O setor tem sido um dos motores da economia e deve seguir com crescimento forte e consistente nos próximos anos. Segundo Joel Risso, diretor da Vertical Agtech, apesar de os segmentos de atuação das startups que atuam no agronegócio no grupo serem variados, a maior parte delas desenvolvem softwares para produtor rural e para indústria.
Dessa forma, o grupo de cerca de 40 empresas da Vertical Agtech contribui para essa realidade da inserção cada vez mais constante da tecnologia no agronegócio. Todas as startups do grupo são associadas da ACATE e desenvolvem soluções inovadoras em tecnologia para problemas do setor agro. O portfólio de soluções é amplo e envolve o desenvolvimento de softwares, hardwares, nanotecnologia e outras soluções, que melhoram os controles, a gestão e proporcionam ganhos de eficiência com mais produtividade, uso racional de recursos e ganhos financeiros e ambientais para o setor.
Há empresas importantes para a cadeia de suínos, aves, bovinocultura leiteira e fruticultura. A Seasontree é uma startup que atua principalmente com maçãs. A empresa coleta informações no campo, processa e gera diagnósticos sobre pomares. Utiliza a visão computacional, inteligência artificial, IOT e sensoriamento remoto como principais ferramentas para o diagnóstico gerado. Atualmente, o principal produto da empresa é a contagem de frutos e classificação de frutos pré-colheita utilizando visão computacional.
Há empresas também que trabalham com nanotecnologia, com encapsulados e também com desenvolvimento de hardware para automação de granjas, de suínos, aves, como a Pecsmart. A empresa desenvolve microfones para medir suínos ou aves. Com esta aplicação, torna-se possível a observação contínua do estado de saúde respiratório dos animais, antecipando a identificação de doenças e, consequentemente, reduzindo a aplicação de antibióticos.
Na parte agroindustrial tem a Foccusul Automação, que desenvolve máquinas e equipamentos automatizados para os setores alimentício, de abrasivos, de pecuária leiteira e do agronegócio. Há ainda empresas que trabalham com culturas não tão tradicionais no estado catarinense, como a Ionics, que trabalha com abastecimento de frota para colheita de cana de açúcar.
Teste para mapeamento genético de bovinos
Em Santa Catarina, a Scienco Biotech desenvolveu um teste que, de forma rápida, faz o mapeamento genético de bovinos e permite a produção de leite A2, que é mais digestivo e se assemelha ao leite materno. A Scienco Biotech foi a primeira startup a desenvolver esse teste no Brasil.
Animais com genótipo A2A2 produzem leite livre de uma proteína conhecida como beta caseína A1, que traz desconfortos intestinais e difícil digestão para indivíduos sensíveis. No entanto, genotipar grandes rebanhos é difícil e caro, o que muitas vezes inviabiliza o estudo do rebanho nacional para selecioná-lo com animais puramente A2.
“Nosso teste é rápido, barato, de fácil coleta e o próprio produtor pode coletar uma gotinha de leite do animal em um frasco que nós enviamos. Logo após, o produtor congela o leite e nos envia por transportadora no dia seguinte. Ao recebermos o leite, analisamos rapidamente e enviamos o estudo apontando quais dos seus animais são A2A2. Isso tem permitido que pequenos ou grandes produtores tenham conhecimento de seu rebanho com rapidez e baixo custo”, explica Maria de Lourdes Borba Magalhães, sócia fundadora da Scienco Biotech.
Dessa forma, é possível identificar se os animais são aptos a produzir este tipo de leite. As vacas que passaram no teste devem ser separadas e inseminadas artificialmente com sêmen de bois que também têm o genótipo A2A2 .
“Em torno de 40% dos animais que analisamos são A2A2. Sabendo quais animais são A2A2, o produtor pode selecionar o gado no momento da fertilização in vitro e utilizar o sêmen (A2A2, que é mais caro) somente naqueles animais que são A2A2, garantindo que as novilhas serão A2A2. Além disso, o produtor pode separar imediatamente seu gado A2A2 e produzir um leite mais saudável imediatamente”, garante Maria.
Atualmente, a Scienco Biotech atende o Brasil todo. Somente na região Sul já foram mais de 2 mil animais testados nos últimos meses. O objetivo é que Santa Catarina seja o primeiro estado do Brasil com 100% do rebanho mapeado para garantir a seleção do rebanho para produzir um leite mais saudável para a população.
Polinização de forma mecanizada
No estado catarinense, a Kolecti foi a primeira startup a trabalhar com polinização de forma mecanizada e é também a primeira da América Latina a oferecer um serviço completo de polinização (coleta, extração, beneficiamento, armazenagem e aplicação). A ideia surgiu da experiência de 10 anos no setor florestal associada à carência no setor agrícola.
Julio Cesar Soznoski, diretor e engenheiro florestal da Kolecti, explica que, como toda nova tecnologia, validações precisam ser realizadas para avaliações e análises de resultados.
Dessa forma, a Kolecti realizou neste ano aplicações em grandes empresas para acompanhamento dos resultados que serão gerados na colheita dos frutos. Frutas produzidas no estado de Santa Catarina como maçã, pera, Kiwi e oliveiras vem sofrendo impacto significativo por problemas de polinização, este ano foram testadas aplicações em maçã e Kiwi.
“Sabemos que a polinização é responsável direta pela produção de sementes e frutos, uma falha natural de seus veículos de dispersão pode reverter em prejuízos significativos na produção de sementes e alimentos. O trabalho de polinização consiste desde a coleta de flores para extração do pólen, beneficiamento, análise, conservação e aplicação. A aplicação pode ser realizada através de equipamentos específicos via terrestre e aérea com drones, a tecnologia utilizada por drone foi desenvolvida por uma empresa parceira dos Estados Unidos”, explica Julio.
O objetivo do serviço é garantir ao produtor que todo ano independente das ações negativas da natureza ele terá sua produção “Seguro Agrícola”. Além disso, com a tecnologia a produção não depende de agentes polinizadores, sejam eles abióticos (vento) ou bióticos (insetos) que podem não contribuir no período da polinização; nem da intervenção em períodos com alta umidade relativa do ar ou chuvas, que acabam prejudicando a dispersão de pólen e, consequentemente, a polinização.
Dessa forma, há o suprimento do período conhecido por “janela crítica”, que é quando a flor está receptiva, porém não há pólen disponível para o cruzamento e aumento da produção e qualidade dos frutos.
Defensivos agrícolas nanoencapsulados para produção orgânica
A NanoScoping é pioneira no desenvolvimento de sistemas nanoencapsulados verdes. A ideia surgiu do desafio global de garantir alimentos de qualidade em quantidade compatível com a população mundial sem que o agricultor precise recorrer a insumos químicos, como agrotóxicos, que podem trazer externalidades negativas ao meio ambiente e à saúde dos seres humanos e animais.
Utilizando-se dos anos de experiência em nanotecnologia, a NanoScoping decidiu revolucionar o agronegócio, desenvolvendo três insumos agrícolas a base de extratos vegetais nanoencapsulados, os produtos Nano Agro, seguindo assim, na vanguarda do desenvolvimento tecnológico. Os produtos da NanoScoping são formulados apenas com produtos biocompatíveis e biodegradáveis, em um processo de produção que não produz resíduos tóxicos nem utilizam solventes orgânicos.
Beatriz Veleirinho, CEO e sócia da NanoScoping, explica que a empresa trabalha com biotecnologia e é especializada em nanotecnologia aplicada para o desenvolvimento de ingredientes ativos e produtos destinados aos setores agrícola, veterinário, cosmético e nutricional.
Criada em 2014, a NanoScoping encontra-se incubada no Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas – CELTA, em Florianópolis, Santa Catarina. Sendo uma spin-off da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Dessa forma, a linha Nano Agro é atualmente composta por três produtos, o Nano Agro Total que é uma mistura de três extratos vegetais essenciais – Citronela (Cymbopogon winterianus), Melaleuca (Melaleuca alternifólia) e Neem (Azadirachta indica) muito indicado para o controle de doenças fúngicas e bacterianas e no controle de pequenos insetos.
O Nano Agro Neem, que tem em sua composição apenas óleo de neem, conferido a ele atividades inseticidas e de repelência; e o Nano Agro Crop, que é elaborado a partir do óleo essencial de orégano, que devido à presença de compostos como timol e carvacrol, concedem a ele atividades inseticidas, fungicidas e bactericidas.
A NanoScoping desenvolveu um sistema nanoestruturado capaz de proteger esses ativos, viabilizando seu uso em larga escala. Todos os fitos insumos têm recomendação para os mais diversos sistemas produtivos em diferentes culturas como hortaliças, frutíferas, plantas ornamentais e grandes culturas.
“Vale destacar o vanguardismo da linha Nano Agro ao levar tecnologia de ponta para os sistemas orgânicos de produção, que em algumas situações, se vêem negligenciados pelo foco nos grandes produtores de commodities”, salienta Beatriz.
Apesar de o produto ser novo, a startup já está trabalhando em conjunto com o distribuidor que atua na região sul do país. Além disso, vendas internacionais que já foram realizadas. É possível encontrar produtores utilizando os produtos Nano Agro na Europa e América Latina.
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