Fora do Ponto confere condições das linhas que faturam mais e das que ganham menos
Faturar muito não é garantia de manutenção bem-feita nos ônibus do Rio. Apesar de ser a mais rentável da cidade, a linha 229 (Usina x Castelo), por exemplo, tem veículos circulando com pneu careca e sem ar-condicionado. Levantamento inédito do Núcleo de Dados do Jornalismo da Globo mostra as linhas que rendem mais e menos na capital e revela que os problemas de conservação não são apenas culpa da falta de dinheiro.
Os números são referentes ao período de agosto de 2016 a agosto de 2017 e foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. Foram fornecidos pela Secretaria Municipal de Transportes do Rio (SMTR), após quatro meses de cobrança, e retirados dos Relatórios Diários de Operação (RDO), que as empresas dde ônibus são obrigadas a mandar para o governo. A Rio Ônibus contesta os dados.
Ao longo de uma semana, a série 'Fora do Ponto' abre a caixa-preta do transporte coletivo do Rio de Janeiro e se aprofunda na crise dos ônibus. Leia também:
Primeira entre as linhas mais 'ricas', a 229 fatura em média R$ 80,70 por quilômetro rodado, segundo os dados enviados pela SMTR. Nem por isso está bem conservada.
A reportagem foi à rua e verificou coletivos da 229 com pneu careca, sem ar-condicionado, com parte do piso enferrujado e problemas para fechar a porta. Segundo a SMTR, ao longo do ano passado, Consórcio Intersul responsável pela operação da linha, recebeu seis multas por ar condicionado inoperante, 273 multas por mau estado de conservação e quatro multas por dedetização vencida.
No lado das linhas mais pobres, a situação não é diferente. A 323 (Bananal-Castelo), terceira linha mais 'pobre', fatura em média apenas R$ 0,93 para cada quilômetro rodado. E também tem problemas de conservação. No ano passado, foram aplicadas sete multas por má-conservação pela SMTR. Segundo os passageiros, os veículos não tem ar-condicionado, sujeira e até barata, além de ter muita demora entre os veículos.
Equilíbrio entre as linhas
Saber se uma linha recebe pouco ou muito dinheiro em relação às outras é importante porque o sistema de ônibus do Rio de Janeiro deve equilibrar os trajetos mais e menos rentáveis, para que um sustente o outro. Dessa forma, é possível manter serviços essenciais aos passageiros mesmo que em alguns locais não sejam rentáveis.
No modelo de consórcio que existe hoje na capital, deve haver um equilíbrio na distribuição das linhas entre as empresas, para que nenhuma fique só com a melhor ou pior fatia do bolo. Mas não há como o público saber se isso está sendo feito.
Com os dados disponíveis hoje, não é possível saber, no entanto, se as linhas dão lucro ou prejuízo. Isso porque não são divulgadas as informações de custo das linhas e nem das empresas, apenas dos consórcios. Dessa forma, não é possível verificar, por exemplo, se uma empresa foi a falência porque ficou só com as linhas que dão prejuízo, se os custos estão muito altos ou se há um problema com as tarifas.
Rio Ônibus contesta os números
A Rio Ônibus constestou os números apresentados e informou outros valores de receita por quilômetro rodado das linhas. Segundo o sindicato que representa as empresas de ônibus, os valores estão superdimensionados e não correspondem à realidade.
De acordo com a Rio Ônibus, os dados dos RDOs enviados pelas empresas à SMTR mostram que a linha 229 tem receita média por quilômetro de R$ 7,77 e não de R$ 80,70, como mostram os cálculos feitos pela reportagem com os dados fornecidos pela SMTR. Já a 678 tem receita por quilômetro de R$ 5,09, de acordo com o sindicato.