Uma casa foi 'engolida' por uma das voçorocas que ameaçam moradores em Buriticupu, no Maranhão. O caso aconteceu após um deslizamento de terra ocorrido na noite desta terça-feira (9), em uma rua do bairro Vila Isaías.
Segundo o Corpo de Bombeiros, a residência já havia sido evacuada e não houve vítimas. No entanto, o caso reascendeu o medo dos moradores da região de perderem suas casas. Atualmente, 27 famílias foram retiradas de suas moradias e outras 200 correm o risco de perderem suas residências por causa das voçorocas.
Historicamente, segundo pesquisadores, já foram mais de 50 casas engolidas pelas crateras nas últimas décadas e cinco pessoas morreram ao caírem nas voçorocas de Buriticupu.
No dia 1º de maio, o policial militar aposentado José Ribamar Silveira caiu dentro de uma das crateras enquanto manobrava uma caminhonete.
A queda foi de uma altura de, aproximadamente, 80 metros e ele teve várias fraturas. José foi encaminhado para São Luís e segue internado no Hospital do Servidor.
Policial cai em voçoroca de 80 metros em Buriticupu
Voçoroca é um problema antigo na cidade
As voçorocas são o nome científico do fenômeno erosivo que atinge o lençol freático e Buriticupu tem uma das maiores concentrações do fenômeno no país. São 26 crateras que avançam pela cidade há pelo menos 30 anos.
Voçoroca: entenda por que crateras ameaçam a cidade maranhense de Buriticupu
De acordo com Marcelino Silva Farias, professor do departamento de Geociência da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e doutorando em ciência do solo, a universidade alertou as autoridades, por meio da publicação de artigos em revistas, sobre o problema. Para ele, faltou planejamento no modelo de urbanização e ação para combater o avanço das crateras em Buriticupu.
"Poderia ter sido feito, antes que eles surgissem, deveria ter tido um planejamento adequado para a cidade. E posteriormente um planejamento adequado para a cidade. Surgiu um problema, vamos conter", disse o professor.
Desde 2012, o professor acompanha a situação das voçorocas e afirma que as chuvas concentradas, o relevo da área e a presença do ser humano, são alguns dos fatores que contribuem para a aceleração do fenômeno.
"O relevo, o solo, os vale que estão sendo formados, as chuvas concentradas que estão sendo formadas, que condicionam esses processos naturalmente. Só que esses processos são acelerados pela presença do ser humano, aí entra a questão do planejamento urbano ou a falta dele, entra também as cidades construídas em locais inadequados, entra também o sistema de pavimentação sem esgotamento sem escoamento adequado", explica.
O filho da lavradora Maria Antônia Costa foi uma das vítimas das voçorocas e morreu ao cair em uma das crateras. No dia da tragédia, toda a área estava encoberta por água, inclusive as calçadas que têm cerca de 1,5 metro.
O filho da lavradora foi arrastado cerca de 150 metros até a cratera e acabou caindo no abismo. No local, a Prefeitura de Buriticupu chegou a fazer uma obra paliativa para tentar conter o avanço da voçoroca, mas não colocou proteção.
"Quando chegou bem aí na esquina, pegou ele e jogou ele naquela parede alta bem ali. Acho que quando jogou ele, ele já ficou desacordado. Ai a água arrastou, assim como aconteceu com ele, já aconteceu outras mortes, mais duas. Uma parecida com ele porque nesse tempo tinha um buraco ali que podia colocar duas casas dessa, que ninguém alcançava", relembra Maria.
Em março, a Defesa Civil Nacional esteve em Buriticupu avaliando a situação. Na época, foi decretado estado de calamidade pública. O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional se comprometeu em ajudar a resolver o problema.
"Já publicamos artigos em revistas alertando que se não for feito um planejamento, não for feita a contenção, a cidade tende a desaparecer. Mas o desaparecimento ele é naquele local, a cidade vai crescendo para outros locais e outros pontos problemáticos surgirão", diz Marcelino Silva Farias.
Voçorocas também atingem outras cidades
O fenômeno também atinge outras cidades do Maranhão. Em Bom Jesus das Selvas, cidade a 465 km de São Luís, muitas casas desabaram com as erosões e outras foram abandonadas pelos moradores. Cerca de 200 famílias que residem próximo às crateras, vivem com medo de perder tudo.
"É um buraco mais horrível do mundo. Já caiu duas barreiras ou três para o lado de cá, mas para o lado de cá não. E eu estou pensando que vai cair viu? E a terra é toda mole", desabafa Elsa Lima, lavradora.