Desde o início de maio, o sertanejo vem perdendo posições nos rankings musicais do Brasil. O G1 já falou sobre o fenômeno e contou que alguns especialistas apontam como motivo a falta de inovação e falha criativa no ritmo.
Outros minimizam a queda e citam que tudo não passa de estratégia de mercado durante a pandemia.
Neste segundo time está Wander Oliveira, dono da Workshow, maior escritório de música sertaneja atualmente. A empresa gerencia carreiras de Marília Mendonça, Maiara e Maraisa, Henrique & Juliano, Zé Neto & Cristiano entre outros ídolos do ritmo.
Para o empresário, a ausência de nomes sertanejos nos rankings se deve à falta de lançamentos e de investimentos neste período.
"Se você pegar nas pesquisas, as pessoas estão muito mais em casa. E quando ela está em casa, ela consome muito mais a música e isso acaba passando mais rápido também."
"Com o não lançamento, as pessoas começam a enjoar mesmo. Vai ouvindo, ouvindo, dali a pouco ela nem aguenta mais ouvir aquela música", pontuou Wander ao G1, em rara entrevista concedida pelo empresário.
O empresário explica que o mês de junho será de retomada, já que os artistas voltam a gravar e lançar projetos.
Maiara e Maraísa já gravaram EP e as duplas Zé Neto e Cristiano e Henrique e Juliano estão em fase de seleção musical para escolha de repertório para seus DVDs. Esta semana, Marília Mendonça também deu indícios de uma nova produção, convocando compositores para o envio de canções.
Mas não são só os artistas do escritório de Wander que estão voltando a apostar em gravações. Nos últimos dias, a dupla Marcos e Belutti e o cantor Felipe Araújo também já gravaram novos projetos.
"Em torno de uns três, quatro meses, o mercado volta à normalidade, porque com os novos lançamentos, a coisa volta ao que era antes", aposta Wander.
Veja entrevista completa com o empresário.
G1 – Qual sua opinião sobre a queda do sertanejo do YouTube charts pela primeira vez desde a criação do ranking? Por que acha que isso aconteceu?
Wander Oliveira - Depois que começou a pandemia, nós do sertanejo não lançamos mais nada, nada novo. Por posicionamento, a gente achou melhor ficar mais tranquilo. O próprio artista achou melhor dar um tempo e não lançar nada. A gente tem uma cultura de lançar muita coisa ao vivo, e não tivemos essa oportunidade.
O sertanejo faz muito show, e a gente está sem o show. Então por opção a gente parou de lançar. Vamos começar a lançar novamente agora. No mês de junho a gente começa a retomar o mercado. Em torno de uns três, quatro meses, o mercado volta à normalidade, porque com os novos lançamentos, a coisa volta ao que era antes.
G1 - Como é esse dilema entre segurar ou não segurar música? Isso também faz segurar investimento em rádio e em plataforma?
Wander Oliveira - Na verdade, uma grande parte da receita do sertanejo vem de shows. E a gente até hoje não tem perspectiva de shows. Já estamos há mais de um ano sem trabalhar e começa agora com uma luz no fim do túnel, que a gente acha que em setembro a gente começa esse trabalho.
Então sentei com os artistas, com Juliano, Marília, Maiara, Zé Neto, Luiza e Maurílio, todo mundo, e a gente optou por segurar os lançamentos, não fazer os lançamentos das formas que nós fazíamos, que é colocar música em rádio, investir em plataforma. Seguramos esses investimentos.
O que estava gravado, que a gente tinha pronto, a gente foi lançando conforme estava no cronograma e não gravamos mais nada. Agora nesse momento, a gente começa de novo a retomar as gravações. Maiara e Maraisa já gravou EP, a gente começa a lançar agora em junho. Zé Neto [e Cristiano], estamos olhando música agora, essa semana os meninos até estão vindo aqui pra fazenda pra gente ouvir música.
Como tem mais de um ano que não grava, ja tá com muita música, e vamos ouvir o repertório pra escolher. Estou indo pra Palmas pra casa do Henrique e do Juliano pra gente ouvir repertório também. A gente vai gravar agora no início de julho.
Então, segurou-se todos os investimentos, seguramos a questão até de novos lançamentos, porque nós não tínhamos nada, nenhuma orientação de nada de quando a gente poderia voltar a trabalhar.
G1 - Conversamos com alguns especialistas do mercado, alguns citaram que essa queda pode ser também resultado de uma falta de renovação do mercado sertanejo no sentido de inovação, de tentar misturar com outros ritmos, como sertanejo sempre os artistas fizeram. Você acha que isso também é uma questão?
Wander Oliveira - Não. Zero, zero de possibilidade. Na verdade, o sertanejo se renova a cada dia. Não é uma falta de renovação. Se você for ver, não tem nenhum ritmo que tem tanto artista novo que acontece sempre. Até a própria renovação de ritmo mesmo. Não acredito que seja isso. Pra mim, na qualidade de pessoa que trabalha com sertanejo há anos, é somente a questão de lançamentos.
Se você pegar nas pesquisas, as pessoas estão muito mais em casa. E quando ela está em casa, ela consome muito mais a música e isso acaba passando mais rápido também. Com o não lançamento, as pessoas começam a enjoar mesmo. Vai ouvindo, ouvindo, dali a pouco ela nem aguenta mais ouvir aquela música.
Nós lançamos Diego e Vitor Hugo ("Facas"), que é artista meu, ficou em primeiro lugar por meses. Foi um lançamento fora da casinha, um lançamento extra. E está muito bem. Lançamos outra música deles agora ("Desbloqueado"), já deu mais de um milhão de views, então a música vai crescer muito. Já está nas plataformas subindo. Então assim, o sertanejo só caiu por falta de lançamento mesmo, pura e simplesmente por falta de lançamento.
G1-- Ao longo de muitos anos, representantes de vários ritmos elogiaram e "invejaram", digamos assim, o sertanejo pela forma, não só, de saber unir repertório, mas pela união, parceria e organização do mercado. Acha que os artistas do nordeste, que agora estão no topo do ranking, e até mesmo de outros ritmos, aprenderam com o sertanejo como fazer e descobriram o caminho pra estar sempre na liderança?
Wander Oliveira - Não vejo nordeste, sudeste, centro-oeste, sul... a gente vê o Brasil como um todo. O forró, vindo de lá, você tem Wesley Safadão, que há muito tempo está bem aqui pra baixo e não atrapalhou em nada o ritmo. Pega Aviões do Forró, que faz sucesso há muito tempo aqui pra baixo e transita bem com o sertanejo. Nós não temos a cultura de ouvir a vaquejada, o Tarcísio [do Acordeon], esse pessoal, a gente não tem muito essa cultura. Agora, é um som também do Brasil.
Acho que se eles estão fazendo isso e for pra ajudar até no ritmo sertanejo -- porque o sertanejo acaba acolhendo todos os ritmos e transformando em uma linguagem meio que própria deles --, se for pra isso, pra mim, isso por si só já é uma nova renovação do sertanejo. Vejo com muita satisfação talvez essa possibilidade.
Mas não acredito que seja um ritmo que veio pra ficar como o sertanejo. Tem 30 anos que trabalho com música sertaneja e tem 30 anos que eu vejo falar que o sertanejo está acabando. A gente vê que o sertanejo está sempre em mudança. O sertanejo muda, tem sempre mudado e modernizado. Não acredito que a pisadinha seja um ritmo que veio pra ficar, mas ela veio pra engrandecer um pouco mais a nossa música popular brasileira.
G1 - E você pensa em investir em algum artista de pisadinha?
Wander Oliveira - Se eu vir alguém que achar que tem possibilidade, se eu vir futuro, sem o menor problema. Com todo o prazer.
G1 – Como você comentou, boa parte do faturamento do sertanejo vem de shows. E o sertanejo também depende bastante de grandes eventos pelo Brasil, seja rodeios, festivais que levam muita gente. Acha que o ritmo foi mais prejudicado do que outros gêneros por causa dessa pausa?
Wander Oliveira - Eu acho que o mercado como um todo foi muito prejudicado. Acho que de alguma maneira, todo mundo se prejudicou muito. Mas é uma coisa que está além das nossas possibilidades, além de tudo isso.
E a gente também é muito pela vida. Então ninguém está fazendo show em lugar nenhum, está todo mundo mesmo esperando que a vacina chegue no maior número de pessoas e que a gente possa voltar a trabalhar de maneira segura.
G1 – Nessa pandemia, muito se fala sobre como os artistas estão lidando com essa pandemia, sem shows, sem cachês. Mas queria saber de você, enquanto empresário da música, como está esse período? Consegue mensurar quanto perdeu nesse período?
Wander Oliveira - A gente não coloca como "perdeu", a gente coloca como "deixou de ganhar". Perder é quando você já tem e nós não tínhamos esse dinheiro. Tínhamos o objetivo de ganhar, então nós deixamos de ganhar. É o que falei antes, acho que todo mundo perdeu. Se você pegar a sociedade como um todo, no mundo todo, perdeu muito.
A gente tem um cuidado muito grande com as pessoas que trabalham com entretenimento, que é o músico, o pessoal que trabalha com montagem de palco, som, luz, carregador de caixa. O artista ainda tem o direito autoral, tem as músicas tocando, continua ganhando um valor que dá pra viver bem. Mas essas pessoas, que vivem do show, do dia a dia, da montagem dos rodeios, de tudo, são muito prejudicadas.
Guardadas as devidas proporções, às vezes R$ 1 pra um faz muito mais falta do que R$ 1 mil pra outros. E a gente tem esse entendimento.
Pensando nisso, no início da pandemia, a gente fez muita live pra ajudar as pessoas. O sertanejo foi um dos segmentos que mais trabalhou pra tentar ajudar as pessoas que estavam ali naquele primeiro momento precisando muito.
G1 – E por falar em lives, agora que as gravações e os lançamentos vão retornar, as apresentações on-line vão parar ou é algo que segue pela frente?
Wander Oliveira - Não. Segue normal. As duas coisas seguem juntas. Maiara e Maraisa, por exemplo, na live passada, a gente usou o cenário no dia anterior pra fazer a gravação. Então dá pra unir as duas coisas.
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