Cinco policiais, um advogado e dois empresários delatados por Vinicius Gritzbach por corrupção, lavagem de dinheiro e elo com o Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentaram juntos ao menos R$ 72 milhões de maneira ilegal nos últimos cinco anos.
É o que aponta o relatório da investigação da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público (MP) de São Paulo sobre o grupo. O documento foi obtido pela equipe de reportagem. O também empresário Gritzbach foi assassinado no mês passado após fazer a denúncia à Justiça (saiba mais abaixo).
Das oito pessoas identificadas no esquema criminoso, sete delas foram presas na terça-feira (17) pelas autoridades durante a "Operação Tacitus". Outra não foi encontrada, é considerada foragida e está sendo procurada.
O delegado Fábio Baena e os investigadores Eduardo Lopes Monteiro, o "Du", Marcelo Roberto Ruggieri, o "Xará" e Marcelo Marques de Souza, o "Bombom", estão entre os suspeitos presos. Os três trabalham como policiais civis em São Paulo. O agente da Polícia Civil, Rogério de Almeida Felício, o "Rogerinho Punisher" fugiu e não foi preso.
Os demais detidos são o advogado Ahmed Hassan Saleh, o "Doutor Mudi", e os empresários Ademir Pereira de Andrade e Robinson Granger de Moura, o "Molly".
De acordo com o documento da PF e do MP, para lavar o dinheiro os investigados investiam dinheiro da propina paga pelo PCC aos policiais e do tráfico de drogas da facção criminosa em negócios imobiliários e na abertura de contas de empresas-fantasmas.
Como funcionava o esquema
PF prende delegado e mais 3 policiais civis de São Paulo suspeitos de atuar para o PCC
A investigação identificou essa movimentação financeira irregular dos oito investigados entre 2018 e 2022. Segundo a Polícia Federal e o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do MP, o esquema criminoso envolve:
- Manipulação e vazamento de investigações policiais para integrantes do Primeiro Comando da Capital: para os bandidos se anteciparem a eventuais operações da polícia e não serem presos. Em troca disso, os agentes da Polícia Civil cobraram dinheiro dos investigados;
- Venda de proteção policial a criminosos: membros do PCC contratavam os serviços de "bico", segurança e escolta ilegal por parte dos agentes;
- Corrupção: para beneficiar um esquema de lavagem de dinheiro do tráfico da facção criminosa PCC junto ao mercado imobiliário. Integrantes da facção e policiais compravam imóveis, criavam empresas ou se associavam a elas para tornar seus investimentos aparentemente lícitos. Mas no caso dos agentes, a investigação notou que os bens adquiridos e declarados oficialmente por eles eram incompatíveis com os salários que recebiam na Polícia Civil.
Todos os oitos investigados citados acima haviam sido denunciados por Vinicius Gritzbach antes de ele ser assassinado no mês passado. O empresário do ramo imobiliários conhecia o grupo pois lavava dinheiro para ele, seja na aquisição de empreendimentos imobiliários ou no investimento de criptomoedas e joias.
Também investigado pelo Ministério Público por suspeita de corrupção de lavagem de dinheiro, Gritzbach denunciou o grupo durante delação premiada à Justiça. Caso fosse condenado, ele teria a pena reduzida. O empresário respondia aos crimes em liberdade.
Gritzbach acusou os cinco policiais de cobrarem R$ 40 milhões de propina para não responsabilizá-lo pelos assassinatos de dois membros do PCC. O empresário era investigado pelo Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) por suspeita de ter mandado matar Anselmo Becheli Santa Fausta, o "Cara Preta", e Antônio Corona Neto, o "Sem Sangue" em 2021.
Ele não pagou o dinheiro do suborno e foi indiciado pela polícia pelos homicídios. Gritzbach foi executado a tiros no dia 8 de novembro na frente do Aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos.
Execução de Gritzbach
Caso Gritzbach: novas imagens mostram momento da execução do empresário
Câmeras de segurança gravaram o crime cometido por dois homens encapuzados e com fuzis que fugiram em seguida (veja vídeo acima). Um motorista por aplicativo foi atingido por um dos disparos e também morreu.
Dois suspeitos de participarem da execução dele foram presos dias depois pela força-tarefa criada pelo governo paulista para investigar o caso. Matheus Augusto de Castro Mota e Matheus Soares Brito teriam ligação com o Primeiro Comando da Capital.
O terceiro suspeito procurado como foragido pelo homicídio do empresário é Kauê do Amaral Coelho. Segundo a força-tarefa, mais pessoas podem estar envolvidas no crime.
Além de investigarem o possível envolvimento do PCC no assassinato de Gritzbach, as autoridades apuram a hipótese de que policiais possam ter participado da execução dele. Um áudio gravado pelo empresário mostra uma conversa entre um membro da facção oferecendo R$ 3 milhões a policiais para matá-lo.
A equipe de reportagem tenta localizar as defesas dos oito investigados para comentar o assunto.
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