Duas em cada três empresas com até dois anos de existência em Mato Grosso do Sul e que são acompanhadas por consultores do Sebrae têm origem familiar. Os dados são do projeto Nascer Bem, que orienta empreendedores a criar o próprio negócio. Atualmente há 2,6 mil empresas inscritas no programa.
A explicação, segundo a entidade, pode estar na facilidade de relacionamento e no comprometimento por um bem comum a todos os membros da família. A busca pela independência financeira também pesa na hora da decisão.
Foi por esse caminho que o corretor de imóveis Lucas Antônio Morishigue resolveu seguir há dois anos. "Eu era corretor, mas percebi que nessa área tem uma instabilidade. Às vezes você vende, às vezes não. Nós pensamos que, com o dinheiro das comissões, poderíamos abrir um negócio próprio para gerar renda para a família. Uma franquia era o nosso pensamento", conta Lucas.
Para ter mais segurança no novo empreendimento, o corretor dividiu as atribuições com a esposa e o pai. Carla deixou a profissão de publicitária para se dedicar à supervisão da sorveteria. "No começo gera aquele medo, mas é tranquilo, ainda mais trabalhando em família, tem a confiança" diz a empresária.
Campo Grande (Foto: Reprodução/TV Morena)
O pai, Júlio Akira Morishigue, que já pensava em pendurar as chuteiras, voltou ao mercado de trabalho como gerente da franquia. "Foi bem diferente, porque no outro serviço não lidava tanto com o público. Passar de mecânica para sorveteria é difícil", diz.
Marido virou padeiro
Danielle Cristina Nogueira Rocha encontrou a oportunidade de um bom negócio na padaria do pai. Formou-se em administração de empresas, e atualmente ajuda José Carlos a coordenar o empreendimento. "Aprendi toda a estratégia da padaria e resolvi entrar de cara", conta a filha.
Júlio César Ribeiro da Rocha é marido de Danielle e assumiu a responsáveis pela produção de pães. Ele faz entregas e também ajuda no balcão. "Quando entrei, não entendia nada de pão. Aprendi a fazer com minha esposa", relata o padeiro.
Há onze anos, a empresa começou com mão de obra 100% doméstica. José Carlos Nogueira deixou a profissão de bancário para investir no próprio negócio. "Para o ano, criamos objetivos de crescimento e metas de como chegar lá", explica.
Sinal amarelo
A consultora do Sebrae-MS, Andrea Gregório, afirmou ao G1 que há vantagens em uma micro ou pequena empresa gerida por um núcleo familiar, no entanto, é preciso tomar alguns cuidados para que o negócio tenha sucesso.
“Antes de abrir um empreendimento familiar, é preciso definir as funções de cada um dentro do negócio. Se isso não acontece, todo mundo começa a dar ordens, a achar que as coisas devem ser feitas dessa ou daquela maneira e aí o negócio começa a entrar em crise”, afirmou Gregório.
Ela lembrou, ainda, que problemas pessoais, pequenas e discussões devem ser mantidas longe do negócio. “A empresa não pode ser o quintal de casa”, enfatizou.
Outra dica da consultora é a capacitação constante dos familiares que trabalham no empreendimento para garantir uma gestão cada vez mais profissional. “Cursos, consultorias e capacitações podem a ajudar a transformar a administração da empresa algo sério e consolidado”.