Lutar sempre esteve presente na vida do jovem Lucas Lemos da Silva, de 26 anos, seja de maneira literal no taekwondo ou figurativa superando as dificuldades da vida simples em Dourados, município do sul de Mato Grosso do Sul.
A arte marcial entrou na vida de Lucas aos 11 anos e junto dela os princípios da disciplina e determinação, segundo o mestre Jair Amaro. Quando adolescente, participou do projeto social que tinha de apresentar boas notas para desfrutar dos passeios e o professor garantiu que o garoto “fez viajou muito com o grupo”.
“Disciplina de horário, buscar as coisas, fazer as coisas bem-feitas, fazer o que tem que ser feito, sem reclamar. Se tiver que levantar, levanta, se tiver que estudar, estuda. Eu sempre cobrei muito isso deles como atleta. E buscar sempre evoluir. Sempre digo para eles [atletas]: se a gente está aqui na terra é para evoluir e deixar melhor do que chegou. Determinação de querer melhorar sempre”, disse mestre de taekwondo Jair Amaro.
Em uma dessas viagens com o projeto do taekwondo, Jair conta que visitaram a Usina de Taipu e ao saírem Lucas virou e disse determinado: “Mestre, já sei o que vou fazer quando crescer. Vou trabalhar com esse negócio de energia. Vou fazer mestrado na federal do Rio Grande do Sul e mestrado no Canadá. A única coisa diferente que ele fez foi ir para Alemanha. Então ele já sabia o que queria”.
Assim foi a trajetória do jovem que hoje usa o taekwondo para se adaptar ao novo mundo onde viverá até 2022, data que está prevista a conclusão do doutorado. Desde o dia 30 de janeiro está em Karlsruhe, na Alemanha, enfrentando um idioma diferente, um inverno rigoroso, para continuar a pesquisa em materiais cerâmicos no Karlsruhe Institute Technology.
“Estou fazendo taekwondo aqui na Alemanha e está sendo fundamental para minha adaptação aqui”, disse Lucas.
Graduação e mestrado
Foram cinco anos dentro da UEMS. Lucas ingressou no curso de física em 2009, em Dourados, e, no final do primeiro ano, ele transferiu para engenharia física e foram mais quatros anos. Nesse período desenvolveu o projeto de iniciação científica em ‘nano fibras cerâmicas’, que são fios muito pequenos que medem 0,000000001 metro.
“Os materiais cerâmicos estão há mais de 50 anos utilizados na indústria microeletrônica, como no HD, pen drive”, afirmou a professora doutora Margarete Soares da Silva
A professora orientadora Margarete Soares da Silva afirmou que o estudante teve muita facilidade em aprender, muito esforçado, o considerou até um autodidata.
“O Lucas desde o princípio sempre teve interesse na área de materiais e ficou sabendo do meu doutorado sobre material semicondutor, guias elétricas, e me procurou conversou e vi muita vontade dele de trabalhar nessa área e começou a desenvolver alguns trabalhos e foi avançando”, afirmou.
De acordo com a professora, não foi nenhuma surpresa mais essa conquista do ex-aluno. Em relação ao resultado prático da pesquisa, já foram colhidos muitos frutos. “O retorno científico foi com artigos publicados em revistas internacionais de impacto no mundo inteiro”, disse.
Margarete explicou que o material cerâmico pesquisado por Lucas tem várias áreas de aplicação. “O estudo dele é do mais básico, que é desenvolver o material e ver a aplicação em determinada área porque pode ser aplicado de maneira mais específica”, disse.
“Não é possível descrever os resultados na prática, porque para aplicação tecnológica não depende apenas da minha pesquisa. Mas posso dizer que os meus resultados contribuem para o avanço tecnológico de supercapacitores, células fotovoltaicas, células combustíveis (SOFC), entre outros dispositivos eletrônicos”, afirmou Lucas Lemos da Silva, formado em engenharia física, mestre e cursando doutorado na Alemanha.
Em dezembro de 2014 finalizou a graduação, mas foi trabalhar fora da área por não querer seguir a carreira acadêmica. Lucas queria atuar na indústria. Um ano trabalhando como administrador de uma empresa o fez repensar. Então, no final de 2015, passou a procurar programas de pós-graduação para entrar no mestrado.
Durante o mestrado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) conviveu com professores que haviam estudado na Alemanha, o que motivou a procurar processos seletivos no país germânico.
“É minha primeira experiência internacional. A Alemanha é um dos países em que mais se avança a ciência na área de engenharia e que produz resultados de muito impacto”, contou o estudante.
Ao concluir o mestrado em maio de 2017, tentou várias seleções do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), mas não conseguiu.
Então tentou pelo Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD), órgão semelhante ao CNPq na Alemanha, e foi aprovado.