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Por Jornal Nacional


Dirigentes de empresas de ônibus em São Paulo são presos suspeitos de lavar dinheiro para o tráfico de drogas

Dirigentes de empresas de ônibus em São Paulo são presos suspeitos de lavar dinheiro para o tráfico de drogas

Uma megaoperação comandada pelo Ministério Público de São Paulo prendeu dirigentes de duas empresas ônibus, que operam na capital paulista, acusados de lavar dinheiro para o tráfico de drogas.

A polícia precisou usar a força para entrar no apartamento de um dos investigados. Quatrocentas e vinte pessoas participaram da ação, o maior efetivo já mobilizado em uma operação dos promotores de São Paulo.

Durante toda a manhã, policiais militares, promotores de Justiça e auditores da Receita Federal cumpriram os 52 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça. Agentes do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade, também participaram. A força tarefa apreendeu computadores, celulares, um cofre com dinheiro, droga, munição e várias armas - são pistolas, uma submetralhadora e fuzis.

A Operação Fim da Linha é resultado de cinco anos de investigação. O Ministério Público paulista disse que reuniu evidências de que a facção criminosa Primeiro Comando da Capital, o PCC, estava infiltrada no transporte coletivo da maior cidade do país. A Transwolff, da Zona Sul, e a Upbus, da Zona Leste, transportam juntas cerca de 700 mil passageiros por dia.

A Transwolff existe desde 2019, tem 1,1 mil veículos e opera em mais de 100 linhas em nove terminais da Zona Sul. Em 2023, recebeu R$ 748 milhões da Prefeitura de São Paulo como remuneração pelo contrato de prestação de serviço. E a Upbus, que está em operação há dez anos, tem 138 veículos e opera em 13 linhas em quatro terminais da Zona Leste. Em 2023, recebeu R$ 81 milhões da prefeitura.

O promotor de Justiça Lincoln Gakiya explicou que o envolvimento do PCC em um serviço público essencial, como o transporte público, revela uma nova face do crime organizado.

“O que nos preocupou bastante nessa operação foi que a facção já tem tomado contornos de máfia. E por ser uma organização criminosa que está tomando contornos de uma organização de matiz mafiosa, ela também tem como uma de suas características principais a infiltração nos poderes do Estado. Infelizmente, nesse caso, nos verificamos, em que pese não ter havido... Não detectamos nenhuma omissão por parte do poder público municipal, mas detectamos que eles estão participando de serviço público na disputa e licitação de serviço público essencial”, diz.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, comentou sobre a operação desta terça-feira (9).

“A gente teve uma grande operação hoje, combatendo a lavagem de dinheiro do crime organizado no serviço de transporte coletivo, que é uma máxima, acho que todo mundo tinha, no imaginário, que eram coisas que aconteciam, mas ninguém mexia, ninguém avançava e a gente está avançando no dia de hoje nesse sentido”, disse.

Seis pessoas foram presas: o dono da Transwolff, Luiz Carlos Efigênio Pacheco; Robson Flares Lopes Pontes, representante legal da Transwolff; e Joelson Santos da Silva, de um escritório de contabilidade. O sócio da Upbus, Silvio Luis Ferreira, o Cebola, está foragido. Outras três pessoas que não eram procuradas foram presas em flagrante por porte ilegal de arma.

Além das prisões, o Ministério Público conseguiu uma ordem da Justiça para afastar toda a cúpula das duas empresas. A partir de agora, a Transwolff e a Upbus estão sob intervenção da Prefeitura de São Paulo. Os promotores avaliam que essa medida vai garantir que a população não seja prejudicada pela interrupção do serviço e, ao mesmo tempo, impede que os suspeitos continuem recebendo dinheiro público.

Histórico

A suspeita de que o crime organizado estava infiltrado no transporte coletivo de São Paulo surgiu na década de 1990, quando perueiros clandestinos faziam os trajetos dentro dos bairros.

Em 2003, a Prefeitura de São Paulo transferiu a operação do transporte coletivo para a iniciativa privada. As linhas mais extensas ficaram com as empresas de ônibus que já operavam na capital paulista. Os trajetos mais curtos passaram para cooperativas criadas por esses perueiros. Segundo o Ministério Público, nessa época, grupos criminosos já faziam parte de algumas dessas cooperativas.

Uma delas era a Cooperpam, que, anos depois, acabou virando uma empresa, a Transwolff, um dos alvos da investigação desta terça-feira (9).

Quando os contratos terminaram, em 2013, a Prefeitura de São Paulo abriu uma nova licitação, contestada pelo Tribunal de Contas do Município de São Paulo. Diante do impasse, o município assinou contratos de emergência com todas as empresas - incluindo a Transwolff.

Um dos donos da empresa é Luiz Carlos Pacheco, preso na operação desta terça-feira (9). Os promotores verificaram que, até 2008, ele não declarou nenhum bem no Imposto de Renda. De repente, passou a movimentar muito dinheiro. Segundo a investigação, mais de R$ 14 milhões passaram pelas contas bancárias dele entre 2020 e 2021.

A outra empresa alvo da operação deste terça-feira é a Upbus, que transporta passageiros na Zona Leste da capital. Os promotores dizem que a empresa está envolvida com o crime organizado desde 2010. Alguns integrantes da facção criminosa não se preocupavam sequer em esconder suas identidades. Ao analisar os sócios da Upbus, promotores encontram os nomes de traficantes de drogas e ladrões de banco conhecidos, que declaravam, no papel, que eram sócios da empresa.

Entre eles estava Anselmo Santa Fausta, assassinado em dezembro de 2021, em meio a uma disputa interna do PCC. Segundo o MP, os integrantes da quadrilha se valiam da Transwolff e a Upbus para lavar dinheiro do tráfico de drogas. Os criminosos usavam os nomes de laranjas para esconder os verdadeiros donos das empresas, e contadores se encarregavam de maquiar as transações financeiras para não levantar suspeitas das autoridades.

Segundo as investigações, o PCC colocava dinheiro do crime nas duas empresas de ônibus, que voltava em forma de lucro e investia esse dinheiro em outras empresas.

A superintendente da Receita Federal em São Paulo, Márcia Cecília Meng, explicou que, entre 2020 e 2021, as duas empresas lucraram com o esquema cerca de R$ 732 milhões.

“Essas empresas acabam conseguindo uma robustez financeira que faz parecer aos órgãos públicos que são empresas que têm condição de dar andamento à prestação de serviços públicos e competem de forma desigual com outras empresas que não tem a injeção desse dinheiro que não é lícito”, explica.

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, afirmou que nem fornecedores, nem os passageiros serão prejudicados.

“Nós estamos assumindo a administração e os fornecedores podem continuar fornecendo para a gente poder manter o serviço com qualidade. A nossa preocupação maior agora é que a intervenção possa garantir a continuidade dos serviços”, afirmou.

Na noite desta terça-feira (9), o Ministério Público de São Paulo ofereceu denúncia contra 28 dirigentes e pessoas ligadas às empresas Transwolf e Upbus por organização criminosa e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

O Jornal Nacional não conseguiu contato com as defesas de Luiz Carlos Efigênio Pacheco, Robson Flares Lopes Pontes e Joelson Santos da Silva.

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