Assunção (Paraguai): A terceira expedição da Rota de Integração Latino-Americana (RILA) deve terminar oficialmente neste sábado (2), quando a maior parte dos integrantes retorna a Campo Grande, após percorrerem mais de 5 mil quilômetros pelos territórios do Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, fazendo um verdadeiro “test drive”das condições atuais do corredor bioceânico.
Nestes oito dias percorrendo os quatro países, os integrantes da expedição puderam reafirmar a potencialidade do corredor para promover uma transformação econômica e trazer desenvolvimento sustentável às regiões por onde passará, revelaram uma maior mobilização e empenho destas nações para efetivá-lo, mas também reiteraram alguns dos gargalos que precisam ser superados neste processo.
A expedição reafirmou a viabilidade da megaestrada ligando o Brasil aos portos chilenos, mas apontou a necessidade da conclusão da pavimentação do último trecho da rota no Paraguai, cerca de 220 quilômetros, entre Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo, na fronteira com a Argentina – obra, inclusive, já licitada pelo governo paraguaio, e também de 25 quilômetros em Misión La Paz, na Argentina, logo após a aduana.
Sem a pavimentação, esse trecho paraguaio fica exposto às variações climáticas, como o excesso de chuva três dias antes da passagem da expedição que formou atoleiros na estrada – como os enfrentados pelos rileiros e que impediu a passagem do que seria a primeira exportação pelo corredor, um caminhão com carne “Made in MS”.
O despacho da primeira carga pelo corredor deve ocorrer entre fevereiro e março de 2024, segundo previsão do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog/MS) e do governo do estado.
Outro entrave logístico atual avança para ser resolvido até 2025. A Ponte da Bioceânica vai viabilizar a passagem de todos os tipos de veículo, de passeio até os de carga, pelo rio Paraguai, entre Porto Murtinho, no Brasil, e Carmelo Peralta, no Paraguai. Atualmente, essa travessia é feita somente por balsa.
Além das questões logísticas, que caminham para serem solucionadas, outro ponto reiterado pela expedição e que requer atenção dos quatro países é a necessidade de uma maior integração e simplificação de processos nas áreas de fronteira para o trânsito de pessoas e cargas. Em alguns dos postos, como no Paso Jama, entre a Argentina e o Chile, o tempo de espera dos integrantes da expedição para cumprir os tramites burocráticos passou de uma hora.
Em contrapartida, as belezas naturais, locais históricos e diversidade cultural do traçado da rota reiteraram sua vocação natural para o turismo. Paisagens como as de Porto Murtinho, do Chaco paraguaio, das cidades argentinas, da Cordilheira dos Andes, dos desertos de sal, do deserto do Atacama e dos municípios costeiros chilenos, como Iquique, encantaram os “rileiros”durante a passagem da expedição.
Outro avanço foi na integração entre os países para desenvolver o projeto da rota. Após o 4º Fórum dos Territórios Subnacionais do Corredor Bioceânico Capricórnio, encerrado na quarta-feira (29), em Iquique, os representantes do estado de Mato Grosso do Sul (Brasil), dos departamentos de Alto Paraguai e Boqueirão (Paraguai), províncias de Jujuy e Salta (Argentina) e regiões de Tarapacá e Antofagasta (Chile) ratificaram o compromisso de fortalecer o Corredor Bioceânico, o destacando com uma grande oportunidade para promover o desenvolvimento sustentável e melhorar a integração entre os estados e países participantes e, ainda, melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.
Definiram ainda a realização de reuniões semestrais sobre a evolução do projeto e acompanhamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a iniciativa.
Durante o Fórum, a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), que também participou dos trabalhos, foi eleita por unanimidade e empossada como presidente do Comitê Gestor dos Municípios que compõem a Rota Bioceânica, passando a representar todas as cidades que compõem o corredor.
Na chegada a Iquique, o presidente do Setlog/MS, Claudio Cavol, já havia avaliado como muito positiva a expedição, reiterando a acolhida por todo o trecho da megaestrada aos integrantes da comitiva e pela participação da expedição no fórum.
Nesta sexta-feira (1º), o grupo saiu de San Salvador de Jujuy, na Argentina e percorreu 1.100 quilômetros até Assunção. Os integrantes saem da capital paraguaia neste sábado (2) de volta para Campo Grande.