Após perder 'controle' do caso Marielle, Rivaldo Barbosa jogou executores ‘aos leões’ para ‘preservar autores intelectuais’, diz PF

Investigação diz que ele planejou 'meticulosamente' assassinato e buscava desviar o foco para longe dos mandantes. Pressão imposta pela sociedade civil e pela mídia foram determinantes no caso.

Por Matheus Rodrigues, g1


Algemado, Rivaldo Barbosa deixa carro da PF em Brasília — Foto: Reprodução/GloboNews

O matador de aluguel Ronnie Lessa afirmou, em delação premiada à Polícia Federal, que o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa perdeu o controle do caso Marielle Franco e decidiu entregar os executores do atentado. Antes do ataque, o delegado teria dado uma garantia prévia de impunidade aos mandantes Domingos e Chiquinho Brazão.

“[Os irmãos Brazão] Estavam revoltados da vida, estavam incorporados porque o Rivaldo estava pulando fora; o Rivaldo virou as costas; e o Rivaldo alegou que não tinha mais como segurar, fugiu a alçada dele, e não tinha mais como segurar, tentaram até onde deu e perdeu o controle”, afirmou Lessa em seu depoimento aos investigadores.

A Polícia Federal aponta nas investigações que a morte da vereadora foi um crime idealizado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e "meticulosamente planejado" pelo delegado Rivaldo Barbosa. Os três foram presos neste domingo (24).

O relatório final da Polícia Federal sobre o caso concluiu que a grande repercussão do crime foi determinante para atrapalhar o planejamento dos mandantes.

“Ainda que tenha conseguido adiar a resolução da investigação por seis anos, a sabotagem do trabalho apuratório esbarrou em uma variável que nenhum dos agentes participantes da empreitada criminosa previu: a magnitude da repercussão midiática do crime”, diz o relatório.

“Com o fim de estancarem a pressão imposta pela sociedade civil e pela mídia, Rivaldo e Giniton, de supetão, conforme será visto adiante, jogaram os executores do delito aos leões e imputaram-lhes a tese do ‘crime de ódio’, com o fim de fechar a tampa da apuração e preservar os autores intelectuais”.

Segundo a PF, Rivaldo Barbosa "foi o responsável por ter o controle do domínio final do fato, ao ter total ingerência sobre as mazelas inerentes à marcha da execução, sobretudo, com a imposição de condições e exigências".

Todos os presos negam as acusações.

Barbosa assumiu chefia da polícia na véspera do atentado

O ex-chefe da Polícia Civil do RJ Rivaldo Barbosa, preso neste domingo (24), é apontado pela Polícia Federal como mentor do assassinato de Marielle Franco. Ele tomou posse em 13 de março de 2018, um dia antes da execução da vereadora.

De acordo com a ordem de prisão, "se verifica claramente que o crime foi idealizado pelos dois irmãos e meticulosamente planejado por Rivaldo".

Rivaldo em reunião com a família de Marielle e Anderson um mês após o crime — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo

Segundo a investigação, Rivaldo exigiu que Marielle não fosse morta entrando ou saindo da Câmara. "Tal exigência tem fundamento na necessidade de se afastar outros órgãos, sobretudo federais, da persecução do crime", diz a PF.

O advogado de Rivaldo Barbosa, Alexandre Dumans, disse que seu cliente não obstruiu as investigações das mortes de Marielle e Anderson. "Ao contrário. Foi exatamente durante a administração dele que o Ronnie Lessa foi preso", afirmou.

Um dia depois do crime, Barbosa afirmou que a morte de Marielle era um "atentado contra a democracia.

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