Megaestrada Brasil-Chile: Começa a construção do acesso que liga a BR-267 a Ponte da Bioceânica

Segundo a ministra Simone Tebet, o investimento é de R$ 472,4 milhões e a previsão é que esteja concluído em um prazo de 24 meses, até no máximo dezembro de 2026.

Por Anderson Viegas, g1 MS


Obras da Ponte da Bioceânica, entre Porto Murtinho, no Brasil e Carmelo Peralta, no Paraguai — Foto: MOPC/Divulgação

As obras do acesso de 13 quilômetros que vai ligar a BR-267, em Porto Murtinho, à Ponte da Bioceânica, na fronteira do Brasil com o Paraguai, tiveram início nesta sexta-feira (20). O anúncio foi feito pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, em Campo Grande, durante reunião na sede da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) para discutir as rotas de integração da América do Sul.

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As obras da ponte e do acesso estão entre as principais iniciativas para a viabilização da Rota Bioceânica ou Rota de Integração Latino-Americana (RILA). Esse corredor é uma megaestrada que possibilitará ligar o oceano Atlântico ao Pacífico, no Chile, tendo Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, como ponto de saída do Brasil.

Trecho da Rota Bioceânica na Cordilheira dos Andes, na Argentina — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

A megaestrada, segundo estudos da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), pode encurtar em mais de 9,7 mil quilômetros de rota marítima a distância nas exportações brasileiras para a Ásia. Em uma viagem para a China, por exemplo, pode reduzir em 23% o tempo, cerca de 12 dias a menos.

Esse ganho logístico representa incremento de competitividade para os produtos sul-mato-grossenses e brasileiros. Além disso, a rota possibilita o incremento da comercialização entre os quatro países por onde passa: Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, além de promover a integração cultural e o turismo.

Turismo também pode ser potencializado com a Rota, com visitação a atrativos como a Colina das Sete Cores, na Cordilheira dos Andes, em Jujuy, na Argentina; — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

A ponte está sendo construída por um consórcio binacional, com investimento de R$ 575,5 milhões da administração paraguaia da Itaipu. A estrutura tem uma extensão de 1.294 metros, dividida em três trechos: dois constituirão os viadutos de acesso em ambos os lados, e um corresponderá à parte estaiada, com 632 metros sobre o rio Paraguai, incluindo um vão central de 350 metros. Neste mês, a obra atingiu o percentual de 60% de conclusão, segundo o Ministério de Obras Públicas e Comunicações (MPOC) do Paraguai.

Já o acesso que ligará a BR-267 à ponte está sendo construído pelo governo brasileiro por meio do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT). Além da alça que ligará a ponte, também está sendo construído o contorno rodoviário e o centro aduaneiro, que fará o controle do acesso entre o Brasil e o Paraguai.

Ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; presidente da Fiems, Sérgio Longen e secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Jaime Verruck, em evento em Campo Grande — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

Segundo a ministra Simone Tebet, o investimento é de R$ 472,4 milhões e a previsão é que esteja concluído em um prazo de 24 meses, até no máximo dezembro de 2026. Ela destacou que a Rota Bioceânica e a logística são fundamentais para integrar o Brasil à América do Sul, uma região que historicamente tem sido negligenciada em termos de comércio e desenvolvimento regional. Destacou que, enquanto outras regiões, como América do Norte, Europa e Ásia, priorizam o comércio entre si, o Brasil perde oportunidades de crescimento econômico, geração de empregos e intercâmbio cultural ao não fortalecer suas conexões com países vizinhos.

“Quem está perdendo é o país. Estamos perdendo dinheiro, empregos, renda, crescimento, cultura, turismo e uma série de coisas. Temos que olhar para o nosso próprio continente e aproveitar as oportunidades que estão ao nosso lado”, comentou.

Em relação às questões alfandegárias, a ministra revelou que, no caso da Ponte da Bioceânica, a ideia é trabalhar um centro alfandegário conjunto do Brasil com o Paraguai, nos moldes das unidades já existentes nas fronteiras de outros países cortados pelo corredor. Ela adiantou que essa proposta estará em discussão em uma reunião em novembro, no Paraguai, com a ministra de Obras Públicas e Comunicações do país, Claudia Centurión.

Paso Jama, na fronteira da Argentina com o Chile — Foto: Anderson Viegas/g1 MS

Simone Tebet disse, inclusive, que a Receita Federal já tem um levantamento do número de servidores que seriam necessários para implementar esse modelo e que já existe um compromisso do secretário especial do órgão, Robinson Barreirinhas, de separar uma parte dos aprovados em novos concursos para atuação nessa unidade.

O secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia, Jaime Verruck, aponta que o desafio no período que existe ainda até a conclusão das obras físicas é avançar na discussão de um sistema alfandegário mais simplificado e ágil entre os quatro países, para assegurar a competitividade da rota.

Verruck também destacou cadeias que podem se beneficiar mais do corredor, como as de maior valor agregado, tendo como exemplo as proteínas, e nas oportunidades para as importações também.

“Chegar na China com um produto com um custo 30% menor do que sair com ele por Santos, e aí estar muito focado nas proteínas animais e em produtos de mais valor agregado. O objetivo não é sair com soja em grão por essa rota. O corredor também abre a possibilidade de dar maior competitividade aos produtos asiáticos na economia brasileira. E aí nós temos que olhar quais são esses produtos que também vão chegar a Mato Grosso do Sul com uma redução de custo. Isso cria uma oportunidade. Talvez o estado tenha a opção de ser um grande distribuidor de produtos asiáticos para a economia brasileira.”

Corredor rodoviário quer ligar o brasil aos portos do chile no oceano Pacífico, como o de Antofagasta. — Foto: Anderson Viegas - g1 MS

Por sua vez, o presidente da Fiems, Sérgio Longen, destacou as potencialidades da rota e também alguns desafios. “Para quem exporta, nós teremos benefícios enormes que serão criados, facilitando de certa forma com redução de custos, isso gerando mais competitividade para a indústria nacional, também a indústria de Mato Grosso do Sul. Mas temos também uma preocupação com a importação. Temos um custo Brasil muito elevado e isso muitas vezes reduz a competitividade com o mercado internacional. Nessa oportunidade de exportação, nós também teremos a dificuldade com a importação para a indústria local. Então, é uma preocupação que estamos discutindo com os governos federal e estadual. Não é protecionismo, muito pelo contrário, é avaliarmos oportunidades com essa situação e é isso que estamos buscando.”

Ele também apontou que um amplo portfólio de industrializados pode se beneficiar do novo corredor logístico. “Todos os produtos que normalmente vão para a Ásia terão oportunidades de melhorias de competitividade. Então tem aí uma série de produtos que o Brasil já exporta. E não somente de Mato Grosso do Sul, mas com certeza outros estados também vão usar o Corredor Bioceânico.”

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