Ator encontra na arte motivação para seguir no combate ao câncer; 'estou aqui, lutando e sobrevivendo', diz

Diagnosticado em 2021 com um câncer no pulmão, Ivanildo dos Anjos se fortalece com a arte de seu trabalho.

Por Luna Markman, Vítor Oliveira*, Danilo César, g1 PE e TV Globo


Teatro tem ajudado ator durante tratamento contra o câncer

O diagnóstico de uma doença como o câncer pode impactar e transformar a vida de uma pessoa. Foi o caso do ator Ivanildo dos Anjos, que resolveu fazer da arte a sua companheira durante o tratamento (veja vídeo acima). Ele faz parte do elenco da peça de teatro "O soldadinho de chumbo", que integra a programação do Festival de Teatro Para Crianças, que segue até 31 de julho, aos sábados e domingos.

Em novembro de 2021, Ivanildo foi surpreendido com a notícia de que estava com câncer no pulmão, e, desde então, vem lutando para ressignificar a própria jornada, com alegria e motivação.

"Nem todo mundo espera, a gente acha que nunca acontece com a gente, mas recebi o diagnóstico de que estou com câncer. Começou no pulmão e teve a metástase [quando o câncer se espalha pelo corpo] para a coluna", comentou o ator.

Por causa da doença, o ator ficou com dificuldades de locomoção. Mesmo assim, entre os desafios, o ator se apoiou na vontade de retornar aos palcos para dar continuidade ao tratamento.

Ator Ivanildo dos Anjos fez parte do elenco da peça infantil "O Soldadinho de Chumbo" — Foto: Reprodução/TV Globo

"Estou aqui lutando e sobrevivendo. Caiu cabelo, caiu sobrancelha, bigode, que eu sempre deixava crescer. Mas é isso, é a vida", disse.

A história da peça "O soldadinho de chumbo", que Ivanildo faz parte, tem origem em um conto de 1838, cuja adaptação foi feita pelo diretor e dramaturgo Roberto Oliveira, que é marido de Ivanildo. Ambos veem a arte como um remédio.

Dramaturgo Roberto Oliveira, diretor da peça infantil 'O Soldadinho de Chumbo' — Foto: Reprodução/TV Globo

"Quem pisa no palco sabe o que isso causa. É um medicamento ímpar, é um sentimento que renova, refaz, nos dá força e equilíbrio", disse Roberto.

Na mesma produção, está o ator e bailarino Daniel Soares, que interpreta o protagonista da história, o soldadinho de chumbo.

Daniel Soares é ator e faz o papel principal na peça infantil 'O Soldadinho de Chumbo' — Foto: Reprodução/TV Globo

Quando criança, Daniel teve um câncer no joelho e teve que amputar uma perna. Dentro do papel principal, a ideia é transmitir mensagens educativas e de inclusão.

"A cultura faz com que possamos nos incluir, seja dentro do espetáculo, em um palco, na rua. De fato, é sensacional", disse o ator.

Apoio social

Neuropsicólogo Dênis Ramos, que trabalha com tratamento oncológico de pacientes no Hospital de Câncer de Pernambuco — Foto: Reprodução/TV Globo

Segundo o neuropsicólogo Dênis Ramos, do Hospital de Câncer de Pernambuco, entre os tratamentos possíveis para a doença, há métodos terapêuticos capazes de trazer renovação, motivação e esperança.

Em entrevista ao Bom Dia Pernambuco desta quarta-feira (20), ele explicou que muitos pacientes avançam nos tratamentos graças ao processo de ressignificação que a arte e a participação em grupos sociais possuem.

"É nítida a melhora desse paciente. Quando tem essa ressignificação, ele envereda em um caminho muito mais proveitoso para ele mesmo e consegue superar e enfrentar melhor esse período de tratamento", explicou.

Para ele, ter atividades recreativas e lúdicas durante um tratamento pode ajudar no enfrentamento a doenças cujo diagnóstico pode deixar pacientes emocionalmente fragilizados.

Uma alternativa que faz a diferença, segundo o médico, é buscar apoio em grupos que realizam atividades em conjunto, estimulando o sentimento de pertencimento e propósito.

Hospital do Câncer do Recife (HCP) fica no Bairro de Santo Amaro, Zona Norte do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

No Hospital de Câncer de Pernambuco, no Centro do Recife, há alguns grupos com esse propósito, a exemplo do coral "Ressoar". Ele foi formado em 2013 pelas fonoaudiólogas da instituição com pacientes laringectomizados, que são os que perderam parte ou toda a laringe.

Outro exemplo dentro do HCP é o grupo de apoio do Espaço Renascer, criado em 1978 e formado por mulheres que precisaram enfrentar a mastectomia, nome dado à cirurgia de retirada da mama.

"No 'Renascer', as pacientes têm trabalhos e atividades que ajudam elas a ressignificar a vida", disse o médico Dênis Ramos.

O médico finalizou explicando que tanto o apoio familiar quanto social são de "extrema importância" para que pacientes possam atravessar o processo de um diagnóstico de câncer, podendo superar "com muito mais eficácia esse tratamento, se sentindo mais seguro e amparado".

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