Família com roupa do candomblé acusa motorista de aplicativo de preconceito religioso — Foto: Reprodução/JN
No Rio de Janeiro, uma família está acusando um motorista de aplicativo de intolerância religiosa.
O carro chega e a dona de casa Vera Lúcia Macedo da Rocha é a primeira a abrir a porta para entrar no banco da frente. Segundo ela, até então, o motorista não esboçou nenhuma reação.
A família contou que a recusa em fazer a corrida começou no momento em que ele viu as outras pessoas com trajes do candomblé. As netas de Vera, de 8 e 13 anos, e a nora, Taís, estavam indo para uma festa religiosa.
“Quando ele viu que minha nora e as meninas estavam com a roupa se aproximando do carro, não deixou. Olhou para as meninas de cima a baixo e não deixou. E eu achei que isso foi um preconceito grande”, conta Vera Lúcia Macedo da Rocha.
Com a recusa do motorista, começa uma discussão. As crianças ficam sem saber se entram ou não no carro. Nesse momento, no áudio da câmera de segurança, é possível perceber trechos de uma discussão, com a família dizendo que três passageiras poderiam ir ao banco de trás. A discussão segue por mais algum tempo. Até que, gesticulando pela janela, o motorista, arranca com carro.
“Um constrangimento, um preconceito nunca vivido. Foi doído e ainda foi mais doído de ter que entrar e ver ela não querendo entrar em outro carro com medo de o motorista se recusar de deixar a gente entrar por conta da nossa religião, por conta da nossa fé”, lamenta a comerciante Taís da Silva Fraga.
A família foi até a polícia e registrou a ocorrência, que vai ser investigada pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. Depois de analisar as imagens da câmera de segurança, os policiais estão tentando localizar o motorista e ouvir a versão dele sobre os fatos.
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Desde o início de 2023, uma nova lei tornou mais severas as penas para os crimes de intolerância religiosa. As penas agora vão de 2 a 5 anos de reclusão. Segundo o Ministério dos Direitos Humanos, os ataques contra religiões de matriz africana aumentaram 45% em 2022, em relação aos últimos dados disponíveis, de 2020.
“Se eu tiver que pegar um Uber com a minha roupa, vou pegar. Se eu tiver que sair para fazer alguma coisa, vou continuar saindo. E seu eu tiver que reportar às autoridades, vou continuar reportando, como todo mundo deve fazer para a gente tentar acabar com esse preconceito”, afirma Taís.
A Uber afirmou que a opção selecionada pela família acomoda até quatro pessoas, uma no banco da frente e três atrás. A empresa afirmou que não tolera qualquer forma de discriminação; e que desativou a conta do motorista enquanto aguarda as investigações.