Mapa exclusivo mostra que Grande SP concentra 70% de roubos e veículos no estado
A Região Metropolitana de São Paulo teve mais de 46 mil casos de roubos e furtos de veículos no primeiro semestre deste ano.
É o que aponta um levantamento exclusivo do Monitor da Violência do g1, em parceria com o Fantástico, feito com base nos dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do estado.
O número representa 70% do total de casos do estado (65,8 mil), embora as 39 cidades da Região Metropolitana concentrem 47% da população de São Paulo.
Navegue pelo mapa abaixo e veja as ruas com mais ocorrências:
Para saber como navegar no mapa, clique na interrogação para ver um tutorial.
Veja os destaques:
- Em número absolutos, a capital paulista lidera o ranking não apenas da Grande São Paulo, mas do estado – afinal, a cidade também é a mais populosa. Foram 27,7 mil roubos e furtos de veículos no primeiro semestre deste ano.
- Considerando a taxa, porém, Santo André é, disparada, a cidade mais violenta. Foram 401 crimes a cada 100 mil habitantes no período. A média do estado no período foi de 148 por 100 mil habitantes.
- As cidades com menos casos da RMSP foram Pirapora do Bom Jesus e Salesópolis, com 4 crimes cada uma. Isso representa taxas abaixo de 30 casos a cada 100 mil pessoas.
Ranking das cidades da Região Metropolitana, por taxa de crimes a cada 100 mil habitantes:
Os dados acima se baseiam nos balanços consolidados divulgados pela SSP mensalmente em seu site de estatísticas. São considerados todos os tipos de veículos: carros, motos, caminhonetes, caminhões etc.
Para fazer o mapa, o g1 utilizou informações presentes na página da Transparência da SSP, que contém dados mais detalhados de localização.
Estes dados, porém, passaram a ser disponibilizados de forma auditada apenas a partir de fevereiro deste ano. Por isso, o mapa não possui as informações dos crimes registrados em janeiro. (Leia mais abaixo sobre a metodologia do levantamento.)
Este levantamento faz parte do Monitor da Violência, uma parceria do g1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Estado teve alta de casos em 2023
A primeira reportagem desta série foi publicada na manhã deste domingo (13) e mostrou que, no geral, o estado de São Paulo teve 15 veículos roubados ou furtados por hora no primeiro semestre deste ano.
Os números deste ano indicam um aumento de 3% em relação ao mesmo período do ano passado – o que representa um ponto de atenção para os especialistas. Isso porque esta alta pode ser um indicativo de que o mercado de roubo de veículos e de venda de peças roubadas está aquecido.
“Com o fim da pandemia, a gente teve um aumento rápido e expressivo da necessidade de chips, e isso afetou a produção de veículos do mundo todo. (...) Isso fez com que o preço do veículo aumentasse. Quando o preço do veículo aumenta, as pessoas começam a focar mais no carro usado”, diz Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e membro do FBSP.
“Junto a isso, a gente teve uma depressão econômica, ou seja, a pessoa comprou um carro usado, que precisa de manutenção muitas vezes, e ela tá com menos dinheiro. Qual é a opção racional que a pessoa faz? Ela tenta comprar uma peça mais barata. Muitas vezes, essas peças são fruto de crime, são peças de veículos que foram roubados e furtados.”
Esse processo inteiro faz com que os esquemas dos desmanches comecem a funcionar mais, segundo o sociólogo Leonardo Ostronoff, pesquisador do NEV-USP.
“O mercado ilegal é dinâmico. O criminoso vai olhando o movimento da economia informal, as oportunidades. Eles vão migrando para onde dá mais lucro, com o menor risco possível. Agora é a vez dos veículos”, diz.
Desmanches na Zona Leste e no ABC
Quinze veículos foram roubados ou furtados por hora em 2023 no Estado de SP
O aquecimento do mercado das peças roubadas está por trás da maior concentração de crimes na região leste da Região Metropolitana de São Paulo. Isso porque, segundo os especialistas, os desmanches -- locais em que os veículos são desmontados -- estão principalmente localizados nestas áreas.
Os principais destaques são as cidades de Santo André, Mauá e Diadema, que são as que têm as maiores taxas de incidência de roubos e furtos de veículos da RM.
"Tem muitas montadores de carros e áreas de desmanche no ABC e na Zona Leste de São Paulo. Onde tem desmanche, tem facilidade maior de fazer o esquema completo do crime. É mais fácil roubar na área de desmanche porque fica mais perto e o risco é menor de ser pego pela polícia", diz Ostronoff.
"Onde tem desmanche, tem tendência de aumento no número de roubo e furto de carros."
A Polícia Civil diz que vem combatendo os crimes de roubos e furtos de veículos, e que tem prendeu mais de 500 pessoas e localizou mais de 450 carros. "São crimes complexos, porque nós estamos falando em organização criminosa, com divisão de tarefas, diversas células criminosas que atuam, cada uma é responsável por algo", afirma Leslie Caram Petrus, delegada de roubos e furtos de veículos da Divisão de Investigações sobre Furtos, Roubos e Receptações de Veículos e Cargas (Divecar).
Metodologia dos dados e do mapa
Para analisar a tendência dos crimes de roubo e furto de veículos no estado, o g1 utilizou os números disponíveis no site de Estatísticas da SSP-SP.
Estes dados representam os balanços oficiais e consolidados dos crimes ocorridos no estado. Há informações por ano, mês, cidade e distritos policiais – mas não há informações por endereço e dia, dados necessários para fazer um mapa de crimes.
Por isso, o g1 utilizou outra fonte de informações oficiais da SSP-SP, o site da Transparência, que possui dados mais detalhados sobre os principais crimes do estado. Por conta de uma mudança de metodologia da atual gestão do estado, porém, apenas há dados auditados de fevereiro a junho destes dados detalhados.
Os dados disponíveis de janeiro seguem a metodologia anterior e não são auditados. Isso quer dizer que eles não passam por uma checagem para garantir a confiabilidade das informações.
Eles apresentam diferença considerável em relação ao dado oficial e fechado de ocorrências divulgado pela SSP. Por conta dessa discrepância, o g1 optou por não utilizar estes dados no mapa junto com os dados auditados. Assim, o mapa possui ocorrências de fevereiro a junho deste ano.
Além disso, algumas das ocorrências presentes da base de dados da Transparência estão sem geolocalização – o dado necessário para determinar o ponto espacial em que o crime aconteceu – ou estão sem informação por conta de determinações da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que preserva o endereço residencial das vítimas.
Estes casos também não aparecem no mapa por causa da falta de dados.