Baleias-piloto: fraqueza e infecção por parasitas dificultam desencalhe de animais no litoral do RN

Encalhe aconteceu na última sexta-feira (31). Operação montada com embarcações tenta afastar animais sobreviventes da enseada de Pititinga.

Por Igor Jácome, g1 RN


Baleias-pilotos seguem encalhadas no litoral do RN

As baleias-piloto que morreram entre as praias de Pititinga e Zumbi, no município de Rio do Fogo, Litoral Norte do Rio Grande do Norte, estavam com alta infecção parasitária no sistema auditivo, o que atrapalha o senso de localização dos animais, informaram os profissionais do Projeto Cetáceos da Costa Branca, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern).

Cinco animais morreram entre a última sexta-feira (31) e este domingo (2). Uma operação foi montada para tentar afastar os 16 animais ainda vivos da enseada. Eles estão nadando, porém na parte rasa da praia, com risco de ficarem presos na areia. Segundo os médicos-veterinários e biólogos, os animais apresentam sinais de fraqueza.

Na manhã desta segunda-feira (3), uma operação montada com duas embarcações pesqueiras de médio porte e duas motos aquáticas do Corpo de Bombeiros, além de uma jangada, tenta capturar e puxar o grupo de baleias-piloto para o fundo do mar, com o uso de uma rede.

Operação tenta afastar baleias-piloto da enseada de Pititinga, em Rio do Fogo — Foto: Ricardo Morais/Uern

Segundo os especialistas, a primeira tentativa, no domingo (2), foi de afastar os animais com o barulho e aproximação das embarcações, porém eles não reagiram à presença dos barcos.

Segundo o biólogo Vinícius Santana, do projeto Cetáceos da Costa Branca e do Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (Cemam), a única atitude dos animais foi ficar entre os barcos e a líder do grupo, que apresenta desorientação.

Embora tenham o nome de baleias-piloto, os animais na verdade são uma espécie de golfinho de grande porte, assim como as orcas, normalmente chamadas de baleias.

Cinco baleias-piloto morreram encalhadas em praia do RN — Foto: Ricardo Morais/Uern

"Nesses indivíduos que morreram havia uma alta presença de parasitas dentro do aparato auditivo. Como são animais que dependem da orientação por meio do som, a presença desses parasitas nesses órgãos do aparato auditivo causa desorientação. Eles apresentam um comportamento alterado e lateralizado", explicou o biólogo.

Ainda de acordo com o especialista, os animais vivem em grupos muito "coesos" que seguem fielmente seus líderes. Na espécie, as famílias são lideradas normalmente pelas fêmeas.

"Esse animal acometido vem até a região mais costeira e acaba que todo o grupo segue ele também. Enquanto houver líderes acometidos, enfermos, no meio desse grupo, dificilmente esse grupo ele irá retornar pro alto mar", disse o biólogo.

Baleias-piloto na praia de Pititinga, em Rio do Fogo, RN, nesta segunda-feira (3) — Foto: Ricardo Morais/Uern

Ainda de acordo com Vinícius, os animais enfrentam fraqueza, com sinais de magreza, porque provavelmente estão há muito tempo sem alimentação. A dieta das baleias-piloto engloba peixes e outros organismos presentes em alto-mar, diferente dos encontrados no litoral.

Ainda que as instituições ambientais conseguissem a alimentação para os animais, eles não têm condição de se alimentar atualmente, explicou o biólogo.

"Eles estão em uma condição de estresse, em um estado clínico que não é favorável. No caso de alimentação oral forçada, provavelmente eles regurgitariam a comida. A possibilidade médica-veterinária e biológica é, em caso de encalhe na areia, dar polivitamínicos e glicose", explicou.

A esperança do grupo que conta com cerca de 25 especialistas é de que a operação para afastar dos animais seja bem-sucedida até o fim desta segunda-feira (3).

"Nossa esperança é que os animais agora, com a maré subindo e sendo afastados para o mar mais profundo, consigam enventualmente retornar para o mar aberto. Ou se precisar de uma intervenção veterinária, o pessoal está preparado para dar apoio", disse Fernando Aeder, analista ambiental do Ibama.

Por volta das 11h20 as embarcações já estavam mais distantes da costa. "É a primeira vez em quatro dias que a gente não consegue ver os animais daqui da costa. A gente está conseguindo levar os animais para uma profundidade um pouco maior. Por ora, estamos em processo", afirmou Daniel Sólon, biólogo do Cemam.

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