O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, avaliou nesta semana que a inteligência artificial (IA) poderá ser usada como um tipo de consultor financeiro do futuro. A declaração foi dada durante palestra na reunião do Conselho Político e Social da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Essa consultoria da inteligência artificial ocorreria por meio dos chamados "agregadores financeiros", apelidados de "superaplicativos", a serem desenvolvidos pelos bancos e que reunirão as informações das pessoas físicas atualmente espalhadas por vários bancos em uma única plataforma.
A expectativa do BC é que esse tipo de aplicativo esteja disponível dentro de um ano e meio, ou seja, próximo ao fim de 2024.
"Deveria ter alguma coisa no aplicativo que te leve a ter mais educação financeira, a programar melhor seus pagamentos. As vezes, a pessoa tem um dinheiro investido e está pagando juros sete vezes maior no cartão de crédito. Então, a gente acha que a inteligência artificial pode ajudar muito as pessoas nessa programação financeira", avaliou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Aumentar a concorrência
Os agregadores financeiros são mais uma etapa do "open banking" (ou open finance) -- uma plataforma que permite aos clientes o compartilhamento dos dados bancários e históricos de transação com bancos e fintechs (pequenas empresas de tecnologia em serviços financeiros). O objetivo é aumentar a concorrência entre as instituições financeiras.
De acordo com o BC, entre as funcionalidades dos "superaplicativos" estarão:
- Escolher de qual banco retirar recursos ao fazer um pagamento por meio do PIX;
- Se quiser pegar crédito, o aplicativo mostrará a taxa de juros que cada banco oferece para a operação;
- Conversão de moeda física para moeda digital, e vice-versa, entre o mesmo banco, ou diferentes instituições financeiras;
- Realização de investimentos, possibilitando maior competição sobre as taxas de retorno;
- Se tiver ações de empresas em um banco, outras instituições financeiras vão saber e poderão oferecer um custo de 'custódia' (manutenção) mais barato;
- Bancos vão começar a competir pelos serviços ofertados, como crédito, por exemplo, pois saberão as taxas que outros cobram. E será possível fazer a "portabilidade do crédito";
- Unificar o fluxo financeiro de débitos e créditos em uma única ferramenta.
Segundo o BC, não há necessidade de regulação adicional para os agregadores financeiros, pois os regulamentos do open finance já possibilitam esse tipo de produto.
Inteligência artificial
A expectativa de quem se prepara para o tema é de que a análise de dados pela inteligência artificial ganhe mais agilidade e possibilite a combinação de informações tradicionais com dados como redes sociais e de telecomunicações, entre outros.
CEO de uma plataforma de inteligência artificial especializada na venda de serviços financeiros, Leonardo Rochadel deu alguns exemplos de como a inteligência artificial poderá ser utilizada no open finance.
- Quando os usuários conversam com a IA e fornecem dados, dentro do ambiente "open finance", ela procura identificar quais são os produtos financeiros mais adequados para o momento destes usuários;
- Se este usuário está com alguma restrição de crédito que a IA já sabe que será impeditiva para que este usuário seja aprovado por determinados bancos e fintechs, ela direciona para este usuário somente aqueles produtos financeiros que não tratem tais restrições como impeditivas. "Mesmo negativados, os clientes conseguem ter acesso a produtos de crédito, como é o caso do Saque Aniversário FGTS, por exemplo", explicou.
- Em outras situações, a IA consegue identificar, através do open finance, valores de empréstimos já contratados pelos usuários e sugerir outros produtos financeiros com taxas e custos efetivos melhores, apresentando opções para contratar outros empréstimos e até mesmo fazer a portabilidade.
- Com a portabilidade do consignado do INSS, por exemplo, a IA consegue identificar os valores de taxas e custos efetivos pagos atualmente pelo usuário para um determinado banco e, na sequência, apresentar sugestões do mesmo produto de outra instituição financeira com taxas e custos efetivos mais baratos para o usuário.
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