Cargos na Emusa: RJ1 encontra funcionários que recebem mas não dão expediente

Empresa pública de Niterói é investigada por abrigar parentes de políticos e candidatos a vereador que não se elegeram.

Por Bette Lucchese, Lucas Soares, Lucas Von Seehausen, André Maciel, Willian Corrêa, RJ1


Funcionários-fantasma continuam lotados na Emusa

O RJ1 descobriu que funcionários que não aparecem para trabalhar continuam empregados na Empresa de Moradia, Urbanização e Saneamento de Niterói (Emusa).

A Emusa é a empresa pública de Niterói responsável por obras de infraestrutura, manutenção e saneamento e por contratar funcionários para a execução desses serviços.

No fim de março, o RJ1 denunciou o escândalo. Segundo o Ministério Público do Rio (MPRJ), a Emusa se transformou em um cabide de emprego, com suspeita de nepotismo e contratrações-fantasmas, para atender a interesses eleitoreiros.

Durante a gestão do atual prefeito, Axel Grael (PDT), o número de comissionados — aqueles contratados sem concurso público — mais do que dobrou nos últimos dois anos.

Axel Grael recebeu a Emusa com 518 funcionários. Três meses depois já existiam 805. A empresa fechou 2022 com 1.053 contratados.

Ao longo das denúncias, alguns funcionários, nomeados em circunstâncias suspeitas, foram sendo exonerados. Na época, o RJ1 descobriu uma lista secreta e revelou dezenas de nomes. Vereadores, secretários, políticos aliados tiveram a oportunidade de empregar parentes.

Hoje, a Emusa é alvo de 14 inquéritos cíveis, 3 procedimentos administrativos e 3 ações judiciais.

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A Emusa é a empresa pública de Niterói responsável por obras de infraestrutura, manutenção e saneamento — Foto: Reprodução/TV Globo

Nomeado na Emusa trabalha em barbearia

Ediclaudio Regino Rosa é um funcionário comissionado da Emusa — Foto: Reprodução/TV Globo

Ediclaudio Regino Rosa é um funcionário comissionado da Emusa. Ele foi contratado em março de 2021, no início da gestão do prefeito Axel Grael. O cargo é de assessor técnico, na administração regional de Itaipu. O salário é R$ 6.479.

Ediclaudio deveria dar expediente na Estrada Francisco da Cruz Nunes, mas, na prática, trabalha a 10 km de distância dali, no Largo da Batalha. Mais precisamente na Barbearia do Didi.

No dia 25 de abril, uma terça-feira, por volta das 15h, o RJ1 encontrou Ediclaudio na barbearia. Sem cliente, o barbeiro tinha tempo de papear na calçada. Dia depois, o repórter cinematográfico André Maciel chegou a cortar o cabelo com Ediclaudio.

Ediclaudio na Barbearia do Didi — Foto: Reprodução/TV Globo

No dia 15 de maio, uma segunda-feira, às 11h30, o RJ1 esteve novamente na barbearia onde Ediclaudio Regino Rosa está trabalhando, mas para surpresa da equipe de reportagem, ele negou ser ele mesmo.

Ao ser questionado, Ediclaudio perdeu a paciência e decidiu se afastar. E abandonou o cliente na cadeira.

Ediclaudio trabalha em barbearia no horário que deveria estar na Emusa — Foto: Reprodução/TV Globo

O repórter cinematográfico Willian Corrêa flagrou Ediclaudio conferindo, sorrateiramente, se a reportagem tinha ido embora mesmo.

Na página da barbearia numa rede social, uma foto da equipe identifica Ediclaudio. E é no nome dele que a barbearia está registrada na Receita Federal.

Ediclaudio confere se equipe do RJ1 foi embora — Foto: Reprodução/TV Globo

Bermuda, camiseta e chinelos

Adriano Gonçalves Bianna foi contratado pela Emusa em fevereiro de 2021 — Foto: Reprodução/TV Globo

Já Adriano Gonçalves Bianna foi contratado pela Emusa em fevereiro de 2021, no cargo de chefe do setor de material, na Diretoria de Pavimentação e Reparos, com salário de R$ 4.666.

Mas no horário do expediente, Adriano estava em frente à casa dele, no bairro Sapê, em Niterói, de bermuda, camiseta e chinelos. Ele nem imaginava que estava sendo filmado. No alto da escada, Adriano ajeitava as plantas e cuidava de uma obra.

Adriano rega as plantas em casa, no horário do expediente da Emusa — Foto: Reprodução/TV Globo

Na manhã desta segunda-feira (15), o RJ1 fez uma visita a Adriano, mas ninguém atendeu.

Após uma espera de alguns minutos, Adriano abriu o portão, mas logo fechou. A reportagem tentou falar com ele, mas não conseguiu.

Adriano Gonçalves foi candidato pelo PL na eleição municipal de 2020. Não foi eleito, mas ficou como suplente. Durante a campanha, declarou à Justiça Eleitoral que era motorista de ônibus.

Nas redes sociais, também faz propaganda da empresa que possui, de instalação de placas de energia solar. O endereço da AWF Solar é justamente o da casa de Adriano, no bairro do Sapê, em Niterói.

Ao ser abordado pela reportagem do RJ1, Adriano Gonçalves Bianna diz que está na hora do almoço — Foto: Reprodução/TV Globo

O que dizem os envolvidos

O RJ1 convidou o prefeito Axel Grael para uma entrevista, mas a resposta veio por meio de nota.

A prefeitura disse que já exonerou 161 pessoas desde que foi criada uma comissão para modernizar a gestão da Emusa. E que o objetivo da comissão é garantir a transparência da empresa e otimizar a companhia.

Sobre a denúncia dos funcionários que aparecem na reportagem, a prefeitura disse que foi publicada nesta terça-feira (16) a exoneração de Ediclaudio Regino Rosa, o barbeiro que tinha cargo na Emusa.

A exoneração, feita depois que o RJ1 pediu os esclarecimentos, é retroativa ao dia 2 de maio. A Procuradoria do município disse que vai ser feita uma sindicância para apurar possível ressarcimento aos cofres públicos.

Sobre o Adriano Gonçalves Bianna, a Procuradoria disse que a comissão está apurando a contratação dele e que vai tomar as medidas necessárias.

A Prefeitura de Niterói disse ainda que no fim do mês a comissão vai apresentar o resultado do trabalho de levantamento da folha e redução do quadro de funcionários. E que uma outra comissão, em paralelo, está levantando dados internos para subsidiar a elaboração de um edital.