Economia brasileira acelera e chega ao maior nível desde 1996
A economia brasileira acelerou e chegou ao maior nível desde 1996. De abril a junho, o crescimento foi de 1,4% - acima das projeções. Esse resultado positivo ocorreu em muitos setores da economia. E outra notícia boa: os investimentos contribuíram para esse desempenho.
Uma vida dedicada à necessidade de crescer. Carlos Eduardo, o Cadu, é o primeiro da família a entrar na universidade. Ele está quase terminando a faculdade de psicologia e conseguiu, em 2024, um emprego em uma empresa que é uma gigante da tecnologia.
"Com certeza, uma oportunidade que está me dando muito crescimento profissional e pessoal. A cada dia, eu cresço de uma forma diferente com os desafios que são propostos aqui. Eu tenho muita oportunidade diariamente de poder crescer”, conta Carlos Eduardo França Costa da Rocha, assistente de relações humanas.
Crescimento, desafios, oportunidade. As palavras do Cadu são um reflexo do comportamento da economia no segundo trimestre de 2024. Muita gente achou que a tragédia no Rio Grande do Sul pudesse puxar o resultado geral do PIB para baixo, mas a capacidade de se adaptar a situações de muito estresse foi maior, e a economia brasileira cresceu 1,4% no segundo trimestre em comparação com o primeiro. É o melhor resultado desde o quarto trimestre de 2020.
Em um ranking de 50 países, perdemos apenas para o Peru e empatamos com a Arábia Saudita e a Noruega, e ficamos acima de potências como Japão, China e Estados Unidos. O resultado surpreendeu.
PIB ranking - 2º trimestre de 2024 — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
"A gente esperava um número mais próximo de 1%, tinha 0,9%, mas poderia ser até 1%. Mas 1,4%. E lembrando que no primeiro trimestre já tinha todo um resultado surpreendente, ou seja, uma aceleração em relação ao primeiro trimestre deste ano. E, quando a gente olha no ano como um todo, estamos indo para um PIB no semestre de quase 3%. Então, mesmo com alguma desaceleração no segundo semestre, é um crescimento muito forte”, afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre.
Vamos olhar agora o comportamento de cada setor. Pela ótica da produção, a indústria conseguiu o melhor desempenho. Em segundo lugar, o setor de serviços. A agropecuária foi o único destaque negativo - queda de 2,3%. Pela ótica da despesa, os destaques são o consumo das famílias, o consumo do governo e a formação bruta de capital fixo, que indica o quanto as empresas investiram para aumentar sua produção. No setor externo, as importações de bens e serviços são mais um sinal desse investimento e superaram as exportações.
Vamos dar uma olhada dentro do ramo de serviços, que é o que mais emprega no país e que ajudou muito o PIB a ter esse resultado positivo. Depois das atividades financeiras e seguros, a área de informação e comunicação foi a que mais contribuiu para o crescimento do setor de serviços. E as empresas de tecnologia fazem parte dessa área. Aliás, se olharmos o acumulado do ano, o setor de informação e comunicação cresceu quase o dobro do PIB.
O presidente da empresa de tecnologia diz que a companhia teve um aumento de receita de 20% só em 2024.
"A gente tem visto nossos clientes, em diferentes segmentos da economia, em diferentes portes mesmo de operação, com uma demanda muito aquecida do ponto de vista de tecnologia. Então, isso tem acontecido não só nesse segundo trimestre, mas ao longo do ano inteiro”, diz Dennis Herszkowicz, presidente da Totvs.
Para terminar, vamos entender com a Silvia Matos, pesquisadora da FGV Ibre, os motivos do crescimento.
"Mesmo com a política monetária apertada, tivemos um mercado de trabalho ainda bem forte, com aumento salarial. Então, isso é renda para as famílias. E, por outro lado também, o governo continuou com o processo de transferência de renda, através do Bolsa Família, através da Previdência. Isso aumentou o poder de compra das famílias, isso se refletiu em um consumo mais forte", diz.
O agro encolheu 2,9% na comparação com 2023 e 2,3% de um trimestre para o outro. — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Investimentos
As colheitadeiras do agro já estiveram mais cheias em trimestres anteriores. O agro encolheu 2,9% na comparação com 2023 e 2,3% de um trimestre para o outro. Quando atravessa o milharal no Mato Grosso do Sul, o produtor rural Marcelo Monteiro tem certeza que não colheu o que plantou.
"Algumas espigas estão bem comprometidas, com o tamanho bastante reduzido e com o peso de grão praticamente nulo. Isso faz com que a produtividade seja bastante diminuída. Então, hoje, o milho está se pagando e praticamente não ganhando nada”, diz.
O prejuízo caiu do céu. Ondas de calor e seca alternadas com chuvas torrenciais afetaram a produtividade do campo em todo o país. A conta da tragédia no Rio Grande do Sul aparece pequena no balanço nacional. É que a ação do governo, somada à das pessoas, levou a uma rápida recuperação do estado.
"Se a gente pegar no Sul, foi excesso de chuva. Se a gente pegar, por exemplo, o Centro-Oeste, a gente teve excesso de chuva na época do plantio, o que fez com que esse plantio fosse postergado, o que fez com que o rendimento das lavouras fosse menor pela falta de chuva e pelo excesso de calor. Tudo isso afetou a capacidade de produtividade das lavouras, fazendo com que o volume colhido por área fosse menor, fazendo com que o total de volume produzido fosse menor do que comparado ao ano anterior"”, explica André Diz, professor de economia do Ibmec SP.
Mas fez calor também dentro das fábricas. A indústria cresceu 1,8% no trimestre e 3,9% na comparação com 2023. É o destaque do PIB. No segundo trimestre, o setor industrial voltou a aparecer na cena da economia, superou até o setor de serviços e mostrou que tem capacidade instalada para ajudar a economia brasileira a crescer.
De lá também saiu outro dado que chamou a atenção: a alta do investimento. É como uma máquina que acaba de chegar na fábrica. Quanto mais investimento, mais produtividade, e isso vai tecendo uma atividade econômica forte também no futuro.
A Formação Bruta de Capital Fixo cresceu 5,7% no segundo trimestre de 2024 em relação ao mesmo período de 2023.
"Nenhuma indústria pode parar de investir, independente da situação. Se ela para de investir, ela fica obsoleta. Então, é esse o pensamento que a gente tem”, diz o empresário Renato Bitter.
A taxa de investimento de 16,8% do PIB segue abaixo do pico registrado em 2013 - 21,1% do PIB.
"Uma série de fatores levou a esse resultado positivo. De fato, a gente tem a economia de uma forma mais diversificada crescendo. Embora seja verdade que concentrada em alguns segmentos industriais. A renda do brasileiro está melhor. Isso gera consumo, isso gera demanda. E, obviamente, alguns setores como, por exemplo, máquinas e equipamentos, veículos pesados, linha branca - que é geladeira, fogão - passam a ter uma demanda e uma situação melhor”, afirma Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp.
Repercussão
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou o resultado do PIB.
"Agora, nós vamos provavelmente reestimar o PIB para o ano, que deve, pela força com que ele vem se desenvolvendo, superar aí 2,7%, 2,8%. E há instituições que já estão projetando um PIB superior a 3%. Isso pode inclusive ensejar uma reprojeção das receitas para o ano que vem, se continuar forte como está”, afirmou.
Haddad continuou:
“Nós temos que olhar muito para o investimento, porque é ele quem vai garantir o crescimento com baixa inflação. Se nós não aumentarmos a nossa capacidade instalada, vai chegar o momento que nós vamos ter dificuldade de crescer sem inflação. Mas agora, com aumento do investimento... Algumas indústrias ainda estão com muita margem para crescer produção, mas isso não diz respeito à economia como um todo. Tem setores que já estão expirando tensão, e os investimentos vão ter que acelerar para que não haja gargalo na oferta”.
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