A cidade de Ribeirão Preto, a 313 km de São Paulo, está em guerra contra a dengue. O município registrou em janeiro deste ano 614 casos da doença, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. Há também o registro de uma morte suspeita. O temor das autoridades é que, assim como em 2010, haja uma epidemia.
No ano passado, em todo o estado de São Paulo houve 187.707 casos de dengue, 138 deles com mortes, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde. Em 2010, Ribeirão foi a cidade paulista com o maior número de doentes – 29.949. Nove desses pacientes morreram.
Apesar da quantidade de casos registrados no primeiro mês deste ano, o número é consideravelmente menor do que o registrado em igual período em 2010, quando 1.604 pessoas pegaram dengue (veja tabela abaixo com números de outras cidades).
Cidade | Casos em 2010 (total) | Casos em janeiro de 2010 | Casos em janeiro de 2011 |
---|---|---|---|
São Paulo | 7.489 | 179 | 61 |
Ribeirão Preto | 29.949 | 1.604 | 614 |
S. José do Rio Preto | 25.021 | não divulgado | 8 |
S. José dos Campos | 510 | 1 | 1 |
Guarujá | 9.386 | não divulgado | nenhum |
De acordo com a diretora do Departamento de Vigilância em Saúde do município, Maria Luiza Santa Maria, o combate ao mosquito transmissor da doença, o Aedes aegypti, foi intensificado nos últimos meses. “Os agentes em saúde vão quinzenalmente a 578 pontos estratégicos espalhados na cidade, como borracharias e casas abandonadas.”
Nas visitas, os funcionários aplicam larvicida em ralos e calhas e retiram possíveis criadouros, como pneus, pratos de vasos e garrafas. Os moradores também recebem orientações sobre como evitar o surgimento de novos focos da dengue. Em regiões onde houve casos positivos da doença, os agentes aplicam praguicidas nas casas.
Ainda segundo a diretora, a integração entre as secretarias – principalmente com a de Assuntos Jurídicos – é outro fator que merece destaque na guerra contra o mosquito transmissor. Funcionários da Coordenadoria de Limpeza Urbana, por exemplo, intensificam a limpeza de bueiros e retirada de entulho espalhado pela cidade.
A pasta jurídica teve papel fundamental no último ano. “Entramos com ações em casas abandonadas e terrenos em que não nos deixaram entrar”, afirmou Maria Luiza. As multas chegam a R$ 5 mil.
Apesar de todo esse trabalho, a expectativa da secretaria é que os casos da doença aumentem nos próximos meses. Historicamente, a maior parte dos registros ocorrem em abril –nesse período no ano passado, 9.143 pessoas ficaram doentes em Ribeirão.
Medo
dengue (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)
Apesar do trabalho da prefeitura, os moradores de Ribeirão temem a dengue. “Tenho medo de morrer. Por isso, não deixo água parada no meu quintal. Mas sempre tem perigo do mosquito aparecer”, afirmou o aposentado Joviano Francisco dos Santos, de 75 anos.
A cabeleireira Adriana Mora Penteado, de 37 anos, trabalha em um salão no bairro Castelo Branco, o mais afetado pela dengue neste ano. Até o dia 9 de fevereiro, 235 pessoas pegaram dengue na região. Para evitar que o mosquito apareça, ela toma diversas providências, como guardar latas e garrafas em sacolas fechadas e permitir que os agentes da Secretaria da Saúde façam vistorias no imóvel. “O problema é que tem muito terreno abandonado. De que adianta eu ter todo esse trabalho perto daqui os mosquitos têm lugar livre para viver?”
Também preocupado, o aposentado Sebastião Manuel de Paulo, de 54 anos, afirmou que faz tudo certo. “Não deixo vasilha de boca para cima. Tenho algumas garrafas para cima, mas vou retirar logo. Espero que não pegue dengue. Tenho medo.”
Dicas
Especialistas ouvidos pelo G1 deram algumas dicas de como prevenir, de forma fácil e rápida, o surgimento do Aedes aegypti. Pneus devem ser mantidos protegidos da água da chuva; caso isso não seja possível, a orientação do Centro de Controle de Zoonoses de Ribeirão é que seja colocado um copo de sal (cerca de 200 ml) dentro de cada câmara.
Bebedouros de animais devem ser lavados semanalmente com esponja, sabão e água. “As ovas podem ficar escondidas no recipiente”, disse a agente de controle de vetores Elaine Polin. Pratos para plantas devem ser furados para escoar a água. Garrafas não podem ficar com o bocal para cima.
Criadouros naturais merecem cuidado especial. “O pessoal às vezes dá mais atenção a pratos e garrafas”, afirmou a também agente de controle de vetores Cristina Fantinati. Plantas que acumulam água, como bromélias e bananeiras, precisam receber jatos de água semanais para retirar possíveis ovas. Troncos ocos de árvores devem ter seu interior preenchido com areia ou cimento.
O combate ao Aedes aegypti no município depende da colaboração dos moradores, segundo a diretora Maria Luiza. “Aqui, 80% dos vetores estão nas casas. Não basta a ação do Estado. É preciso que a população colabore.”