Barroso estende por mais 60 dias apuração preliminar sobre denúncias contra Bolsonaro na CPI da Covid

Com isso, ministro só vai decidir se acata ou não pedido de arquivamento feito pela PGR após a Polícia Federal entregar relatório.

Por Márcio Falcão e Fernanda Vivas, TV Globo — Brasília


O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), estendeu por mais 60 dias uma apuração preliminar, baseada em conclusões da CPI da Covid, contra o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e aliados.

A apuração busca saber se Bolsonaro cometeu incitamento ao crime, ao estimular descumprimento de medidas sanitárias.

Ao estender os trabalhos por 60 dias, Barroso adia também a análise de um pedido de arquivamento do caso, feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Agora, a decisão sobre o encerrar a apuração só vai ocorrer após a Polícia Federal entregar um relatório. Barroso afirmou que a PF ainda precisa organizar as provas reunidas pela CPI da Covid.

“Tendo em vista que a sistematização da documentação apresentada pela Comissão Parlamentar de Inquérito ainda não foi concluída, defiro o pedido de prorrogação do prazo para continuidade das investigações por mais 60 dias”, escreveu o ministro.

Das 10 apurações preliminares abertas depois que a CPI da Covid concluiu os trabalhos no ano passado, a PGR já se manifestou pedindo o arquivamento em nove casos.

Entre as condutas apontadas pela CPI estão estimular a população a se aglomerar, a não usar máscara e a não se vacinar, além de incentivar a invasão de hospitais para gravação de eventuais leitos vazios – em violação à intimidade dos doentes que estavam internados.

CPI da Covid: PGR pede arquivamento de apurações sobre Bolsonaro

Arquivamento

O pedido de arquivamento da PGR citou um relatório da PF enviado ao Supremo que, contrariando o entendimento da CPI da Covid, não encontrou indícios de que Bolsonaro e aliados agiram para incitar o descumprimento de medidas sanitárias.

Um agente da PF analisou publicações feitas pelo presidente e apoiadores sobre o combate à pandemia nas redes sociais. O documento concluiu que, diante da novidade sobre a questão e da falta de apontamentos científicos claros, não houve indicação de que eles agiram para incentivar o descumprimento de medidas sanitárias.

A análise foi feita a partir de dados abertos na internet e buscou validar os temas levantadas pelos bolsonaristas. Sobre a relação da efetividade do uso de máscaras para prevenção da Covid, por exemplo, a PF disse no levantamento que, de fato, "há estudos que indicam a baixa eficácia" da medida.

A Procuradoria reforçou o entendimento da PF e citou que, para configurar a incitação ao crime, teria que ser comprovada a intenção do político em incentivar, estimular a prática de ilícito.

"Além disso, os conteúdos das publicações, embora polêmicos e passíveis de críticas e questionamentos, não extrapolaram os limites estabelecidos para o exercício da liberdade de opinião e política inerente aos mandatários, não sendo hipótese de cerceamento, quer por violação a outros direitos e garantias fundamentais, quer por esbarrar nos limites ao exercício da liberdade de expressão", afirmou a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo.