domínio da capital sul-mato-grossense, que passou 16 anos nas mãos de aliados do ex-governador André Pucinelli (PMDB).

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Segundo as investigações, o grupo de suspeitos criou um plano para tirar Bernal da prefeitura. Para isso, foi preciso cooptar vereadores para votar a favor da cassação do prefeito. Além de cargos no futuro governo, também foi oferecido dinheiro. Olarte, então vice-prefeito, negociava vagas em secretarias e autarquias tanto para os próprios vereadores quanto para apadrinhados deles.

Os líderes do esquema seriam, no braço empresarial, João Amorim, João Baird, Fábio Portela e Carlos Naegele. Entre os políticos, além de Olarte, o ex-prefeito de capital, Nelson Trad Filho (PTB), e o ex-governador André Puccinelli (PMDB). Naegele, dono de um portal de notícias, é apontado pelo Gaeco como o homem que ajudava na captação dos votos para cassar Bernal.

Ainda fazem parte da lista os vereadores Mario Cesar (PMDB), Flávio César (PT do B) e Airton Saraiva (DEM) e os pecuaristas Luiz Pedro Gomes e Raimundo Nonato de Carvalho. A todos o Gaeco atribuiu o crime de associação criminosa.

O ex-prefeito Nelsinho Trad e as defesas de João Amorim, do prefeito afastado Gilmar Olarte e do vereador Mario Cesar disseram que não tiveram acesso ao relatório. O advogado do ex-governador André Puccinelli, disse que ele não vai se manifestar.

Os vereadores Carlão (PSB) e Edson Shimabukuro (PTB) disseram que vão provar que são inocentes. Já João Rocha (PSDB) e Eduardo Romero disseram que ainda não foram notificados, mas negam as acusações. O tucano nega as acusações.

As assessorias dos vereadores Airton Saraiva, Chocolate (PP), Gilmar da Cruz (PRB) e Edil Albuquerque (PMDB) não responderam às ligações.

A produção da TV Morena não conseguiu falar com João Baird, Carlos Naegele, Fábio Portela, Luiz Pedro, o ex-vereador Alceu Bueno (sem partido), Raimundo Nonato e com os vereadores Paulo Siufi (PMDB), Jamal Salém (PR) e Flávio César.

Provas
Uma anotação de Cristina Amorim, mulher do empreiteiro João Amorim, revela a participação dele no esquema que resultou na cassação do mandato do prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal (PP), em março de 2014. “Amorim estava tramando a queda de Bernal”, escreveu no diário apreendido.

Dela também foi levado o tablet. Ela chama o marido de J. A. e diz que ele estava trabalhando para mudar o rumo da prefeitura da capital sul-mato-grossense. Cristina revela ainda que o marido não tem limites para conseguir o que quer.

Outra evidência contra o empresário também partiu da própria família. Uma ligação interceptada com autorização da Justiça, a irmã de Amorim, a deputada estadual Antonieta Amorim, pergunta o que ele fez para derrubar Bernal. A resposta foi sucinta e disse que “fez o que era preciso”.

Antonieta ainda perguntou se Olarte tinha conhecimento da articulação e o empresário confirmou.

Esse relatório ainda está sendo avaliado pela Procuradoria-Geral de Justiça, que deve apresentar uma denúncia à Justiça. Mas isso só deve ocorrer depois do recesso do judiciário, em 2016, e a procuradoria pode desconsiderar alguns itens do relatório. Depois disso, cabe à Justiça aceitar ou não a denúncia.

Investigações
As investigações da operação Coffee Break começaram no dia 31 de julho. A operação foi deflagrada em 25 de agosto, quando nove vereadores foram conduzidos para prestar depoimento no Gaeco, além de afastar dos cargos o então prefeito Gilmar Olarte (PP) e o presidente da Câmara Municipal, Mario Cesar Fonseca (PMDB).

Promotores analisaram o período do segundo semestre de 2013 até depois de 12 de março de 2014, quando Bernal teve o mandato cassado. “Está claro que houve de fato uma associação de pessoas, que por interesses empresariais e políticos, orquestraram um plano para, por meio de oferecimento de vantagens, obter votos para a cassação do prefeito Alcides Bernal”, explicou o coordenador do Gaeco.

Três pessoas, que serão indiciadas por corrupção ativa, atuaram para angariar votos para a cassação, realizando reuniões e oferecendo vantagens. Houve inclusive compra de apoio para afastar Bernal. “Percebemos que os valores são variáveis. Agora percebemos casos que a movimentação desses valores tão muito maiores que em outros casos”.

Todas essas pessoas movimentaram duas a três vezes dos ganhos anuais. “Para citar apenas um exemplo, um vereador declarou ter recebido R$ 393 mil no ano de 2013 e movimentou em suas contas R$ 4,3 milhões”, ressaltou Oliveira.

Cinco pessoas foram identificadas como articuladoras do esquema. “Temos cinco figuras principais, ligadas à área empresarial e da área política, que efetivamente desenvolveram uma postura mais ativa”, disse o promotor.

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