Leia exemplo de redação nota mil do Enem 2021 de candidata de Minas Gerais

Emanuelle Severino é uma das 22 candidatas que tiraram nota máxima na redação do Enem 2021 no país. A estudante foi aprovada para cursar medicina na UFMG.

Por Leonardo Milagres*, g1 Minas — Belo Horizonte


Redação nota mil da candidata Emanuelle Severino, de Belo Horizonte, em Minas Gerais — Foto: Divulgação

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou os espelhos das redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 nesta sexta-feira (8).

Em Minas Gerais, a estudante Emanuelle Severino, de 20 anos, foi uma das cinco candidatas do estado que tiraram nota mil (veja a redação transcrita abaixo). Com a pontuação, ela foi aprovada no curso de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A consulta à correção da prova pode ser feita na página do participante do Enem – basta digitar os dados de login para baixar um arquivo que mostra uma versão digitalizada, como se fosse uma foto, do texto entregue pelos alunos.

Segundo o Inep, 22 participantes conseguiram nota máxima na redação no país.

Temas das redações

Ao todo, 2.267.350 pessoas participaram da edição nas três versões do Enem 2021. Os temas propostos foram:

  • Aplicação regular e digital: "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil"
  • Reaplicação, PPL e isentos em 2020: "Reconhecimento da contribuição das mulheres nas ciências da saúde no Brasil"

Redação nota mil

Estudante com nota mil na redação foi aprovada no curso de Medicina da UFMG — Foto: Emanuelle Severino / Arquivo pessoal

Em Belo Horizonte, a estudante Emanuelle Severino, que já sabia da nota mil desde fevereiro, compartilhou sua redação com o g1. O texto foi escrito de forma literal, inclusive com eventuais erros de ortografia (veja abaixo).

A candidata escreveu sobre o tema "Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil". Ela conta que apesar de ter ficado surpresa com o assunto, o maior segredo está na preparação.

"Eu não gosto muito de tentar adivinhar, porque em todas as vezes que eu fiz a prova, o tema me surpreendeu. Então, eu me preparei para escrever. O mais importante é saber a estrutura e as competências. Fora isso, praticar bastante, pelo menos um texto por semana", diz.

Veja outras dicas que a estudante deu para os participantes do Enem.

Com a nota, ela entrou para o curso de medicina da UFMG.

Emanuelle Severino, 20 anos - Belo Horizonte (MG)

Trecho da redação nota mil de Emanuelle — Foto: Divulgação

"A cidadania, no contexto relativo à Grécia Antiga, era restrita aos homens aristocratas, maiores de vinte e um anos, que participassem do sistema político de democracia direta do período. Diferentemente dessa conjuntura, a Carta Magna do Estado brasileiro, vigente na contemporaneidade, concede o título de cidadão do Brasil aos indivíduos nascidos em território nacional, de modo que a oficialização dessa condição está atrelada ao registro formal de nascimento. Nesse contexto, convém apresentar que, em virtude da ausência dessa documentação, diversas pessoas passam a enfrentar um quadro de invisibilidade frente à estrutura estatal e, com isso, são privadas da verdadeira cidadania no país.

Acerca dessa lógica, é necessário pontuar a dificuldade da parcela da população brasileira, em situação de vulnerabilidade socioeconômica, no acesso ao procedimento de registro civil. Sob esse viés, destaca-se que, segundo relatório de 2019 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Brasil é o último país mais desigual do mundo, condição que implica a existência de indivíduos tupiniquins detentores de rendas extremamente baixas, as quais, muitas vezes, não são suficientes para fornecer condições de vida dignas a essas pessoas. A essa linha de raciocínio, os limitantes recursos financeiros podem impossibilitar o deslocamento desses indivíduos até os cartórios, devido aos custos com transporte e, por conseguinte, impedir a realização do registro. Assim, a acentuada desigualdade social da nação dificulta a promoção da documentação pessoal, especialmente, para as classes sociais menos abastadas.

Além disso, é importante relacionar a falta de documentos de nascimento com o sentimento de invisibilidade desenvolvido pelos indivíduos sem registro, tendo em vista a privação dos direitos sociais, civis e políticos desencadeada pela problemática pela problemática discutida. Sob essa óptica, somente a partir da certidão de nascimento pode-se emitir as carteiras de identidade e de trabalho, bem como o título de eleitor e o cadastro de pessoa física. Nesse sentido, o acesso aos programas do governo, a exemplo do auxílio emergencial - assistência financeira concedida durante a pandemia da Covid-19 -, à seguridade social e ao exercício do voto dependem, diretamente, da existência do registro civil. Portanto, a ausência da documentação formal torna parte da população invisível socialmente, já que essas pessoas não podem beneficiar-se dos serviços e das garantias do Estado ̶d̶e̶ ̶D̶i̶r̶e̶i̶t̶o̶ ̶b̶r̶a̶s̶i̶l̶e̶i̶r̶o̶ Democrático de Direito brasileiro.

Diante do exposto, conclui-se que o registro civil é um aspecto intrínseco à cidadania no Brasil. Por isso, o Governo Federal deverá propiciar a acessibilidade das populações mais carentes, que sofrem com a falta de acesso à documentação, a esse tipo de serviço, por meio da articulação de unidades móveis para os cartórios do país. No que tange a esse aspecto, os veículos adaptados transportarão os funcionários dos órgãos de registros até as áreas de menor renda "per capita" de seus respectivos municípios, um dia por semana, com o intuito de realizar o procedimento formal de emissão dos documentos de nascimento dos grupos sociais menos favorecidos economicamente. Desse modo, um maior número de brasileiros acessará, efetivamente, a condição de cidadão."

*Estagiário sob supervisão de Cristina Moreno de Castro

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