Culinária #013: Com DNA santista, cerveja ultrapassa fronteiras e será produzida aos EUA
Malte, lúpulo, levedura e uma boa receita santista. Esse é o segredo do sabor das cervejas produzidas em Santos, no litoral de São Paulo. Com produtos de qualidade, elas vêm ganhando cada vez mais espaço na preferência do consumidor, dentro e fora do Brasil. As cervejas de uma marca santista, que já estavam sendo exportadas para diversos países da Europa e até para a China, agora estão sendo fabricadas nos Estados Unidos.
Santos conta com cinco cervejarias e uma produção que ultrapassa os 70 mil litros por mês. A Prefeitura de Santos, inclusive, lançou a Rota da Cerveja Artesanal, que permite aos participantes conhecer todas as empresas locais e degustar algumas criações.
Uma delas nasceu do paixão de dois amigos por cerveja. Na cozinha de casa, Renê dos Santos e Célio Ongaro Jr. criaram as primeiras receitas. Eles levavam as cervejas para as pessoas experimentarem, elas gostavam e queriam mais das novas criações.
"Começamos a fazer cerveja de panela em casa. Numa garagem, no fundo da casa do meu sócio Célio. A gente começou a produzir, como uma brincadeira, para o nosso consumo, para diversão. Uma vez por mês, fazia, chamava os amigos para tomar, para comemorar a produção", contou Renê.
Depois de seis anos e com uma lista de receitas de cerveja em mãos, eles resolveram levar a sério o hobby. Os dois iniciaram uma cervejaria cigana, um método utilizado por pequenos produtores que possuem rótulos artesanais e não tem capital para investir na própria fábrica.
Os sócios levavam as receitas e as cervejas santistas começaram a ser produzidas em Botucatu, Poços de Caldas e Itupeva, sempre em locais com todas as autorizações e equipamentos necessários. "A gente buscava cervejarias que tinham capacidade ociosa, para produzir".
Em 2016, dois rótulos de cerveja foram lançados em Santos e, no ano seguinte, eles começaram a ser distribuídos em todo Brasil. “Era uma American IPA e Black IPA. As IPAs, principalmente, são cervejas mais cultuadas no mundo artesanal, são estilos mais potentes, mais amargos. Daí, começou. Nós começamos a aumentar o volume”.
A marca ganhou notoriedade no estilo IPA, tendo quatro das cinco primeiras colocadas no ranking nacional. As cervejas IPAs, também conhecidas como India Pale Ale, possuem um alto amargor e geralmente alto teor alcoólico.
Em 2019, a produção chegou a 20 mil litros por mês. Dois anos depois, eles iniciaram a construção da fábrica própria no Mercado Municipal de Santos, iniciativa que é parte do projeto de revitalização do Centro de Santos. “Hoje, a gente produz em torno de 60 a 65 mil litros por mês, entre lata e chope. E, depois que a gente teve a fábrica própria, a gente conseguiu explorar estilos mais populares”, disse Renê.
A linha mais comercial, que também faz uma homenagem a Santos, conta com sete estilos de cerveja, que vai da mais leve até a mais extrema. Além delas, as latinhas com outros tantos sabores fazem sucesso, tanto pela praticidade como pelo design do rótulo.
“É uma marca registrada nossa, os rótulos com uma caveira, traz a nossa cidade, a mureta de Santos, ‘feito’ em Santos”, falou Renê, sócio-proprietário da Everbrew.
De Santos para o mundo
O sabor cruzou fronteiras. As primeiras latinhas já foram parar na Holanda, Bélgica e Portugal. “Para nós, foi um orgulho muito grande”, disse Renê. Depois, a cerveja também foi exportada para a China e para o Japão.
A cerveja, criada em Santos, chegou nos Estados Unidos. Em fevereiro deste ano, os sócios compraram uma fábrica para produzir a receita santista na Flórida. “Levando o DNA santista para a terra do tio San, mostrando para eles que o Brasil tem muita coisa para ser levada, apresentada”. No segundo semestre, as latas serão envasadas para serem distribuídas nos Estados Unidos.
Como é feita a cerveja santista?
O processo de produção conta com equipamentos de tecnologias seguras e modernas. Porém, a cerveja continua sendo artesanal, sem conservantes e aditivos, e com ingredientes selecionados. A maioria dos lúpulos são americanos ou europeus. O malte base é de Guarapoava (PR)".
Célio Ongaro, um dos sócios, explica que o mosto, que é a base para a cerveja, é feito em três grandes panelas. Em uma temperatura ideal, os grãos são cozinhados em água e converte os amidos do grão em açúcar. Em seguida, o sólido do líquido é separado na segunda panela. A bebida recebe a fervura e os lúpulos são adicionados, dando sabor e aroma para a cerveja (veja os detalhes no vídeo).
A bebida é resfriada e chega nos tanques, onde acontece a fermentação, maturação e finalização da cerveja. Em seguida, vai para as latas e barris para o consumo final. Em cada um dos 16 dos tanques há uma cerveja diferente.
"A maior quantidade é Pilsen, gira em torno de três semanas para ficar pronta. Tem uma acompanhamento diário de temperatura, fermentação, Ph", explica Célio.
Artesanal
As cervejas podem ser encontradas em mercados, bares, restaurantes e também no inaugurado o Pub da marca, localizada em frente à Praça Palmares, em Santos. No local, há com 14 torneiras de chope, além de oferecer drinks e um cardápio de comidas. A sommelier de cervejas e gerente do pub, Lívia Lopes, mostrou ao g1 como harmonizar as cervejas com petiscos e lanches (veja o vídeo acima).
A marca santista, atualmente, contabiliza mais de 200 receitas de cervejas, é premiada, reconhecida internacionalmente, exporta para Europa, e agora sendo produzida nos Estados Unidos.
Para os sócios, ela nunca deve abandonar o dna santista e o sabor de uma boa cerveja artesanal. “A gente costuma dizer que a gente é de Santos para o mundo”, fala Renê.
"Aquela comida de vó, é a cerveja artesanal, é a mesma ideia que eu levo. Preparo com paixão, com carinho, cuidado. No final, sempre tem um produto que a pessoa consiga sentir essa emoção colocada na cerveja", comenta Célio.