Cortes na UFRJ: 'vou ter que me mudar ainda esse mês', diz aluna que está sem receber auxílio

De acordo com a instituição, as contas estão no vermelho e não há dinheiro para pagar as bolsas, além de outras despesas. Reitoria diz que o Governo Federal bloqueou mais de R$ 15 milhões do orçamento da instituição.

Por Thaís Espírito Santo*, g1 Rio


Fachada de um dos prédios da UFRJ — Foto: Artur Moês/SGCOM UFRJ

A Universidade Federal do Rio de Janeiro ainda não realizou os pagamentos das bolsas e auxílios dos alunos referente ao mês de dezembro. De acordo com uma nota emitida pela reitoria, as contas da universidade estão com saldo negativo devido ao corte mais recente que a instituição sofreu, que representa mais de R$ 15 milhões.

Os alunos estão sofrendo os impactos do corte. As bolsas costumam ser pagas no primeiro dia útil do mês, mas os pagamentos de dezembro não foram feitos e, segundo a própria universidade, não há previsão de normalização já que a UFRJ não recebeu os repasses.

Uma universitária de química, que recebe bolsa permanência e auxílio transporte, disse que vai ter que se mudar por falta de dinheiro para pagar as contas.

"Eu sou de Duque de Caxias e estava morando de aluguel em uma quitinete na Ilha do Governador, pelo fato de ser mais perto pra estudar. Eu usava o auxílio transporte pra ajudar no aluguel e com esse bloqueio eu tenho que sair da casa ainda esse mês. Eu não tenho ajuda de nenhum familiar, essas bolsas eram minha única fonte de renda", relata Beatriz Silva.

Ela não é a única aluna que está com dificuldades financeiras. Estudante de jornalismo, Luana Brandão não recebeu a bolsa de monitoria e ficou sem o dinheiro da passagem.

"Eu conto com o dinheiro da bolsa pra colocar de passagem no meu Riocard. Como uso transporte público todo dia, eu dependo do dinheiro pra isso. E como a bolsa sempre cai no início do mês, é ideal pra mim, recarrego e dá pro mês inteiro. Esse mês eu precisei pedir dinheiro emprestado porque eu não tinha. O dinheiro da bolsa, mesmo que não seja muita coisa, faz a maior diferença", disse Luana.

Moradora de Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Fabiana Silva recebe uma bolsa de iniciação artística no Projeto em Africanidade na Dança Educação e está tendo dificuldades para pagar a passagem no meio do período de avaliações.

"Não tem ônibus direto daqui de Belford Roxo para o Fundão, a gente tem que ir pra Mesquita para pegar a condução. Então são duas passagens diariamente. Hoje eu só tenho R$ 125 na conta. Eu já avisei a alguns professores que só irei em dia de apresentação de trabalho porque não tenho condições de arcar com isso todo dia", conta a estudante de dança.

"Nosso curso é noturno, mas pra chegar lá temos que sair daqui da Baixada cedo, então, às vezes tem o custo da janta, o bandeijão é R$ 2 e, na real, a gente não tem, não tem mesmo essa grana."

As estudantes também reclamam da falta de posicionamento da universidade.

"Mas, infelizmente, os bolsistas não são maioria na UFRJ, então, não tivemos até o momento nenhuma orientação diretiva e assertiva pra gente. Do tipo 'vocês terão suas faltas abonadas' ou 'alunos bolsistas podem apresentar trabalho remotamente'. A PR7, que é a responsável pela distribuição das bolsas. não deu nenhum comunicado pontual sobre a nossa situação."

"Não sei bem como vai ser pra frente ainda. E de qualquer forma, esse dinheiro eu também preciso devolver, né?", completa Luana.

Em nota, a UFRJ informa que não tem verba para realizar qualquer pagamento, o que inclui:

  • Bolsas de assistência estudantil, material didático, alimentação e todo o conjunto de assistências fornecidas pela instituição;
  • Salários de cerca de 900 funcionários
  • Contratos de transporte e combustível: ambulâncias, ônibus internos e intercampi, frota oficial e de segurança patrimonial;
  • Custos de seis Restaurantes Universitários;
  • Cerca de dois mil contratos de trabalhadores de limpeza e vigilância;
  • Insumos básicos para atividades de extensão, ensino e pesquisa;

*Estagiária sob supervisão de Cláudia Loureiro