Com a pandemia, cariocas se reinventam e criam novas atividades com ajuda da tecnologia e internet

Prática de exercícios físicos, cultivo de plantas, interesse por culinária e cursos online estão entre as áreas procuradas.

Por Larissa Caetano*, G1 Rio


Com a pandemia, cariocas se reinventam e passam a criar novos hábitos de consumo

A pandemia do novo coronavírus alterou os planos de muita gente, em todo o mundo, desde o início deste ano.

O G1 conversou com moradores do Rio que se viram obrigados a se reinventar dentro de casa, e descobriram novas atividades utilizando a internet.

Não é só aprender uma nova atividade ou investir na saúde física e mental. Empresários e uma profissional de saúde contaram que a mudança fez com que seus negócios crescessem ao longo dos meses de isolamento social.

A fotógrafa Ingredy Giuliasse, de 25 anos, tinha uma vida pessoal e profissional agitada antes da pandemia. Trocou a agitação por tarefas que não faziam parte de sua rotina.

“Eu aprendi coisas que eu não conseguia fazer antes. Depois da pandemia eu comecei a fazer coisas que eu realmente não esperava”, contou.

Ingredy disse que descobriu a culinária no início da quarentena. Focada em uma alimentação vegetariana e balanceada, ela aprendeu novos pratos, ampliou os conhecimentos na área e focou em alimentos saudáveis.

“Eu comecei a ter uma alimentação mais saudável. Tive mais tempo para me consultar em um nutricionista, porque podia fazer online. Eu não tinha tempo antes trabalhando fora”, disse.

O interesse por uma alimentação melhor não aconteceu somente com a fotógrafa. Em quatro meses, a Maré Chocolate -- marca carioca de chocolate à base de vegetais -- vendeu três vezes mais do que o previsto.

Roberto Maciel, sócio do empreendimento, acredita que durante o isolamento em casa as pessoas passaram a prestar mais atenção nos alimentos que consomem.

“Mesmo com desafios para conseguir matéria prima, embalagens, a expectativa de vendas foi superada em 40%. Os números de vendas só com reposições equivalem a expectativa inicial de vendas”, afirmou.

Ioga em alta

A fotógrafa Ingredy também investiu nos exercícios físicos. Por meio de aplicativos de treinos, ela fez desde circuitos mais leves até os mais intensos.

“Eu acho que a minha condição física melhorou e emagreci no ápice da pandemia. Comecei a ter mais noção da importância da atividade, até porque esse tempo também me permitiu pesquisar, conversar com pessoas e perceber que realmente é importante mesmo”, destacou.

Prática de ioga na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio (Arquivo) — Foto: Reprodução/Internet

Milhares de brasileiros também começaram a buscar a prática de exercícios. Durante os primeiros seis meses de isolamento, o aplicativo de treinos Mude registrou um crescimento de 36%, na sua base de usuários.

A ferramenta conta com aulas de diversas modalidades, gravadas e em tempo real. Nesse período, a frequência dos usuários subiu 70%, o que pode ser interpretado como um maior tempo gasto no treinamento.

“Até a pandemia, a gente era uma ferramenta para acessar aulas experimentais, presenciais e academias ao ar livre. A partir de março, lançamos dois produtos digitais: as aulas ao vivo, com seis lives por dia, e aulas gravadas -- mais de 50 aulas gravadas de ioga e funcional”, disse Marcos Moraes, fundador e CEO da Mude.

A ioga é uma das mais procuradas no aplicativo. Durante a pandemia, o interesse pela modalidade foi três vezes maior do que nas outras especialidades.

O trabalho presencial também mudou para muitas pessoas. É o caso da especialista de ioga facial Alessandra Scavone.

Ela contou que migrou para as plataformas digitais para prosseguir com os atendimentos, antes presenciais. Com pacientes no Brasil e na Europa, a fonoaudióloga também criou um programa online.

“Eu criei um programa de autocuidado que é 100% online. As pessoas vão fazendo, mas elas têm um contato comigo, podem fazer comentários e tirar todas as dúvidas. Hoje em dia tenho umas 160 pessoas por mês, fora o programa”, contou.

Dedicação às plantas

O interesse pelas plantas em casa, uma das tendências da pandemia, também atraiu a Ingredy.

“Eu comecei a sentir muita falta do contato com a natureza, porque nas minhas atividades eu normalmente costumava ir em parques, então eu senti a necessidade de começar a cuidar de plantas e ter um jardim. Sou uma ótima mãe de planta, muito cuidadosa”, afirmou.

Cultivo de plantas e hortas cresce nas cidades durante a pandemia

Para atender clientes como ela, estudantes de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), criaram o projeto de hortas inteligentes e autônomas, a Brota Company.

O produto -- um recipiente de tamanho médio -- pode ser colocado em qualquer lugar e conta com um sistema de irrigação automático e até acompanhamento remoto de biólogos.

Lançada em junho a empresa é um sucesso de vendas. Eles contaram que inicialmente a expectativa era vender 600 unidades, mas as vendas superaram as 10 mil hortas.

“A gente vendeu 10.502 unidades desde o primeiro dia de vendas. A Brota vende para o Brasil inteiro, mas 80% fica no Sudeste, Sul e Brasília”, afirmou o fundador da companhia, Rodrigo Farina.

Ele acredita que o sucesso aconteceu porque os clientes buscam “ter uma experiência culinária” dentro da própria casa.

“O consumidor médio já quer plantar em casa, mas em nenhum outro momento no passado recente ele foi obrigado a refletir sobre isso. Pelo fato de ele estar dentro de casa e lembrar que queria ter uma hortinha dentro de casa, que isso faz bem para ele, é saudável e interessante para ele e para o mundo, ele começou a pensar e tentar fazer isso dentro de casa durante a pandemia”, disse.

Cursos online

Os conteúdos educacionais à distância também ganharam força durante a pandemia, principalmente com o fechamento das escolas.

Curso online (Arquivo) — Foto: Ana Kézia Gomes/G1

Apenas nos três primeiros meses da pandemia, a pós-graduação virtual da plataforma Descomplica aumentou em 60% o número de estudantes.

Nos quatro primeiros meses de 2020, a empresa teve matrículas correspondentes ao ano inteiro de 2019.

No Rio, a plataforma tem 1,5 milhão de aulas assistidas por mês, por alunos que se preparam para o Enem e outros vestibulares, além de 6 mil redações enviadas e 166 mil materiais baixados.

Internet como protagonista

Para o professor de marketing do IBMEC-RJ, Igdal Parnes, a explicação para a busca de novas atividades está na mudança dos hábitos de consumo.

“Não dá para dizer que a compra na internet é uma coisa nova. Ela já vinha acontecendo, mas com a pandemia é que mais gente começou a comprar na internet”, explicou.

Classificada pelo professor como protagonista da pandemia, a tecnologia auxiliou diversos processos durante o isolamento social, como a adoção do trabalho e estudo remotos, compras no ambiente digital e a própria comunicação.

“A internet é a enorme protagonista disso, junto com a tecnologia. Ela está viabilizando trabalhar em casa, estudar ou dar aula em casa, entrevistas, lazer, pedir comida ou remédio, fazer compras no supermercado", disse o professor.

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*sob a supervisão de Káthia Mello