USP afasta temporariamente professor de direito acusado de assédio sexual: 'Há fortes indícios de materialidade dos fatos', diz nota

No início de dezembro, o site Intercept Brasil revelou dez relatos de alunos e ex-alunos que acusaram Alysson Mascaro de ter cometido os supostos crimes entre 2006 e o início de 2024. Procurada pelo g1, a defesa do professor diz que "a decisão de afastamento foi proferida sem que o professor pudesse exercer o direito de defesa".

Por Redação g1 SP — São Paulo


Professor Alysson Mascaro — Foto: Redes Sociais

A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo decidiu nesta sexta-feira (13) afastar temporariamente o professor Alysson Mascaro por, pelo menos, 60 dias. Ele é acusado de cometer abuso e assédio sexual revelados em reportagem do site Intercept Brasil no começo de dezembro.

Alunos e ex-alunos afirmam que os crimes ocorreram entre 2006 e o início deste ano. A partir das denúncias, a USP abriu uma sindicância interna para apurá-las, o que resultou no afastamento de Mascaro.

"Há fortes indícios de materialidade dos fatos e que estes envolvem possível enquadramento típico de assédio sexual", diz a portaria da faculdade.

O professor Alysson Mascaro é conhecido na área acadêmica a por publicações de livros na área jurídica. Na USP, ele é livre-docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito.

Segundo reportagem do Intercept, os dez casos revelados vão de beijos forçados até estupro. As vítimas são todas homens, têm entre 24 e 38 anos e conheceram o docente em grupo de pesquisa do Departamento de Filosofia e Teoria Geral da USP.

As denúncias apontam que o professor começava as conversas prometendo indicações profissionais e falava sobre as ligações influentes que tinha na área jurídica.

"A medida de afastamento cautelar se mostra necessária, adequada e eficiente para a tutela da moralidade pública e a para o bom andamento das investigações, isso porquanto há elementos de que os atos eram cometidos em virtude da relação de poder, influência e autoridade que o cargo concede(ia) ao investigado, o que culmina em potencial prejuízo na colheita de provas que majoritariamente envolve seus antigos e atuais alunos.", diz a portaria publicada nesta sexta-feira (13).

Durante o afastamento, o professor Alysson Mascaro não poderá "comparecer a aulas, reuniões, bancas, nem aos espaços físicos e/ou virtuais em que atua como docente na Unidade".

Em nota, a defesa do professor afirmou que" a decisão de afastamento foi proferida sem que o professor pudesse exercer o direito de defesa ou mesmo tomar conhecimento das supostas acusações, que até o momento permanecem sob sigilo e anonimato."

Leia abaixo a íntegra da nota divulgada pela defesa de Alysson Mascaro:

"A defesa de Alysson Leandro Mascaro informa que a decisão de afastamento foi proferida sem que o professor pudesse exercer o direito de defesa ou mesmo tomar conhecimento das supostas acusações, que até o momento permanecem sob sigilo e anonimato.

O Decreto que fundamenta a medida extrema revela-se absolutamente inconstitucional, pois afronta diretamente o Estatuto dos Servidores de São Paulo, Lei que é superior a decretos e não prevê afastamento em investigações preliminares, razão pela qual a questão será discutida perante o Poder Judiciário.

No mais, há de se ressaltar que todos os supostos relatos (anônimos) contra o professor surgem em um contexto no qual diversos perfis fakes de Instagram são criados para propagar calúnias, inverdades e estimular intrigas entre Mascaro e pessoas do ambiente acadêmico.

Tal circunstância fez com que Mascaro registrasse Boletim de Ocorrência ainda em novembro, motivando a instauração de Inquérito Policial pelo crime de perseguição (art. 147-A do Código Penal), o qual se encontra em curso na Polícia Civil.

Em 25 de novembro, o Poder Judiciário deferiu um pedido liminar favorável ao Professor Alysson, para que os dados cadastrais das contas falsas sejam revelados. Desse modo, a defesa aguarda o desfecho da investigação para que os fatos sejam devidamente esclarecidos".