Dia 22 de abril é celebrado o 'Dia da Terra', um convite para refletir sobre como nossas ações interferem na natureza e, consequentemente, na vida do Planeta como um todo. A data incentiva práticas sustentáveis, como redução do consumo, limpeza dos rios e mares e a destinação correta dos resíduos. Sem dúvida, essas iniciativas são importantes, mas o cuidado com o Planeta pode começar de maneira ainda mais simples: se conectar com a natureza pode ser o primeiro passo para grandes mudanças.
Para agir em prol da conservação, é preciso aprender a valorizar o que existe, reconhecer o papel fundamental dos animais, das plantas e de todo o ecossistema. É preciso admirar essa infinidade de natureza que nos sustenta e, assim, lutar pela proteção da nossa Terra. Em tempos em que tudo é tão instantâneo, parar para observar o que sempre esteve ao nosso redor pode ser o 'remédio' para o Planeta.
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Um jeito de se relacionar com a natureza é usar os exemplos dela para ressignificar experiências do seu dia a dia. Na crônica 'Viver o agora", publicada no livro 'Asas da Vida', Ciro Porto reflete sobre se atentar ao presente; lição que aprendeu com as aves.
"...Você já ouviu algum passarinho cantando em uma árvore num sítio, na rua ou nas praças da cidade este ano? Se ainda não, pode ser que esteja vivendo com muita pressa, preocupado em chegar a algum lugar ou pensando nos muitos problemas que vivemos nos dias de hoje. Talvez esteja lembrando de algo que aconteceu e que tenha causado aborrecimento. No caso de ter ouvido, será que só ouviu ou de fato escutou?
Calma, vou tentar explicar. As aves não têm noção do tempo como nós; elas vivem apenas o presente. Se está frio, ficam mais recolhidas; se está quente, mais ativas. Se os dias estão aumentando em relação às noites, a maior incidência de luz desperta nelas o instinto de reprodução. Os machos começam a cantar para atrais as fêmeas. Os casais se formam e a construção dos ninhos tem início. O ciclo da vida regido pela viagem que a Terra realiza ao redor do Sol determina o comportamento das espécies. E uma coisa é certa: durante o inverno, não existe nenhuma ave preocupada com a reprodução que deverá se iniciar, ou seja, com o futuro. Se no ano passado, um casal de sanhaços teve o ninho, construído com muito trabalho, derrubado por um vendaval, esse mesmo casal este ano não irá se lembrar do ocorrido e ficar em dúvida se constrói ou não outro ninho. Da mesma forma que não se preocupam com o futuro também não se baseiam no passado.
Creio que de todas as lições que tive com as aves, esta seja a mais importante delas. Viver o presente. É justamente o agora o nosso momento mais poderoso. Seja lá o que você tiver que fazer, o fará sempre no agora, no presente. O passado pode ter sido doloroso ou saboroso, o futuro só Deus sabe, mas no presente todos nós sabemos, todos nós podemos decidir e realizar e, de preferência, sem nos basearmos em experiências passadas. Conscientes do presente, sabemos que tudo pode ser diferente. Não é porque alguma coisa deu errado ontem que dará errado agora. Ah, mas se estivermos no presente, preocupados com o futuro, perdemos a chance da consciência do presente e então pode ser que escolhamos algum caminho errado, duvidoso ou no mínimo medroso.
A chance que temos de viver plenamente só existe no agora. É no presente que conseguimos ser não apenas plenos, mas totalmente íntegros. Ser o que realmente somos. No presente, podemos sorrir se estivermos alegres, chorar se estivermos tristes, cantar se estivermos felizes. Do contrário, às vezes rimos sem querer, choramos sem motivo e nos calamos nas preocupações, ou ainda falamos o que não queríamos dizer.
Volto agora às perguntas iniciais. Você já ouviu algum passarinho cantando este ano? Se ouviu, de fato escutou?
Se ainda não ouviu, está perdendo o presente. Se ouviu, tente escutar. O canto do passarinho pode ter muitos significados e um dele é um presente que ele quer lhe dar: o presente".
Trecho da crônica 'Viver o agora', publicada no livro 'Asas da Vida, a liberdade do presente', de Ciro Porto.