Por Cláudia Croitor

É jornalista e editora-chefe do G1

'game of thrones': um final mediano para uma série que deixou de ser grandiosa

G1


*Este texto contém muitos spoilers para quem não viu o finale de "Game of Thrones"*

Ai, gente. Passamos por tudo isso para o Bran virar rei? Sério mesmo?

Já mudei de opinião algumas vezes sobre final de "Game of Thrones" (nenhuma vez achei bom, calma, mas já achei ok, já achei horrível, já achei dos males o menor) que nem sei muito o que eu achei de verdade. Como tudo nessa temporada ridiculamente curta, correram com o que importava, gastaram minutos preciosos com cenas bobas e agora todos estão felizes e serelepes com o Rei Bran.

Todo mundo brigando anos a fio pelo trono de ferro, no fim o trono foi derretido pelo dragão, e Bran, um dos personagens mais inúteis da série, assumiu o governo de Westeros. Imagina alguém contando pra gente lá tipo na terceira temporada que era assim que a série terminava...

Mas vamos falar do episódio. Nem sei por onde começar. Pela morte da Daenerys?

Sim, eu vibrei quando o Jon enfiou a faca na barriga dela (eu já estava reclamando “olha a cara de sofrimento que ele faz ao beijar a amada”, ufa que era de propósito), foi muito melhor do que eu esperava. O problema, já sabemos, é que eles tinham zero química, a paixão deles não convencia ninguém, eles nunca tiveram meio diálogo que prestasse na série toda... Então o que era para ser uma cena dramática, muito chocante, de fazer a gente bater palma para a TV, foi... legal. Pelo menos o Tyrion conseguiu depois de anos dar um conselho que presta, menos mal.

Só que aí, depois do luto do dragão, que resolveu botar fogo em tudo e acabar com esse maldito trono de ferro (ah, foi legal a Dany chegando pra ver o trono pela primeira vez, né), corta pros lordes sentadinhos numa roda no quintal pra definir quem seria o próximo rei. O que foi aquilo? A gente não tinha direito de ver o que ia acontecer depois do assassinato de Daenerys?

Jon se entregou? O Verme Cinzento foi perguntar onde estava a rainha e ele se enrolou e foi pego no flagra? Aliás, o Verme e seus homens estavam cortando a garganta do pessoal que era fiel à Cersei mas eles pegam o cara que matou a Mãe dos Dragões a Não Queimada a Primeira de Seu Nome e só prendem e deixam ele lá crescendo a barba? Meio incoerente esse povo. Mas os roteiristas estavam com pressa aí não presenciamos a decisão sendo tomada...

Então corta para o pessoal decidindo quem vai ser o próximo rei e ninguém nem pensou em falar “gente, uma coisa, sei que ele matou a Dany e tal, mas ELE É O VERDADEIRO HERDEIRO DO TRONO, JON É STARK E É TARGARYEN e é bacana e do bem e todos gostamos dele, que tal a gente considerar isso?”.

Não, toda a história da verdadeira origem do Jon só serviu para o Tyrion convencê-lo de que a Dany estava cegada pelo poder e que era bem capaz de Jon ser o próximo da lista para ser executado. Só para isso, para mais nada. A grande revelação da série, a grande descoberta do Sam, a grande visão do Bran não serviu para nada, ou seja o Bran não serviu para nada também. (Parece o fim de “Lost”? Parece.)

Aí me vem o Tyrion dando uma de Don Draper (lembrou o fim da primeira temporada de “Mad Men”) com um discurso tocante “o que une as pessoas? Guerras? Poder? Não, histórias”. Juro que achei que ele ia botar uns slides da infância do Bran pra todo mundo assistir. Fora que, se o mote da campanha para o novo rei é “olha que história de vida legal”, a Arya, a Sansa e o já mencionado Jon Snow Stark Targaryen herdeiro legítimo do trono têm histórias de vida melhores que a do Bran, que não fez nada a série toda.

Aliás, o Bran não chegou a falar outro dia aí que não era mais o Bran? Ele voltou a ser então?

E quem eram aquelas pessoas do conselho? Quem juntou aquele povo? O de casaco amarelo era de Dorne, correto? Pensa: o que era para ser a cena mais importante da série, a escolha do novo rei, foi feita por uns personagens ou desconhecidos ou totalmente secundários (tipo o tio da Sansa, quem lembrava dele?).

Bom, pelo menos a Sansa virou rainha do norte e ainda foi coroada com um vestido lindíssimo. Melhor cena.

Já a Arya, que passou por tudo o que passou, virou uma assassina sem rosto, ficou cega, voltou a ver e não sei o que, vai viver loucas aventuras no Oeste. Yay. Acho que ia ter sido mais legal – depois de tudo o que ela viu a Dany fazer no penúltimo episódio – se ela pegasse a cara do Verme Cinzento e matasse a rainha, já pensou? Mas não. Verme Cinzento foi se aposentar na praia com seu exército.

E Jon, que era pra ser o grande herói, que morreu e ressuscitou (alguém lembra disso?), no fim só queria mesmo ficar ali de boa com seus amigos do Norte, e foi o que ele conseguiu. Ainda recuperou o Ghost (não merecia). Legal, pessoal. Acabou “Game of Thrones”. Vida longa ao rei Bran. Rei. Bran.

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Ah, teve a Brienne escrevendo a história do Jamie. Passando um pano de leve para ele né? Mas o que me deu mesmo aflição foi que ela nem esperava a tinta secar para virar a página.

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Sam tentou inventar a democracia.

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Em que momento a Dany para e alguém faz aquele tanto de trança no cabelo dela? Podia ter essa cena.

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Tyrion achou meio fácil demais os irmãos dele soterrados, né? Caiu todo um castelo em cima dos caras. De qualquer maneira, foi uma bela cena.

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Foi “Game of Thrones” a última série a que todo mundo assistiu junto? É o fim de uma era? Que bom que a gente pode viver isso, então.

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Gente, pensa. Acabou “Game of Thrones”. E agora?