Por Raoni Alves, g1 Rio


Quadra da Portela, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio, entrou na Rota Caminhos do Samba — Foto: Reprodução/TV Globo

No primeiro final de semana depois do Dia Nacional do Samba, que é celebrado no dia 2 de dezembro, o Rio ganhou um novo roteiro turístico. É a Rota Caminhos do Samba, que pretende apresentar para o grande público um passeio gratuito pela história do bairro Oswaldo Cruz e sua forte ligação com o samba.

A iniciativa da Embratur contou com a curadoria do bamba Marquinhos de Oswaldo Cruz, idealizador do Trem do Samba. O sambista selecionou 10 atrações no bairro que vão atrair cariocas e turistas. Só não vai curtir quem for ruim da cabeça ou doente do pé.

Os interessados pelo passeio poderão visitar a pé locais históricos como a Casa de Candeia, o Circo São Jorge, a quadra da Portela, a casa da Tia Doca, a Portelinha, a Feira das Yabás e muito mais. Todo o trajeto contará com suportes de audioguias multilíngues e narrativas históricas acessíveis por QR Codes.

Rota Caminhos do Samba:

  1. Casa de Candeia
  2. Estação Oswaldo Cruz
  3. Circo São Jorge
  4. Casa da Tia Doca
  5. Casa da Dona Ester
  6. Batismo da Portela
  7. Portelinha
  8. Praça Paulo da Portela \ Feira das Yabás
  9. Bar do Nozinho
  10. Quadra da Portela

"O Rio é o principal destino turístico do país. Muita gente vem pra cá por causa do samba, mas as informações sobre as origens deste símbolo do nosso povo não eram acessíveis. Oswaldo Cruz é um museu a céu aberto", comentou o presidente da Embratur Marcelo Freixo.

"Agora você poderá vir aqui e saber quem foi Tia Ciata, Tia Doca, saber que um dia Walt Disney esteve aqui bebendo com Paulo da Portela e tirou deste encontro a inspiração para criar o Zé Carioca. Isso aqui é Brasil na veia", disse Freixo.

O g1 separou alguns dos destaques do roteiro sobre a história do samba em Oswaldo Cruz. Conheça alguns detalhes das atrações.

Casa do Candeia

Casa do Candeia — Foto: Divulgação

A casa que foi do grande sambista e partideiro Antônio Candeia Filho, nascido em 1935, fica na Rua João Vicente, 687. O local atualmente abriga o Mural Negro Muro, uma obra de arte em homenagem ao mestre do samba.

Candeia nasceu e cresceu imerso no samba. Desde pequeno, já era envolvido nas festas da casa de Dona Ester, referência carnavalesca do bairro com o bloco “Quem fala de nós come mosca”.

Aos 17 anos, o sambista emplacou seu primeiro samba-enredo na Portela. Além de compositor, ele também foi policial civil. Seu histórico na corporação o levou a abordar até seus próprios companheiros de samba, como Paulinho da Viola.

São legados de Candeia as músicas: “Preciso me Encontrar” e “Dia de Graça” e sua arte o mantém vivo em todas as rodas de samba e lutas contra o racismo.

Casa da Tia Doca

Casa da Tia Doca — Foto: Divulgação

A Casa de Tia Doca, na Rua Antônio Badajós, 11, é um dos marcos históricos da cultura do samba e da tradição do subúrbio carioca.

Foi no quintal da casa de Jilçária Cruz da Costa, nome de batismo da famosa Tia Doca, que surgiu um pagode que se tornou um dos maiores centros de efervescência cultural a partir de meados dos anos 1970.

Nomes como Zeca Pagodinho, então uma jovem promessa do samba, conviviam com baluartes da Portela. O espaço também servia de abrigo para ensaios da Velha Guarda.

Clara Nunes, Jovelina Pérola Negra, Paulinho da Viola e Dona Ivone Lara eram presenças frequentes nesse legítimo pagode de terreiro.

Batismo da Portela

Dona Martinha e Dona Neném do Bambuzal foram duas lideranças de casas religiosas de matriz afro-brasileira e tiveram um papel fundamental na valorização das raízes africanas e no fortalecimento da comunidade negra no Rio de Janeiro e no Brasil.

Elas promoveram pertencimento e apoio mútuo em Oswaldo Cruz, com muita fé, música e cultura popular. No local foi se criando um ambiente singular de celebração e solidariedade.

Uma dessas figuras marcantes foi Dona Neném, que, junto com Dona Martinha, liderava uma casa reconhecida pelo bambuzal que dominava o terreno. A casa era frequentada por figuras importantes da comunidade, como Paulo da Portela e outros integrantes da escola.

Foi lá que a Portela recebeu seu batismo de santo pelas mãos das mães de santo. Com seu axé, consagrou a escola a Oxum, divindade associada à prosperidade, fertilidade e amor, que no sincretismo é Nossa Senhora da Conceição.

Já a bateria, por sua vez, foi dedicada a Oxóssi, o orixá da caça e da fartura, que no sincretismo é São Sebastião. Essa consagração deixou um legado no ritmo da escola: o toque de caixa da bateria da Portela — hoje conhecida como Tabajara do Samba — é uma saudação a Oxóssi. Esse vínculo simboliza a conexão profunda entre espiritualidade e música.

Praça Paulo da Portela e a Feira das Yabás

Marquinhos de Oswaldo Cruz cantando na Feira das Yabás com Timoneiros da Viola — Foto: Divulgação/ Código Morse Assessoria

Localizada entre duas sedes históricas da Portela — o Bar do Nozinho e a Portelinha — a praça homenageia o grande ícone e fundador da escola Portela, abrigando seu busto, demonstrando o valor histórico e cultural de sua figura para o bairro e todos os bairros do entorno.

Todo segundo domingo de cada mês, este trecho do entorno da praça se torna uma grande Casa de Samba a céu aberto, com barraquinhas de comida de cada tia da Portela e um palco, onde acontece uma celebração que já se tornou Patrimônio Imaterial da cidade: a “Feira das Yabás”.

O projeto idealizado pelo sambista e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz em 2008 vem proporcionando encontros regados à gastronomia de subúrbio ao som de samba, celebrando a cultura popular.

Na feira, o público pode se deliciar com pratos como jiló frito, feijoada, tripa lombeira, frango com quiabo, cozido, vaca atolada e etc.. O samba fica por conta de Marquinhos de Oswaldo Cruz e seus ilustres convidados.

Bar do Nozinho

ALÔ, AMIGOS (1942) - O personagem de Walt Disney Zé Carioca foi apresentado ao público no sexto longa-metragem dos estúdios Disney. O filme teve sua premiére realizada no Rio de Janeiro. Nele, Pato Donald é apresentado ao samba pelo papagaio brasileiro. — Foto: Reprodução

Você pode imaginar o norte-americano Walt Disney, aquele mesmo fundador da Walt Disney Company e criador de centenas de personagens históricos, sentado em uma mesa de bar em Oswaldo Cruz? Pois foi exatamente isso que aconteceu em 1941.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o bar do Nozinho, que funcionava como sede da Portela entre 1930 e 1950, foi palco de um encontro icônico entre Paulo da Portela, outros sambistas renomados como Cartola, e ninguém menos que Walt Disney.

A visita do norte-americano ao Brasil fazia parte da “Política da Boa Vizinhança”, iniciativa dos Estados Unidos para fortalecer laços culturais e políticos com os países da América Latina. Walt Disney e sua comitiva foram levados de Copacabana à Oswaldo Cruz a convite de Paulo da Portela, que queria mostrar de perto o samba e a sua escola do qual tanto se orgulhava.

De acordo com registros da época, Walt Disney ficou encantado com o ritmo, a criatividade e a energia do samba, além da sincronia entre os movimentos da bateria e das danças. Este encontro serviu de inspiração para a criação do personagem Zé Carioca, uma figura que representou o Brasil nas animações da Disney, como no filme “Alô, Amigos” (1942).

Esse episódio exemplifica como o samba desempenhou um papel significativo na difusão da cultura brasileira pelo mundo.

Serviço da Rota Caminhos do Samba:

  • Início do roteiro - Busto de Oswaldo Cruz, na Rua João Vicente, nº 633, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte;
  • Tipo de experiência - Tour a pé;
  • Duração estimada - 2 horas a pé;
  • Nível de dificuldade - Nível leve, não acessível a cadeirantes;
  • O que usar - Roupas leve para caminhadas, calçados confortáveis, protetor solar e chapéu;
  • Parada para banheiro - Bares na Rua Adelaide Badajos, Bares na Praça Paulo da Portela.
  • Passeio gratuito

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