Apagão de dados do Ministério da Saúde completa um mês
Um mês depois de sofrer um ataque hacker, o sistema do Ministério da Saúde continua instável e desatualizado. Cientistas não conseguem estimar a exata gravidade da pandemia no Brasil.
O pesquisador Diego Ricardo Xavier tentou entrar na tarde desta segunda-feira (10) em bancos de dados do Ministério da Saúde. Novamente, esbarrou com o apagão que já dura um mês.
“Vou até dar um ‘refresh’ na página... Não, a gente não tem acesso aos dados”, mostrou.
O trabalho dele depende do site OpenDataSUS, que continua fora do ar. Em meio ao rápido avanço da ômicron, ele teme a falta de informações sobre o impacto da doença nas crianças.
“Não ter essa informação por faixa etária para criança, a gente não sabe como a doença está se comportando nessas faixas etárias. Isso é preocupante. E tudo isso vai trazer sim, infelizmente, um prejuízo mais a frente”, afirma Diego Ricardo Xavier.
No Painel Coronavírus do ministério, o número de óbitos, por exemplo, ainda é referente a 9 de dezembro. Já o LocalizaSUS, que reúne dados sobre vacinação, também está defasado. E o aplicativo ConecteSUS não registra as vacinas que muitos brasileiros tomaram contra a Covid-19.
“Eu e meu marido tomamos a dose de reforço da vacina anti-Covid aqui no Rio de Janeiro, no dia 27 de dezembro de 2021 e, até agora os dados não foram atualizados no ConecteSUS”, conta Anne Lobato, supervisora de comércio exterior.
Um problema que começou ainda antes do apagão.
"Tomei a primeira e segunda dose em fevereiro e março de 2021. A gente já está em 2022 e, até agora, nenhuma informação minha aparece no ConecteSUS. Nem da primeira, nem da segunda, nem da dose de reforço”, afirma o produtor Luis Paulo Beltrão.
Pesquisadores dizem que, sem acesso aos bancos de dados, fica muito mais difícil adotar medidas para enfrentar a pandemia. Um mês depois do ataque hacker ao Ministério da Saúde, médicos, enfermeiros e outros profissionais ainda encontram o sistema instável ou fora do ar, e ninguém consegue dizer exatamente qual tem sido o impacto da ômicron na saúde da população brasileira.
“A gente não consegue planejar a abertura de novos serviços hospitalares, de centro de testagem, abertura de novos leitos, entender as regiões onde o impacto da nova variante é maior”, enfatiza o infectologista Júlio Croda, pesquisador da Fiocruz.
“A gente não viu a evolução e a chegada da ômicron. Ela não apareceu de repente, no ano novo. Ela entrou ao longo do mês de dezembro e a gente estava completamente em voo cego ali, porque não tinha dado nenhum. A gente não viu os números crescerem”, explica o professor Marcelo Cunha Medeiros.
Fundador do Covid-19 Analytics, o professor Marcelo Medeiros interrompeu o serviço que ajudava autoridades a tomar decisões desde o início da pandemia.
“Inúmeros grupos no Brasil tentando ajudar desde março de 2020, fazendo análises, estatísticas, podendo prover informação não só à população, mas às autoridades, e esses grupos estão todos parados. A gravidade é grande, é voo cego”, reforça.
O Ministério da Saúde informou que quatro de suas plataformas foram restabelecidas ainda em dezembro de 2021. Afirmou que, na sexta-feira (7), normalizou a integração entre os sistemas locais e a rede nacional de dados; e que o retorno do acesso às informações tem sido gradual. Segundo o ministério, a instabilidade no sistema não interferiu na vigilância de síndrome respiratória aguda grave, como a Covid.