Operação na Apae de Bauru: polícia identificou movimentações financeiras de quase R$ 7 milhões feitas por suspeitos

Investigação é realizada em paralelo ao inquérito que apura o suposto assassinato da secretária executiva da entidade, Cláudia Lobo, desaparecida desde agosto. Oito pessoas foram presas suspeitas de envolvimento no esquema - entre elas, filha, irmã, cunhado e ex-marido de Cláudia.

Por g1 Bauru e Marília


Polícia Civil detalha inquérito que apura desvios milionários na Apae de Bauru

A Polícia Civil identificou ao menos R$ 6,8 milhões em movimentações suspeitas durante a operação que investiga desvios milionários na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru (SP).

Desse total, R$ 5 milhões foram atribuídos a operações comandadas pelo ex-presidente da entidade, Roberto Franceschetti Filho, e R$ 1,5 milhão envolve movimentações feitas por Cláudia Lobo, ex-secretária executiva da instituição que desapareceu em agosto deste ano e, para a polícia, foi assassinada por Roberto.

No entanto, os investigadores acreditam que os valores reais podem ser ainda maiores, considerando o longo período de irregularidades.

"O que nós temos é um relatório de inteligência financeira que nos dá alguns indícios de movimentações financeiras. A gente pode falar em torno de R$ 5 milhões só do Roberto e mais R$ 1,5 milhão a R$ 1,8 milhão movimentados nas contas da Cláudia Lobo. Um período dos últimos cinco anos", explicou Gláucio Stocco, delegado responsável pelas investigações.

As investigações apontaram que membros da família de Cláudia estavam entre os principais beneficiados pelo esquema.

Saiba quem são os presos na operação contra desvios milionários da Apae de Bauru — Foto: Reprodução

Ainda de acordo com as investigações, Letícia Lobo, filha da ex-secretária, era uma funcionária fantasma que recebia salário sem trabalhar. Já Ellen Lobo, irmã de Cláudia, e seu marido, Diamantino Campagnucci, tinham uma empresa de limpeza que faturou por produtos nunca entregues.

Pérsio Prado, ex-marido de Cláudia, tinha um contrato para digitar notas fiscais doadas, mas recebia um salário de mais de R$ 8 mil. Além disso, parte de sua remuneração era repassada diretamente a Cláudia.

Os desvios aconteciam por meio também de contratos superfaturados, transferências bancárias irregulares e adiantamentos financeiros frequentes. A Justiça determinou o bloqueio de bens de 18 pessoas físicas e jurídicas para garantir a recuperação de valores desviados.

As denúncias começaram a ser investigadas após o desaparecimento de Cláudia Lobo e a prisão de Roberto Franceschetti Filho, apontado como principal suspeito do crime.

As investigações estão detalhadas nos dois inquéritos que o g1 e a TV TEM tiveram acesso com exclusividade. Os documentos revelam mensagens entre os dois sobre os valores desviados.

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O que diz a Apae?

Em nota, a Apae Bauru disse “que todos os depoimentos da sindicância foram entregues para a Polícia Civil, acreditando que as informações oferecidas auxiliaram no embasamento das decisões tomadas."

No texto, destaca ainda que "quanto ao valor apurado, qualquer que seja ele, pela natureza das atividades da instituição é altamente danoso não só financeiramente como também moralmente. A perícia contábil e financeira contratada pela Apae segue em andamento, e ainda não temos informações sobre os trabalhos", completa.

Ainda na nota, a Apae Bauru disse que "aguarda o acesso ao inquérito para definir as providências a serem tomadas, além de estar implantando administrativamente as medidas corretivas.”

Suposto assassinato

Em paralelo a essa investigação, a Polícia Civil também concluiu o inquérito em relação ao desaparecimento e suposto assassinato de Cláudia.

Em coletiva de imprensa realizada no dia 26 de agosto, a polícia confirmou que Cláudia foi assassinada por Roberto Franceschetti Filho, porém, o corpo da secretária ainda não foi localizado.

A investigação concluiu que havia uma disputa de poder entre o ex-presidente da Apae e a secretária executiva. Segundo o delegado, Roberto era, na verdade, subordinado a Cláudia. Supõe-se que ela teria colocado o suspeito na presidência da entidade e, depois, ele quis se desvincular dela.

Segundo as investigações, Cláudia foi morta com um único tiro disparado pelo ex-presidente da Apae dentro do carro da entidade, antes de o veículo ser abandonado na região do bairro Vila Dutra.

Imagens de uma câmera de segurança mostram o presidente saindo do banco de passageiro e assumindo o volante, enquanto Cláudia vai para o banco traseiro. O carro permaneceu estacionado por três minutos, momento em que, segundo a polícia, Roberto disparou contra Cláudia.

O exame balístico também confirmou que um estojo de pistola calibre 380, encontrado dentro do veículo no qual Cláudia foi vista pela última vez, foi disparado pela arma apreendida na residência do ex-presidente da associação.

Após o crime, ele teria acionado Dilomar Batista, então funcionário do almoxarifado da Apae, a quem ameaçou para que ajudasse no descarte do corpo. Dilomar foi ouvido pela polícia e confessou ter ajudado a queimar o corpo de Cláudia sob ameaça de Roberto.

O funcionário relatou que o corpo foi incinerado em uma área de descarte usada esporadicamente pela Apae e, quatro dias depois, ele retornou ao local para espalhar as cinzas em áreas de mata ao redor. No dia do crime, Dilomar assumiu o veículo que Cláudia dirigia e o abandonou na região da Vila Dutra, de onde ele e Roberto partiram em outro veículo da instituição.

O inquérito do caso do suposto homicídio foi finalizado em 10 de outubro e encaminhado para o Ministério Público. A Justiça de Bauru aceitou o pedido da 3ª Delegacia de Homicídios (3ª DH) da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) e decretou a prisão preventiva de Roberto Franceschetti Filho.

No inquérito, Dilomar foi indiciado pelos crimes de ocultação de cadáver e fraude processual. Sua prisão foi pedida durante a investigação, mas negada pela Justiça, pois não foram encontrados outros elementos que justificassem a prisão preventiva, e os crimes pelos quais ele foi indiciado têm penas mais brandas. Ele segue sendo investigado em liberdade.

De acordo com o delegado responsável pelo caso, Cledson do Nascimento, má gestão, desvio de verbas e disputa de poder na Apae são apontados como possíveis motivações para o crime. Os dois suspeitos se tornaram réus e a primeira audiência do caso foi marcada para janeiro do ano que vem.

Desaparecimento de secretaria executiva da Apae completou três meses e nenhum indício de corpo foi encontrado — Foto: Reprodução

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