Em menos de 15 dias, duas menores de idade saíram de casa, no Rio, para se encontrar com homens que conheceram em plataformas on-line, sem avisar à família.
Uma, de 12 anos, viajou de carro até São Luís do Maranhão e foi mantida presa numa quitinete, até ser libertada pela polícia. Outra, de 17 anos, passou o fim de semana longe de casa. Os casos são investigados.
O g1 reuniu 15 perguntas e respostas sobre como proteger crianças e adolescentes dos riscos na internet e nas redes sociais (veja abaixo).
A reportagem ouviu especialistas e compilou informações do Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (Cert.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
- Devo permitir webnamoro para meus filhos?
- A que riscos meus filhos estão expostos na internet?
- Por quanto tempo meus filhos podem navegar ou jogar?
- Como configurar a privacidade na conta dos meus filhos?
- Devo ter as senhas das contas dos meus filhos?
- Como saber se meu filho é vítima de cyberbullying?
- Posso criar e gerir um perfil para o meu filho?
- Meus filhos já têm perfis em redes. O que posso postar nessas contas?
- O que posso compartilhar dos meus filhos nas minhas redes?
- Posso proibir meus filhos de navegar na internet?
- Posso navegar junto com meu filho?
- Como descobrir se há algum problema?
- Onde é melhor instalar o computador dos meus filhos?
- A que sinais devo atentar para tentar intervir?
- Como controlar o que meus filhos acessam?
1. Devo permitir 'web namoro' para meus filhos?
Ronaldo Lemos, advogado e diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, explicou que, primeiro, “é importante pensar o momento em que é admissível para o adolescente ter a possibilidade de namorar on-line”.
“Esse momento de transição para a adolescência é complicado. Especialmente no início dessa trajetória, é importante as famílias estarem próximas, acompanharem e instruírem”, disse.
“Não é nenhuma regra tecnológica, é uma regra educacional, de construção de confiança.”
Lemos destacou que ferramentas de controle parental (leia mais sobre esses recursos abaixo) funcionam mais com crianças.
“À medida em que a pessoa vai chegando à adolescência, ela também vai desenvolvendo formas de contornar essas ferramentas. Então, melhor do que usar uma ferramenta é ter um diálogo aberto”, explicou.
Para Lemos, não se deve considerar "web namoro" um tabu. “Não é algo que não se deve conversar, porque é inevitável. A gente sabe que hoje uma parte muito grande dos relacionamentos se origina na internet, e vai ser cada vez mais assim. Então é supervisão e diálogo é o caminho correto."
Existem meios de monitorar o celular dos filhos, mas esse seria o último caso. “O rastreamento total do dispositivo de um adolescente deve ser feito somente se houver suspeita e indícios de alguma situação perigosa, que afete a vida ou a integridade física”, disse.
2. A que riscos meus filhos estão expostos na internet?
- Ameaças anônimas: pessoas se escondem em perfis falsos para cometer crimes, como aliciamento, chantagem, pornografia infantil e sequestro.
- Conteúdo nocivo: crianças podem acessar fake news, pornografia e violência — e nem sempre têm maturidade para filtrar o que veem.
- Conteúdo para sempre: Tudo o que é publicado dificilmente será excluído. Uma postagem feita na infância poderá circular mesmo quando seus filhos já forem adultos.
- Cyberbullying: as crianças podem ser vítimas de fotos, vídeos e mensagens difamatórias e humilhantes.
- Danos a equipamentos: os dispositivos podem ser infectados por códigos maliciosos (malware), o que pode levar à perda de dados e ao acesso não autorizado a informações pessoais.
- Fim da privacidade: a divulgação de informações pessoais pode ter desdobramentos e comprometer a família inteira.
- Uso excessivo: a navegação sem limites afeta a saúde física e psicológica, atrapalhando o rendimento escolar e a vida social.
- Virais imprevisíveis: fotos e vídeos postados ingenuamente podem viralizar e superexpor as crianças, para o bem e para o mal — tornando-se webcelebridades momentâneas ou serem ridicularizadas.
3. Por quanto tempo meus filhos podem navegar ou jogar?
Desde os primeiros acessos, estabeleça limites claros de uso da internet, como após fazer a lição de casa, só nos finais de semana e algumas horas por dia.
- Até 2 anos: evitar telas, ainda que passivamente — quando a criança fica diante de uma TV ligada.
- Entre 2 e 5 anos: 1 hora por dia, com supervisão.
- Entre 6 e 10 anos: até 2 horas por dia, com supervisão;
- Entre 11 e 18 anos: até 3 horas por dia.
- Para todas as idades: sem telas durante as refeições e desconectar pelo menos uma hora antes de dormir.
“Criança tem que brincar, subir no trepa-trepa, ir à praia. Mas veio a pandemia, e as crianças não podiam nem ver os avós. Tudo era feito pelas telas”, lembra o pediatra Eduardo Jorge.
“Há alternativas: cinema, teatro, livro.. os pais podem dar o exemplo, quando estiverem junto com os filhos, sem usar o celular durante as refeições”, orienta.
4. Devo ter as senhas das contas dos meus filhos?
No início, as crianças necessitam de supervisão constante.
“O absoluto descontrole não é autorizado. Eles devem ter a senha e não permitir que os filhos usem tablets e laptops a que não tenham acesso”, afirmou o advogado Luiz Augusto D’Urso, especialista em crimes virtuais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A confiança deve ser conquistada aos poucos: deixar que seus filhos naveguem sozinhos é como ganhar uma cópia da chave da casa. No começo, os pais se recusam a entregá-la aos filhos, depois a entregam, mas com recomendações, até que, por final, compartilham.
Com o tempo e com orientações, elas passam a ter autonomia. Quando e como ocorre essa transição depende do comportamento de cada criança e família.
“Com criança, é totalmente admissível que os pais supervisionem tudo. Mas quando o adolescente tem 15, 16, 17, ele está construindo a sua maturidade, esses espaços têm que ser negociados. É um momento que os pais precisam avaliar o grau de maturidade dos filhos”, explicou Ronaldo Lemos.
5. Como configurar a privacidade na conta dos meus filhos?
- Informações pessoais, como endereço residencial e escola onde estudam, jamais devem ser compartilhadas;
- Não aceitar desconhecidos ou não muito próximos como amigos;
- As postagens devem ser restritas aos amigos, e não públicas. Para isso, “feche” os perfis ou limite quem pode ver os conteúdos.
“Os pais primeiro devem seguir as regras do aplicativo, que têm idade certa para uso. Se o filho não tem idade, tem que monitorar", afirma o psicólogo Tiago da Silva Cabral.
6. Como saber se meu filho é vítima de cyberbullying?
Vítimas de cyberbullying costumam apresentar sintomas como depressão, baixa autoestima, ansiedade, agressividade, medo e sentimentos negativos. Também costumam ter problemas de rendimento escolar e passam a evitar a escola.
Caso algum dos seus filhos venha a cometer cyberbullying, você, como representante legal, poderá ser responsabilizado. Ensine-os a não repassar ou criar conteúdos humilhantes sobre os colegas.
7. Posso criar e gerir um perfil para o meu filho?
Melhor não. Especialistas pontuam que as crianças, no futuro, não necessariamente gostarão do que foi publicado em nome delas — principalmente opiniões. Mais tarde, será difícil diferenciar o que elas postaram daquilo que os pais colocaram. Além disso, algumas redes sociais têm idade mínima para criação de contas.
8. Meus filhos já têm perfis em redes. O que posso postar nessas contas?
Tudo que é privado não precisa ser postado. A criança deve ter o direito de não querer ser exposta e de construir ela própria o seu espaço na internet. Não dê broncas nem os repreenda nesses espaços, dizem especialistas.
9. O que posso compartilhar dos meus filhos nas minhas redes?
- Um vídeo “bonitinho” para você pode ser considerado constrangedor para a criança — e ainda ser usado para a prática de bullying.
- Fotos dos seus filhos nus ou seminus, tomando banho ou brincando na praia podem cair em redes de exploração sexual comercial.
- Expor hábitos dos filhos (onde estudam, de quais cursos participam, locais que frequentam) pode colocá-los em risco de sequestro.
- Existem também os “sequestradores digitais”, que usam informações reais de crianças para criar perfis falsos e interagir com outras pessoas. Em alguns casos, até comentam e compartilham fotos como se fossem eles os verdadeiros pais da criança.
10. Posso proibir meus filhos de navegar na internet?
A medida é ineficaz, pois eles poderão fazer isso escondidos. Proibições geralmente geram conflitos e atrapalham o diálogo.
Converse sobre as possibilidades que a internet oferece e deixe que eles falem sobre as experiências deles.
11. Posso navegar junto com meu filho?
Sim, é uma tarefa divertida e educativa. Tire dúvidas até para abrir um canal de diálogo. Ao mostrar-se interessado, será mais fácil descobrir se eles precisam de ajuda, se estão tendo algum problema ou se algo os está incomodando.
12. Como descobrir se há algum problema?
- Observe o comportamento dos seus filhos.
- Procure estimulá-los a compartilhar com você as experiências desagradáveis que tiverem.
- Monte cenários, cite problemas já ocorridos e comente casos que estão sendo noticiados. Isso os ajudará a entender os problemas e servirá como alerta para que não passem pelas mesmas situações ou para que saibam como reagir.
13. Onde é melhor instalar o computador dos meus filhos?
Procure mantê-lo em um local onde, mesmo à distância, consiga observar seus filhos — como a sala.
14. A que sinais devo atentar para tentar intervir?
Atitudes como minimizar ou fechar aplicativos, trancar a porta do quarto, bloquear o celular ou tablet e ficar nervoso quando você está por perto podem indicar que seus filhos estão tentando esconder algo.
Esse é o momento para tentar conversar e entender o que está ocorrendo. Converse e ouça antes de julgar, para que eles não tenham medo de relatar algum incômodo.
15. Como controlar o que meus filhos acessam?
O Controle Parental (ou Controle dos Pais) é um conjunto de recursos de segurança disponível em diversos sistemas operacionais, sites e equipamentos, como roteadores e consoles de jogos.
As ferramentas devem ser usadas como uma proteção adicional, já que podem apresentar falhas e não funcionarem em todos os dispositivos e locais onde as crianças acessam a internet, como a escola ou a casa dos amigos.
- Sites de pesquisa: permitem definir filtros de acordo com a classificação etária do conteúdo.
- Sistemas operacionais: permitem restringir os sites que as crianças podem (ou não podem) acessar, os aplicativos que elas podem executar, com quem elas podem se comunicar e definir limites de tempo, como horário de dormir e regras específicas para dias úteis e finais de semana. Também impedem a troca de senha e mostram o histórico de atividades, incluindo sites visitados e aplicativos usados.
- Lojas do sistema operacional: permitem definir o nível de classificação (livre ou por idade) para os aplicativos que as crianças podem comprar, baixar e instalar ou ainda para os filmes que elas podem assistir e livros que podem ler.
- Usuários e perfis restritos: permitem criar tipos especiais de contas nas quais as atividades são restritas e supervisionadas.