Vagas fantasmas: O que são? Por que empresas utilizam? Como identificá-las?

Vagas falsas podem simular crescimento, criar banco de talentos ou obter mão de obra gratuita. Veja dicas do g1 para identificá-las e como plataformas de recrutamento tentam combatê-las.

Por Rafaela Zem, g1


  • Vagas fantasmas são anúncios de emprego que não existem ou já foram preenchidos, mas que continuam sendo divulgados estrategicamente pelas empresas

  • Elas podem ser usadas para criar falsa impressão de crescimento da empresa, para preencher um banco de talentos e até para conseguir mão de obra não remunerada.

  • O tempo gasto em cadastros, testes e entrevistas que não resultam em nada pode afetar a autoestima e a motivação na busca por emprego.

  • Plataformas de recrutamento estabelecem políticas para garantir a legitimidade dos anúncios. Na Gupy, foi criado ainda um "selo feedback".

Vagas fantasmas: O que são? Por que empresas utilizam? Como identificá-las?

Já passou pela experiência de se candidatar a uma vaga de emprego, passar por várias etapas do processo seletivo e só receber uma promessa de que seu nome será colocado em um "banco de talentos" da empresa?

Ou percebeu que uma vaga bem do seu perfil está aberta há meses nas plataformas de recrutamento, com centenas de candidatos inscritos, sem nunca ser preenchida? Ou então aquelas que são reabertas por diversas vezes pela mesma empresa?

Se sua resposta foi sim, atenção! Você provavelmente já se deparou com uma vaga fantasma.

👻 São "oportunidades de emprego" que, na verdade, não existem. São vagas de mentira, oferecidas pelas empresas por estratégia de marketing ou apenas para se aproveitar dos candidatos.

Elas surgem por motivos, como:

  • Passar a impressão de que a empresa está em ascensão;
  • Fazer os funcionários sobrecarregados acreditarem que o alívio está a caminho;
  • Conseguir trabalho gratuito, disfarçando problemas internos como testes práticos durante os processos seletivos.

Encontrar candidatos excepcionais e manter um banco de interessados para lidar com a rotatividade de funcionários são outros motivos apontados por uma pesquisa da Clarify Capital, empresa americana de empréstimos, feita com 1.045 empresas em 2022.

A estratégia (nada inocente) atrapalha a vida de quem já tem a missão inglória de se recolocar no mercado de trabalho.

Além de tempo desperdiçado no preenchimento de dados, participantes gastam energia — e até dinheiro com deslocamentos — para realizar testes e entrevistas que não levam a lugar nenhum. Para quem procura um emprego, passar por um processo seletivo de vaga fantasma pode até abalar a autoestima e confiança do profissional.

Damares Maris, desenvolvedora de sistemas, conta que passou por situações como essa por inúmeras vezes, e que a busca prolongada por trabalho já afetou sua saúde mental, ao sentir aumento da ansiedade e síndrome do impostor.

"É uma ansiedade tão grande que a gente chega a chorar (...) tava dependendo da ajuda do meu namorado. Era aos trancos e barrancos", lamenta.

Empresas que utilizam dessa estratégia acabam prejudicando não só os candidatos, mas também a própria reputação no mercado, explica a especialista em carreiras Adriana Rodrigues Gomes.

"É estranho uma empresa que sempre volta abrir a mesma vaga. As pessoas podem pensar: o que há de errado com ela? Fora que essa estratégia é extremamente desonesta com os candidatos."

Para combater essa prática, plataformas de recrutamento como Gupy e LinkedIn têm políticas internas que proíbem essas ações. (entenda mais abaixo)

A Gupy, por exemplo, possui canais para que candidatos possam denunciar vagas suspeitas, e uma equipe dedicada a investigar e contatar as empresas envolvidas, afirma Guilherme Dias, fundador e diretor de marketing da plataforma.

Mas não são só as plataformas que podem agir. Você mesmo pode identificar as vagas fantasmas e otimizar a sua busca por emprego.

Confira abaixo quatro dicas para filtrar as oportunidades. O g1 mostra ainda como as empresas enganam os candidatos, os problemas que surgem dessas práticas e o que dizem as plataformas de recrutamento.

Vagas fantasmas podem simular crescimento, criar banco de talentos ou obter mão de obra gratuita — Foto: Rafaela Zem/ Arquivo Pessoal

🔎 Como identificar

Adriana Gomes, especialista em carreiras, afirma que é possível se prevenir das vagas fantasmas a partir dos seguintes cuidados:

  • Data da publicação: uma vaga que permanece aberta por um longo período, como seis meses, é motivo de desconfiança. Empresas genuínas geralmente preenchem suas posições mais rapidamente.
  • Ofertas tentadoras: salários altos para posições que não justificam a remuneração são um sinal de alerta. Ofertas absurdamente tentadoras podem ser iscas para atrair candidatos.
  • Reputação da empresa: pesquise sobre a empresa. Utilize plataformas como Reclame Aqui para verificar se há reclamações contra ela, confira o CNPJ e analise o site da empresa para ver se é bem construído e profissional, e busque referências.
  • Processos seletivos longos e testes práticos: algumas empresas de má-fé solicitam estudos de caso ou projetos detalhados, utilizando o trabalho dos candidatos sem remunerá-los ou contratá-los. Se for solicitado um teste prático, forneça apenas uma visão geral do projeto, sem entrar em detalhes que possam ser explorados sem a devida compensação.

⚠️ Empresas legítimas de recrutamento e seleção não cobram dos candidatos. Quem remunera esses serviços é a empresa contratante. Se uma empresa pedir qualquer tipo de pagamento, desconfie imediatamente, orienta a especialista em carreiras.

🚨 Por que são um problema?

A falta de retorno após processos seletivos longos e exigentes gera ansiedade e desmotivação em quem busca por uma oportunidade. Damares, por exemplo, afirma que a busca prolongada e a participação em processos seletivos sem retorno afetaram sua autoestima e geraram síndrome do impostor.

A analista conta que já participou de processos com mais de cinco etapas, e apenas na última foi informada de que se tratava de um banco de talentos. Ainda segundo ela, é comum que empresas usem falsas promessas de emprego para resolver problemas reais sem pagar pela mão de obra.

"Era desgastante. Tem horas que pensava em desistir (…) muitas vezes, esses processos só servem para tirar cases [ideias] e trabalho de graça. Já passei por testes que até um iniciante saberia fazer. Eles só não queriam contratar alguém para isso", denuncia.

Por outro lado, as vagas fantasmas também podem prejudicar as empresas praticantes, explica Adriana Gomes.

Algumas instituições deixam vagas de alto nível, como diretores, abertas por meses para aparentar expansão. Mas isso pode levantar suspeitas sobre a dificuldade de preencher a posição, prejudicando a reputação da empresa e afastando candidatos qualificados.

Além disso, a prática de manter um banco de reservas pode gerar mal-estar entre funcionários que já ocupam esses mesmos cargos.

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👩‍💻 O que dizem as plataformas de recrutamento?

Para evitar a expansão das vagas fantasmas, plataformas de recrutamento estabelecem políticas que visam garantir a legitimidade dos anúncios.

Ao g1, o LinkedIn informou que oferece ferramentas e dicas para ajudar a comunidade a procurar empregos com segurança e incentiva os usuários a relatar qualquer irregularidade para investigação.

A Gupy adota uma abordagem semelhante: as empresas passam por um processo de validação antes de anunciar vagas na plataforma.

"Antes de uma empresa anunciar vagas na Gupy, ela passa por um processo de validação para garantir que é uma empresa legítima e séria", ressalta o fundador da plataforma.

LinkedIn e Gupy são algumas das plataformas que tentam combater as 'vagas fantasmas' — Foto: Arquivo Pessoal

Sobre as vagas fantasmas, Dias explica que a Gupy possui uma equipe dedicada a investigar denúncias e verificar a validade das vagas com as empresas. Além disso, a plataforma implementou várias medidas com base nas denúncias de seus usuários, como:

  • Permitir que o usuário veja há quanto tempo a vaga está aberta;
  • Criação do "selo feedback", concedido a empresas que fornecem retorno a mais de 90% dos candidatos.

Em relação às críticas sobre o uso de inteligência artificial na triagem de currículos, o fundador e diretor esclareceu que a IA é utilizada para ordenar candidatos por compatibilidade com a vaga, mas não para aprovar ou reprovar automaticamente as candidaturas.

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