Putin autoriza operação especial no leste da Ucrânia
A operação militar especial descrita por Vladimir Putin num curto pronunciamento durante a madrugada é sinônimo de declaração de guerra e uma demonstração de quem blefou o tempo inteiro nas rodadas de negociações foi o presidente russo. E ele insiste na arte de falsear a realidade, ao assegurar que seu intuito não é a ocupação da Ucrânia, mas a desmilitarização e “desnazificação” do país que não reconhece como legítimo.
Nas últimas semanas, o líder russo chamou de histéricos os alertas do governo americano sobre uma suposta e iminente invasão à Ucrânia. Enquanto ridicularizava o Ocidente, ele disfarçava abertura para uma solução pacífica, mas sem ceder à convicção de que a expansão da OTAN para perto da fronteira russa seria inaceitável.
Putin repete o termo genocídio para alardear a falsa propaganda de que quatro milhões de pessoas que falam russo estão sendo submetidas ao extermínio na Ucrânia. Retrata seus líderes como diabólicos e fanáticos, que patrocinam um regime neonazista apoiado pelo Ocidente.
Trata-se de mais uma falácia: eleito democraticamente em 2019, o presidente Volodymyr Zelensky é judeu e tem o russo como idioma nativo. Num apelo emocionado na quarta-feira à noite aos cidadãos russos do país, Zelensky retratou como insultos as afirmações de Putin:
“Dizem que somos nazistas, mas como um povo pode apoiar nazistas que deram mais de 8 milhões de vidas pela vitória sobre o nazismo? Nazista? Diga ao meu avô, que passou por toda a guerra na infantaria do Exército soviético e morreu como coronel na Ucrânia independente."
Com explosões relatadas em aeródromos, quartéis e armazéns, os ataques desta quinta-feira em várias frentes do país, e não apenas a região separatista de Donbass, demonstram que a Rússia tem como alvo inicial a infraestrutura militar ucraniana. Expõem o objetivo expansionista de Putin de trazer a Ucrânia de volta à influência da Rússia. Esse era o plano o tempo inteiro.