O funcionário do almoxarifado da Apae de Bauru (SP) Dilomar Batista foi ouvido pela polícia, na tarde desta sexta-feira (23), como parte das investigações do desaparecimento da secretária executiva da instituição, Cláudia Regina da Rocha Lobo, de 55 anos, vista pela última vez no dia 6 de agosto.
A polícia chegou a pedir a prisão preventiva dele, que foi negada pela Justiça. Dilomar esteve na Delegacia do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Bauru acompanhado de sua advogada, e foi dispensado após três horas de depoimento.
Em coletiva de imprensa na manhã de quinta-feira (22), a presidente interina da Apae, Maria Amélia Moura Pini Ferro, confirmou que o funcionário foi afastado assim que a entidade tomou conhecimento das investigações sobre ele.
Ainda segundo a instituição, Dilomar foi funcionário do dono da área onde a Apae fez descartes de documentos no dia do desaparecimento de Cláudia e tinha um acordo para descarte de materiais na área.
Na quinta-feira, a Polícia Civil também fez buscas no conjunto administrativo da associação, localizado no centro da cidade, onde Cláudia trabalhava junto de Roberto Franceschetti Filho, presidente da entidade preso no dia 15 de agosto como principal suspeito de envolvimento no desaparecimento da secretária.
Buscas por Cláudia
Um laudo preliminar divulgado na tarde de quarta-feira (21) apontou que fragmentos de ossos humanos foram encontrados durante as buscas feitas em uma área rural de Bauru, na tarde de terça-feira (20).
Segundo a Polícia Civil, o material foi encaminhado de forma preliminar para o Instituto Médico Legal (IML) local, de onde deve seguir para o Núcleo de Biologia de São Paulo, para confronto com as amostras de DNA já recolhidas do veículo, de pertences pessoais da vítima e da filha de Claudia.
Em coletiva à imprensa, a Apae confirmou que a área rural onde foram feitas buscas foi utilizada algumas vezes para descarte de material da Apae, inclusive no dia em que Claudia desapareceu, mas que isso só foi descoberto após uma sindicância interna. Também disse que os descartes acontecem exclusivamente nos ecopontos da cidade.
Durante as mesmas buscas, a polícia encontrou os óculos da funcionária desaparecida, objeto que foi reconhecido por parentes dela.
Investigações da Polícia Civil apontaram que Roberto esteve com Claudia no último dia em que ela foi vista.
O exame balístico confirmou que um estojo de pistola calibre 380 encontrado dentro do veículo no qual a funcionária da Apae de Bauru foi vista pela última vez foi disparado pela arma apreendida na residência do ex-presidente da associação.
Irregularidades financeiras
A Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Bauru (SP) abriu uma sindicância interna para investigar possíveis irregularidades financeiras após o Setor Especializado de Combate aos Crimes de Corrupção, Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro (Seccold) instaurar um inquérito policial para investigar a instituição.
Em nota, a presidente interina da Apae, assegurou que a instituição está colaborando com as investigações e que, apesar da gravidade dos acontecimentos, a instituição continua a prestar seus serviços à comunidade.
Desaparecimento
Claudia foi vista pela última vez na tarde de 6 de agosto. Imagens de câmeras de segurança da rua onde fica o prédio administrativo da entidade, na Rua Rodrigo Romeiro, registraram o momento em que ela caminha até um carro que está estacionado na rua, que pertence à Apae, com um envelope na mão (veja o vídeo abaixo).
Funcionária da Apae desaparece após sair do local de trabalho em Bauru
A filha da secretária, Letícia da Rocha Lobo, contou que a mãe disse a uma colega de trabalho que iria sair para resolver coisas do trabalho e saiu sem levar a bolsa e o celular, um pouco antes das 15h.
Letícia disse que não notou nada de diferente na mãe nos últimos dias. "Ela disse para a recepcionista que iria resolver umas coisas da Apae e voltava mais tarde, e até agora nada", relatou.
Investigação
Mais de uma semana depois do desaparecimento de Claudia, um sinal de celular confirmou que Roberto esteve no local onde o carro da entidade usado por ela foi encontrado.
Oficiais da 3ª Delegacia de Homicídios de Bauru analisaram imagens de câmeras de segurança que mostram a vítima no volante do veículo que dirigia quando foi vista pela última vez. A descrição das imagens indica que o presidente da Apae saiu do banco de passageiros do veículo e assumiu o volante, enquanto Cláudia foi para o banco traseiro.
Polícia Civil divulga novas imagens do carro que funcionária da Apae dirigia
O documento também menciona que o histórico de chamadas do celular de Roberto mostra movimentações na rodovia SP-321, que liga Bauru a Arealva, e no local onde o veículo foi encontrado, no dia seguinte ao desaparecimento.
Imagens de uma câmera de segurança, divulgadas pela Polícia Civil, mostram também o veículo que a funcionária da Apae dirigia circulando próximo ao local onde ele foi encontrado, no dia seguinte (assista ao vídeo acima).
Um dia após ser preso, Roberto teve a prisão temporária de 30 dias decretada na audiência de custódia e foi levado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pirajuí (SP).
De acordo com a Polícia Civil, vestígios encontrados no veículo durante a perícia realizada no dia 7 de agosto, quando ele foi localizado, foram identificados como marcas de sangue. Uma das principais linhas de investigação é de que se trata de um homicídio.
Depoimento
No dia 19 de agosto, o presidente da Apae prestou depoimento formalmente à polícia, na delegacia da Divisão Especializada de Investigações Criminais de Bauru. Roberto estava acompanhado de seus advogados e foi ouvido durante cerca de uma hora e meia.
À imprensa, o advogado Leandro Pistelle informou que, durante todo o depoimento, Roberto se disse inocente e respondeu a todos os questionamentos.
A defesa reforçou que mais detalhes não podem ser divulgados pois o processo corre em segredo de Justiça. Após o depoimento, Roberto retornou à delegacia de Pirajuí , onde cumpre prisão temporária.
A Apae informou que se surpreendeu com a notícia do envolvimento de Roberto no desaparecimento de Claudia e reforçou que o fato não tem relação com os serviços prestados pela entidade. A Feira da Bondade, considerada uma das principais maneiras da instituição arrecadar fundos, foi adiada.
Além disso, a entidade informou que Roberto não faz mais parte do corpo diretivo e que Maria Amélia Moura Pini Ferro está na presidência da instituição. A entidade também informou que os atendimentos continuam normalmente em suas unidades.
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