A Lava Jato investiga o que pode ser mais um crime da quadrilha chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral: a compra de votos para que o Rio fosse a sede da Olimpíada de 2016. A Operação Unfair Play, que significa jogo sujo, intimou o presidente do Comitê Olímpico do Brasil a depor. Carlos Arthur Nuzman é suspeito de participar diretamente da compra de votos.
Carlos Arthur Nuzman passou quase seis horas na Polícia Federal, mas permaneceu em silêncio. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro há 22 anos foi intimado a depor depois de ter sido acordado pelos policiais em casa. Os investigadores recolheram documentos e encontraram R$ 500 mil em moedas de cinco países.
Segundo o Ministério Público, há fortes indícios de que Carlos Arthur Nuzman teve participação direta na compra de votos de integrantes do Comitê Olímpico Internacional para que o Rio fosse escolhido como sede dos Jogos de 2016.
As investigações apontam que a compra da Olimpíada era parte do esquema de corrupção comandado por Sérgio Cabral, do PMDB. O Ministério Público afirma que o dinheiro da negociação era propina que o ex-governador recebia em um banco no Caribe e veio de uma conta abastecida pelo empresário Arthur Soares Filho. Os procuradores dizem que ele pagava Sérgio Cabral para ganhar contratos com o estado.
“O senhor Sérgio Cabral recebeu, por meio de um banco no país de Antígua e Barbuda, mais de US$ 10 milhões”, afirmou o procurador da República Eduardo El Hage.
O Ministério Público afirma que, em setembro de 2009, Arthur Soares repassou US$ 2 milhões para o senegalês Papa Diack. O dinheiro seria para comprar o voto do pai dele, Lamine Diack, um dos integrantes do COI.
A Justiça determinou a prisão de Arthur Soares, que é considerado foragido. A sócia dele, Eliane Cavalcante, foi presa.
O depoimento de um ex-atleta olímpico brasileiro foi importante para investigação. Eric Walther Maleson deu informações sobre a suposta compra de votos africanos pelos envolvidos na candidatura do Rio.
Ele disse que, em julho de 2009, o secretário especial da prefeitura para a Olimpíada foi para África com Carlos Arthur Nuzman apresentar a candidatura do Rio e que, meses depois, Ruy Cesar Miranda Reis deu a entender que o dinheiro tinha sido pago. O ex-prefeito Eduardo Paes não foi citado.
O juiz Marcelo Brêtas determinou o bloqueio de todos os bens de Carlos Arthur Nuzman. O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro também está impedido de deixar o país.
“Não existem fortes indícios de nada. Ele afirma que não atuou de maneira nenhuma irregular, nada foi feito de errado durante a campanha”, disse o advogado de Carlos Arthur Nuzman, Sergio Mazzillo.
A Justiça determinou o bloqueio de R$ 1 bilhão de cada um dos investigados. A medida é para reparar os prejuízos aos cofres públicos e também à imagem do povo brasileiro, que mais uma vez ficou associada à corrupção.
“As três esferas da federação, município estado e União, traziam a informação e vendiam a ideia de que os jogos trariam um grande desenvolvimento para cidade do Rio de Janeiro. Depois de tantas investigações e denúncias, o que a gente vê é que na verdade os Jogos Olímpicos foram usados como um grande trampolim para o cometimento de atos de corrupção, de dimensão olímpica”, disse a procuradora da República Fabiana Schneider.
O que dizem os citados
A defesa de Sérgio Cabral negou que tenha havido ilegalidades.
O Comitê Olímpico do Brasil disse que não vai se pronunciar sobre a investigação.
O Jornal Nacional não conseguiu localizar as defesas de Ruy Cesar Miranda Reis e de Eliane Cavalcante.
Também não conseguiu contato com os advogados do empresário Arthur Soares Filho.