Uma idosa de 69 anos luta para não perder a visão. Sandra Regina de Lima teve o olho direito extraído em 2019 por conta de um derrame ocular [vazamento de sangue no globo ocular]. Ela foi diagnosticada com outro sangramento, desta vez no olho esquerdo, em setembro deste ano.
A moradora de Santos, no litoral de São Paulo, busca uma consulta oftalmológica com um cirurgião especializado em retina por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). "Só enxergo vulto", desabafou ela.
Sandra Regina, que mora no bairro Rádio Clube, recebe ajuda dos familiares e vizinhos para sair de casa e concluir afazeres domésticos. Ela revelou sobreviver por meio de auxílio governamental, e ressaltou o nervosismo que sente desde a descoberta do sangramento no olho esquerdo.
"Comecei a enxergar uns pontinhos 'sobrevoando'. Também um tipo de linha", explicou Sandra, sobre a perda de visão. "Começou a embaçar do nada".
A idosa contou que, quando perdeu o primeiro olho, juntou R$ 2 mil com a filha para comprar uma prótese do órgão em uma clínica particular. A situação é diferente agora, já que a paciente alega não ter mais dinheiro sequer para custear um tratamento na rede privada, recorrendo ao SUS.
Visão
Sandra afirmou que, apesar de não ter diabetes [capaz de tornar os pacientes propensos a desenvolver doenças oculares], sofre de hipertensão. Ao g1, um médico membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia citou estes e outros causadores de problemas na retina (veja mais adiante).
A idosa explicou que o olho direito foi extraído em 2019 após sofrer uma perda gradual na visão. Sandra disse ter passado meses com a vista em "aspecto esbranquiçado" e ressaltou que, quando procurou ajuda médica na Santa Casa de Santos, os medicamentos não foram capazes de contornar a situação.
O olho esquerdo, porém, passou a sofrer com a perda de visão em setembro deste ano. Sandra disse ter procurado a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Central de Santos (SP), sendo encaminhada à Santa Casa no último dia 10. No local, a idosa passou por exames que identificaram o sangramento.
A Santa Casa de Santos afirmou, por meio de nota, não ter equipe especializada em cirurgia de retina. De acordo com o hospital, a paciente foi medicada e recebeu as orientações quanto à necessidade de buscar atendimento junto ao Ambulatório Médico de Especialidades Nelson Teixeira (Ambesp).
A idosa disse ter seguido a recomendação, mas complementou que informada pelo Ambesp sobre a necessidade de aguardar sete dias para um retorno. A situação, segundo ela, permanece a mesma até a publicação desta reportagem.
O g1 tentou contato com a Prefeitura de Santos (SP) e com a administração da UPA Central, mas não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
"Quero salvar meu olho"
Sandra disse estar nervosa com a possibilidade de perder o outro olho. A idosa relatou dor de cabeça recorrente e a necessidade de tomar analgésicos para amenizar os sintomas.
"Quero salvar meu olho porque já não enxergo de uma [vista]. Com um olho só, faço minhas coisas. Não tem condições, vejo tudo embaçado. Até para sair na rua é a maior dificuldade”, lamentou.
Ela ressaltou que, quando está em casa sozinha, tropeça nos móveis. "Quando a minha vista estava boa, ainda dava para viver, fazer as coisas na medida do possível. Agora, estou esbarrando nas coisas, já não posso sair sozinha”, disse.
Cuidados com a visão
De acordo com o Ministério da Saúde, doenças oculares podem ser causadas por diversos motivos, desde causas genéticas até o estilo de vida do paciente. Os principais sintomas, que devem servir de alerta, são:
- Visão embaçada;
- Tremor nos olhos;
- Dificuldades de se adaptar à luz;
- Olhos vermelhos;
- Olhos lacrimejando.
O oftalmologista Rodrigo Brant Fernandes, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, explicou que as principais causas dos problemas na retina são vasculares. Sendo assim, pacientes com diabetes, por exemplo, podem desenvolver áreas na região sem fluxo sanguíneo.
De acordo com o médico, a situação leva ao crescimento de novos vasos "doentes", que podem ocasionar o sangramento, descolamento da retina e glaucoma.
“No caso dos pacientes com hipertensão [como Sandra], isso também pode acontecer. Tanto nas crises hipertensivas agudas, em que você pode ter um sangramento na retina devido ao aumento muito agudo da pressão [...] quanto outras doenças, que a gente chama de oclusões vasculares retinianas [obstrução da veia central da retina]”, afirmou.
Ainda de acordo com o médico, na maioria das vezes, a perda de visão é causada pelo descolamento tracional da retina causado pela formação dos vasos doentes. "No final de toda a história natural, [acontece] o glaucoma neovascular, que é quando a pressão do olho sobe de maneira incontrolável a ponto de causar dor extremamente intensa", complementou.
Segundo o oftalmologista, o tratamento pode envolver lasers e outros procedimentos cirúrgicos, sendo que a retirada do olho é a última alternativa. Para evitar a situação, o médico indica que pacientes tenham um controle de hábitos saudáveis no dia a dia, incluindo atividade física, dieta balanceada, acompanhamento de cardiologista e endocrinologista.