Francisco no Brasil: uma síntese em três pontos

seg, 29/07/13
por Francisco Borba |
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O Papa Francisco, como bom jesuíta, sempre organiza seus pronunciamentos em três pontos. Nada mais apropriado, portanto, do que procurar sintetizar a mensagem que transmitiu durante sua viagem ao Brasil também em três pontos. Para o bem da verdade, devemos reconhecer que estes três pontos já estavam integralmente presentes no magistério de João Paulo II e Bento XVI, mas sem dúvida faltava alguma coisa: a simplicidade e o despojamento de Francisco criaram uma empatia com o povo e com a mídia que fez com que a mensagem cristã fosse muito mais ouvida e entendida. Mais do que qualquer novidade doutrinal, essa postura é a grande contribuição do papa Francisco à Igreja e à sociedade atual.

1. A força da solidariedade
O aspecto mais marcante da mensagem de Francisco é sua insistência na solidariedade, enquanto compromisso social ao qual todos na sociedade estão chamados, mas também como consequência mais direta e necessária do “seguir a Cristo”. A opção pelos pobres – que sem dúvida alguma é um dos pontos mais importantes da mensagem do Papa – se realiza mais no interior de uma teologia da solidariedade, entendida como um compromisso permanente para com todos que sofrem, do que de uma Teologia da Libertação, entendida como orientação rumo a uma transformação utópica que extirparia o mal da sociedade. Isso não significa abandono nem da dimensão política nem da dimensão revolucionária da fé, mas a compreensão de que o trabalho político para construção do bem comum e a mudança revolucionária são possíveis a partir da vivência radical e integral do amor.

2. O amor e a ética católica
Questões morais ligadas à sexualidade e aos comportamentos na vida privada não estavam entre as prioridades do Papa em sua viagem – fato que não deixa de ser por si só indicativo de uma postura. Porém, no discurso aos bispos latino-americanos no domingo e na viagem de volta a Roma, o Papa fez dois acenos fundamentais para se entender sua postura nestes temas – que são provavelmente os que mais ocupam lugar na mídia quando se fala de catolicismo. Aos bispos, o Papa criticou as demandas dos “católicos iluminados” (liberalização do aborto, casamento homossexual, relaxamento da moral sexual, ordenação de mulheres etc.), considerando que estas vem muito mais de uma ideologia iluminista que dos fundamentos da experiência cristã. Mas também criticou aqueles que procuram uma solução apenas disciplinar para os problemas dos cristãos no mundo moderno.

Qual seria então a posição correta? Na viagem de volta, ele deixa isto claro na referencia aos homossexuais: não cabe à Igreja condenar os homossexuais, mas acolhê-los. “O Catecismo da Igreja Católica explica isso muito bem”, disse. “Ele diz que eles não devem ser marginalizados por causa disso, mas que devem ser integrados à sociedade”. O que a Igreja condena é a ideologia de gênero, que não respeita um dado constitutivo da natureza humana que é a diferença sexual.

Em resumo, o amor e a acolhida à pessoa do outro criam uma postura adequada para discutir a moral católica. Isso não implica numa postura relativista em relação à moral, mas não confia a solução dos problemas morais a uma questão normativa e disciplinar.

3. A conversão à qual a Igreja é chamada
Por fim, o Papa deixou claro que as mudanças que ele quer ver na Igreja – e que valem, ainda que de modos diferentes para bispos, padres e leigos – vão no sentido de ser uma Igreja:

1) Missionária, que sai de si para ir ao mundo, para ficar perto das pessoas. A ação missionária não é um dever moralista, mas sim uma condição para o crescimento da fé pessoal. Como disse aos jovens: “a fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida”. Além disso, como a missão corresponde a um estar junto, o anúncio espiritual de Cristo e a ajuda material aos que sofrem não são excludentes, pelo contrário, andam juntos.
2) Simples e pobre, sem ostentações. Esse discurso é mais forte para bispos e padres, que representam a face pública da Igreja, mas vale para todos os cristãos, que são chamados a não viver na cultura do egoísmo, do individualismo e do desperdício.
3) Comprometida com a construção de uma cultura da solidariedade e do encontro, capaz de gerar pessoas que sejam protagonistas na construção do bem comum.

4 comentários sobre “Francisco no Brasil: uma síntese em três pontos”

  1. PAULO HOLLAND GAIA disse:

    Será que o Papa vai fundar novamente a Igreja Católica? Para tanta reforma em uma estrutura que há milênios faz diferente disto, só começando de novo!

  2. Cléuzio Fonseca Filho disse:

    Perfeita a síntese do sociólogo, resumo muito claro e didático da mensagem do Papa, que no fundo conclamou, com seu exemplo, os católicos a vivermos os ideais do Evangelho, sintetizados na frase de Cristo: Eu vim para servir e não ser servido. É a Igreja de sempre, apresentada em termos atualizados. Parabéns por esse resumo muito oportuno, que vai à essência da mensagem do Papa.

  3. Fabiana Ferreira disse:

    Só através da Cultura da Solidariedade, livre de moralismos mas sim movida pela caridade e pela busca do bem comum, abandonando qualquer atitude que privilegie o “EU” em detrimento do “Nós”… só assim seremos capazes de construir um futuro onde os jovens e os idosos não sejam considerados descartáveis dentro da sociedade!

  4. iarafreitas disse:

    PAPA FRANCISCO È MARAVILHOSO,SOU ESPIRITA KARDECISTA ,PRATICANTE E A FILOSOFIA DELE ENCAIXA PERFEITAMENTE DOUTRINA ESPIRITUAL QUE SIGO.O MUNDO PRECISAVA CONHECER UMA PESSOA ASSIM,ESPIRITUALIZADA 100%.



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