Ativista iraniana Narges Mohammadi ganha Nobel da Paz
A ativista iraniana Narges Mohammadi ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Foi em reconhecimento a luta dela contra a opressão das mulheres no Irã e em prol de direitos humanos e liberdade para todos.
A vencedora do Nobel da Paz talvez nunca veja a cor da medalha. Narges Mohammadi está na cadeia. Ao todo, já foi presa 13 vezes, somando uma condenação de 30 anos de prisão e 154 chicotadas.
Faz décadas que ela incomoda as autoridades do Irã. Mais recentemente, mesmo da cadeia, liderou os protestos contra a opressão do atual regime depois da morte da jovem Mahsa Amini, presa por "uso incorreto" do véu islâmico - obrigatório no país. Amini tinha deixado uma mecha do cabelo aparecer. Morreu na prisão. O governo iraniano disse que foi por causa de uma doença. A família denunciou espancamento.
Por essa e muitas outras mulheres que Narges Mohammadi luta. Ela representa um movimento cujo lema é "Mulher, vida, liberdade" e é vice-diretora do mesmo grupo de defesa dos direitos humanos de outra iraniana ganhadora do Nobel há exatos 20 anos, a advogada Shirin Ebadi. Hoje vivendo no exílio em Londres, Ebadi disse que espera que esse prêmio leve à libertação de todos os prisioneiros políticos no Irã.
O marido de Narges Mohammadi disse que o Nobel da Paz vai dar ainda mais coragem à esposa. O filho dela ficou todo orgulhoso da mãe.
"Eu sabia que minha mãe tinha ganhado o Nobel da Paz e eu não podia gritar na aula. Fiquei muito feliz. E esse prêmio não é só para a minha mãe, é pela luta, pela mulher, pela vida e pela liberdade", comemorou ele.
Em um comunicado, a vencedora do prêmio prometeu continuar no Irã, mesmo que isso signifique passar o resto da vida na prisão.
Com o prêmio desse ano, o Comitê do Nobel disse que "reconhece o trabalho de centenas de milhares de pessoas que se manifestaram contra as políticas de discriminação e opressão do regime iraniano”. O comitê falou também que espera que as autoridades do Irã tomem a decisão correta e libertem Mohammadi para que ela possa receber o prêmio, em mãos, na cerimônia marcada para dezembro de 2023.
Nobel da Paz renova a energia das ativistas que lutam pelos direitos humanos
Dentro e fora do Irã, o Nobel da Paz de Narges Mohammadi renovou a energia das ativistas que lutam pelos direitos humanos. Leila Abdollahi é filha de iranianos e lembra que, além de Narges, milhares de outras mulheres estão presas por protestarem.
“Mohammadi demonstra um nível de coragem e bravura que nenhum de nós no Ocidente consegue compreender. Ela não tem medo. Na verdade, acho que o regime iraniano que tem medo dela”, afirma a ativista.
Uma das principais bandeiras de Narges Mohammadi é ser contrária às sanções econômicas impostas ao Irã. A jornalista iraniana radicada nos Estados Unidos, Azadeh Moaveni explica por quê:
"As sanções nunca ferem as lideranças. As sanções prejudicam a classe média e a classe trabalhadora. E a elite prospera com as sanções e o isolamento do povo. Uma população isolada do resto do mundo é uma população enfraquecida”, diz.
Ao mesmo tempo em que celebraram o prêmio desta sexta-feira (6), essas iranianas afirmaram que a ditadura religiosa do país nunca foi tão violenta contra as mulheres. O exemplo mais recente aconteceu na semana passada. Uma adolescente de 16 anos entrou no metrô de Teerã tranquilamente, sem o hijabe cobrindo os cabelos, e saiu do trem em coma.
Armita Geravand entrou sozinha na estação e no trem. Segundos depois, várias mulheres a ajudaram a sair dali desacordada. A televisão estatal iraniana divulgou apenas algumas imagens, e nenhum registro de dentro do vagão. O governo alegou que Armita simplesmente caiu de cabeça no chão. Testemunhas contaram que ela foi agredida por agentes da polícia de moralidade.
"Sabemos que há filmagens, há testemunhas que podem falar da violência que ela enfrentou. Sabemos que a mãe dela foi presa enquanto ela estava no hospital em coma. Então, sabemos o suficiente", afirma Leila Abdollahi.
Sabe-se, também, que mesmo com a violência contra as mulheres, o equilíbrio de poder nas ruas do Irã mudou.
"Quando vemos em uma escola na parte mais conservadora do Irã e todas as meninas saírem no final do dia e fazerem isto, tirar o hijabe na rua, é uma mudança profunda. Eu penso que a coragem e a disposição das mulheres de se apoiarem e mudarem a realidade diária delas é algo extraordinário”, diz a jornalista e escritora Azadeh Moaveni.
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