Um ano após o 8 de janeiro, cerimônia no STF celebra a força das instituições
O 8 de janeiro motivou duas cerimônias, em Brasília, nesta segunda-feira (8). A primeira, no STF - Supremo Tribunal Federal.
Há exatamente um ano, extremistas tentaram atingir um dos principais símbolos da democracia. A sede do poder Judiciário, restaurada semanas depois da depredação, preservou marcas do vandalismo.
Os ministros ressaltaram que a reação imediata do STF - Supremo Tribunal Federal foi fundamental para demonstrar a força das instituições na defesa da democracia e estabelecer que, apesar dos violentos ataques, a democracia seguiu inabalável.
Nesta segunda-feira (8), no hall dos bustos, os presentes ouviram uma gravação com o áudio da ação dos vândalos.
Já no plenário, o presidente do Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, agradeceu a presença dos presidentes dos outros Tribunais Superiores, integrantes do Judiciário, Ministério Público, AGU, OAB e outras autoridades. Também estavam presentes os ministros aposentados Ayres Britto, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber - que era presidente da Corte na época.
Na sequência, Barroso convidou os presentes a assistirem a um vídeo sobre ação dos golpistas. Todos os integrantes da Corte deram depoimentos. Eles afirmaram que a data que não pode ser esquecida, que a democracia no Brasil está consolidada e que as instituições não irão tolerar novos episódios como esse.
Um ano após o 8 de janeiro, cerimônia no STF celebra a força das instituições na defesa da democracia — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução
Em seguida, o presidente do STF falou. Ele dividiu o discurso em três partes: a destruição, a reconstrução e a pacificação. Barroso relembrou o momento em que viu o plenário destruído, criticou duramente os vândalos, a quem chamou de "aprendizes de terroristas", e disse que não é esse o Brasil que queremos.
"Estamos aqui para manter viva a memória desse episódio que remete ao país que não queremos. O país da intolerância, do desrespeito ao resultado eleitoral, da violência destrutiva contra as instituições. Um cenário de barbárie, motivado por uma animosidade que foi artificialmente cultivada por anos a fio. Extremistas que não velam pelas instituições, que não respeitam as pessoas, que não cultivam os valores da civilidade e da harmonia social. Vivem de inventar inimigos. São quixotes do mal. Falsos patriotas que não respeitam os símbolos da pátria. Falsos religiosos que não cultivam o bem, a paz e o amor. Desmoralizaram Deus e a bandeira nacional. O que assistimos aqui foi a mais profunda e desoladora derrota do espírito. Em uma espécie de alucinação coletiva, milhares de pessoas - aparentemente comuns, insufladas por falsidades, teorias conspiratórias, sentimentos antidemocráticos e rancor - foram transformadas em criminosos, aprendizes de terroristas. Estão sendo todos processados, na forma da Lei, pelos crimes que cometeram: tentativa de golpe de Estado, de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e a depredação do patrimônio público, entre outros delitos. Tratar com condescendência o que aconteceu é dar um incentivo para que os derrotados da próxima eleição, sejam quem forem, também se sintam no direito de depredar os prédios das instituições públicas. Nós estamos aqui para evitar que isso aconteça de novo".
Barroso também agradeceu ao trabalho para a reconstrução da Corte, em especial da então presidente do STF, ministra Rosa Weber, e falou que é preciso respeitar as diferenças e pacificar o país.
"Quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, mas meu parceiro na construção de uma sociedade aberta, plural e democrática. A verdade não tem dono. Existem patriotas autênticos com diferentes visões de país. Ninguém tem o monopólio do amor ao Brasil. Precisamos viver a verdadeira pacificação da sociedade, em que pessoas que pensam de maneira diferente possam se sentar à mesma mesa e conversarem, com respeito e consideração, sem ofensas ou desqualificações, em busca das melhores soluções para um país melhor e maior. O Brasil merece".
Em seguida, Barroso passou a palavra à ministra Rosa Weber, a quem chamou de "grande heroína da reconstrução do plenário". A ministra falou sobre as repercussões do 8 de janeiro.
"Esse sentimento de tristeza profunda, de desconsolo e de indignação se transformou paulatinamente em satisfação e energia diretamente proporcionais diante da reação e da resistência das instituições democráticas, em uma prova incontestável de que a autoridade das instituições democráticas não está nos prédios, apesar da simbologia, e sim no espírito que as anima. Oito de janeiro de 2023 há de constituir sempre, para mim, o dia da infâmia, mas com uma dupla face. E a outra face é o dia da resistência da democracia constitucional que restou inabalada. Por isso, eu repito e continuarei sempre a fazê-lo: há de ser sempre relembrado - como hoje estamos fazendo aqui - para que ele jamais se repita. É preciso cultivar o jardim da democracia na defesa intransigente no fortalecimento das instituições democráticas".
Antes de terminar, o presidente do STF ainda fez um agradecimento à imprensa.
"Muito especialmente, faço esse registro, o papel que a imprensa livre, plural e democrática desempenha hoje no Brasil e aqui representada por alguns dos profissionais mais qualificados", disse Barroso.
Os convidados visitaram ainda a exposição dos painéis com fotos do antes e do depois e do trabalho de reconstrução do prédio.
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