Exclusivo: escavadeiras e até caminhões trafegam por galerias subterrâneas de mina de lítio

Mina no Vale do Jequitinhonha, em MG, tem banheiro químico e câmaras de refúgio, que estão em locais estratégicos para alguma emergência. Três reportagens especiais mostram a corrida em busca do elemento químico considerado estratégico no mercado internacional.

Por Jornal Nacional


Escavadeiras e até caminhões trafegam por galerias subterrâneas de mina de lítio

Em três reportagens especiais, Jornal Nacional mostra a importância estratégica do lítio, um metal fundamental para indústria em todo o planeta, matéria-prima das baterias dos celulares, dos laptops, dos veículos elétricos. O Brasil tem 8% das reservas mundiais do lítio.

No material exclusivo para a internet, a repórter Janaína Lepri mostra detalhes sobre a mina de lítio que a equipe do Jornal Nacional visitou. Uma viagem pelos túneis subterrâneos criados para extrair toda essa riqueza.

Dois mundos completamente diferentes. Do alto, não dá para imaginar o que se passa debaixo desse pedaço de chão do Vale do Jequitinhonha. Por isso, o Jornal Nacional entrou na Mina da Cachoeira, operada desde 1991 pela Companhia Brasileira de Lítio.

Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

A primeira surpresa foi o acesso: a aventura começou em carros com tração quatro por quatro que circulam por 14 km de um sistema de túneis.

“A gente imaginava que ia pegar um elevador, descer metros por um túnel. A gente ia descendo com o carro bem tranquilo, não tinha a sensação de que a gente estava muito para baixo”, conta o repórter cinematográfico Adriano Ferreira.

As galerias subterrâneas descem suavemente em direção ao subsolo. Dá para ver que são bem altas e largas. É que por lá também passam equipamentos pesados, escavadeiras e outros veículos maiores - inclusive caminhões.

Exclusivo: escavadeiras e até caminhões trafegam por galerias subterrâneas de mina de lítio — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

“É um formigueiro gigante. Conforme você vai descendo, vão abrindo outras vias e essas vias abrem outras vias”, diz Adriano Ferreira.

“Como se fosse a raiz de uma planta que vai ramificando, e é por isso que tinha sempre um carro na frente da gente para que a gente pudesse andar lá e não se perder. Sempre estar com alguém da companhia com a gente”, conta a repórter Janaina Lepri.

Para a equipe, os túneis amplos eliminaram a sensação de claustrofobia. As máquinas perfuram os pontos previamente marcados em vermelho. A água serve para resfriar o equipamento e, também, para controlar a poeira. A tubulação instalada perto do teto faz parte do sistema de ventilação e exaustão da mina. A temperatura média ali dentro é de 26º C.

Mas tem muito barulho. Os trabalhadores usam protetores de ouvido, além de outros equipamentos de segurança, como capacetes e máscaras. A equipe também entrou paramentada, depois de receber orientações sobre como se movimentar na mina.

“Iluminação boa. Achei que ia ser bem mais escuro. Fiquei bem tranquilo. Em nenhum momento fiquei nervoso de estar lá embaixo não”, conta Adriano Ferreira.

“Isso foi legal de mostrar nessa reportagem. Não esperava que fosse ser desse jeito. Claro que a gente não sabe se todas as minas são assim, mas essa, pelo menos, que a gente foi, era bem tranquilo”, diz a repórter Janaina Lepri.

A empresa informou que adota padrões extremos de segurança. Existe um sistema de monitoramento contínuo de atividade sísmica. Cabos de aço reforçam a estrutura interna e, em alguns lugares, as máquinas são pilotadas por controle remoto.

A mina tem banheiro químico e câmaras de refúgio, que estão em locais estratégicos para o caso de alguma emergência. Dentro, tem oxigênio, comida, água e equipamentos de comunicação. Também há máscaras e rotas de fuga por escadas que levam diretamente à superfície. A CBL diz que nunca teve registro de acidente grave.

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A atividade não para. A mina opera 24 horas por dia, em quatro turnos de seis horas. É na troca de equipe que ocorrem as detonações de dinamite para liberar a rocha que "guarda" o lítio - a parte mais clara do paredão. São 35 explosões programadas por semana.

“Quando a gente tem vários minerais agrupados, a gente teria uma rocha, um tipo de rocha. Então, nesse caso aqui, a nossa rocha é o pegmatito e ele é composto por diversos minerais. Nesse caso aqui, dá para a gente observar a diferença de cada mineral, porque na rocha de pegmatito, os minerais são grandes. Então, visivelmente, a gente consegue diferenciá-los. E, nesse caso, esse mineral mais esverdeado, essa massa esverdeada seria os minerais do espodumênio, que seria onde estaria o lítio”, explica Carlos Ribeiro, coordenador de geologia.

Segundo o geólogo, o veio do minério tem em média 6 m de largura, mas pode chegar a 10 m, 12 m. A rocha mais escura é o xisto.

Escavadeiras e até caminhões trafegam por galerias subterrâneas de mina de lítio — Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

A mineração avança em direção às profundezas, a mais de 200 m da superfície, o pegmatito é predominante. A descida fica mais íngreme, a temperatura mais alta. Até que chegou um momento em que tivemos que parar a gravação.

Adriano Ferreira: “Como a gente estava com o carro, com o ar condicionado ligado, quando a gente saiu com a câmera para fora do carro, condensou na hora. É igual espelho de banheiro. Quando você toma banho, o vapor deixa o espelho daquele jeito. É aquilo o que acontece com a câmera”.
Janaina Lepri: “Aí você foi no ar quente, igual a gente faz com o secador de cabelo?”
Adriano Ferreira: “Exatamente. Aí o ar do carro foi o secador de cabelo. Liga ali no quente, segura a câmera ali na frente e deixa esquentar até começar a evaporar aquele embaçado e voltar ao normal”.

Foram quase cinco horas no interior da mina. E esse é, sem dúvida, um daqueles lugares em que a gente mal se dá conta da passagem do tempo.