O corpo do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, morto pela Polícia Militar com um tiro à queima-roupa, foi velado e enterrado nesta sexta-feira (22) no Cemitério Gethsêmani Morumbi, na Zona Sul de São Paulo.
Ao chegar ao cemitério, a família fez um apelo por Justiça. “Eu peço só que seja feita a justiça, que os responsáveis tenham a condenação que mereçam ter”, disse o irmão, Frank Cardenas, com a voz embargada.
Emocionado, ele lamentou a morte de Marco: "Meu irmão foi embora, ele não vai mais voltar, ele não vai mais voltar para casa”, disse. “Eu não vou ter mais o meu melhor amigo do meu lado".
Desolado, o pai, Julio Cesar Acosta Navarro, médico peruano naturalizado brasileiro, disse não saber como será o amanhã. "Eu não tenho o amanhã, eu só tenho esse instante".
Bastante emocionado, disse que sempre se considerou um cidadão do mundo, um "ser abençoado, cheio de realizações", mas que agora, tudo o que recebeu foi tirado dele. O jovem estava no quinto ano do curso de medicina na Universidade Anhembi Morumbi.
Cobrado pela família, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em sua primeira manifestação pública sobre o episódio, lamentou a morte do jovem e disse que "abusos nunca vão ser tolerados e serão severamente punidos".
Como foi a morte
Câmeras de segurança flagraram o momento em que Marco Aurélio foi morto, em um hotel na Vila Mariana, na quarta-feira (20). Os PMs Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado, envolvidos na ocorrência, foram afastados de suas funções até o final das investigações. O policial que fez o disparo foi indiciado por homicídio e as imagens das câmeras corporais usadas pelos PMs vão ser analisadas.
A mulher que estava hospedada com o estudante e mantinha uma relação de dois anos com ele disse, em entrevista à TV Globo, que a ação da PM demonstrou "falta de preparo" dos agentes. "Foi totalmente desqualificado", afirmou. Ela afirmou ter medo de sofrer retaliações e, por isso, não será identificada nesta reportagem.
Novas imagens de câmera de segurança mostram o momento em que o estudante passa na rua ao lado de uma viatura da Polícia Militar, bate no retrovisor do veículo e foge ao ser perseguido. Isso aconteceu minutos antes de ele correr para um hotel onde estava hospedado e ser baleado.
Veja momentos antes da morte de estudante de medicina
Marco Aurélio estava acompanhado no hotel de uma mulher. Em depoimento, a jovem contou que ele devia a ela cerca de R$ 20 mil, mas, como o rapaz só pagou R$ 250, os dois discutiram e ele a agrediu.
Ela, então, decidiu ir embora e ficou escondida num outro cômodo do hotel. Marco foi para a rua. Imagens de câmera de segurança mostram o momento em que elepassa na rua ao lado de uma viatura da Polícia Militar, bate no retrovisor do veículo e foge ao ser perseguido. Isso aconteceu minutos antes de ele correr para o hotel onde estava hospedado e ser baleado.
Ele chegou a ser levado ao hospital, onde teve duas paradas cardiorrespiratórias e passou por uma cirurgia. Contudo, ele não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 6h40.
PM mata estudante de medicina com tiro à queima-roupa na Vila Mariana, Zona Sul de SP
Câmera de segurança
Uma câmera de segurança do hotel registrou o momento que o estudante é assassinado às 2h49 (veja acima). Um dos agentes tentou puxar Marco Aurélio pelo braço, enquanto o outro o chutou. Em seguida, o estudante segurou a perna do policial, que caiu no chão.
Durante a confusão, o PM Guilherme atirou na altura do peito do estudante. No boletim de ocorrência, os policiais alegaram que o jovem teria tentado pegar a arma de Bruno.
O caso foi registrado no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) como morte decorrente de intervenção policial e resistência.
O que diz a SSP
"As polícias Civil e Militar apuram as circunstâncias da morte de um homem de 22 anos, ocorrida na madrugada desta quarta-feira (20), na Vila Mariana, na capital paulista. Os policiais envolvidos na ocorrência prestaram depoimento, foram indiciados em inquérito e permanecerão afastados das atividades operacionais até a conclusão das apurações.
Na ocasião, o jovem golpeou a viatura policial e tentou fugir. Ao ser abordado, ele investiu contra os policiais, sendo ferido. O rapaz foi prontamente socorrido ao hospital Ipiranga, mas não resistiu ao ferimento. A arma do policial responsável pelo disparo foi apreendida e encaminhada à perícia. As imagens registradas pelas câmeras corporais (COPs) serão anexadas aos inquéritos conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)."
*Sob supervisão de Fernanda Calgaro