O mistério da famosa areia preta do ES que atraiu até Garrincha em 63
O balneário de Guarapari, no Espírito Santo, tem mais de 50 praias que atraem uma multidão de visitantes. Mas, além das belezas naturais, esse trecho do litoral capixaba chama a atenção também pela saúde. Veja no vídeo acima.
A areia preta, que dá nome a uma praia, guarda um mistério que começou a ser desvendado em 2008, durante as férias do físico nuclear, Marcos Tadeu Orlando.
“Eu vim visitar Guarapari e eu estava com um medidor de radiação, normal e ele disparou como era previsto, e aí eu falei: olha, está certo. Está tendo radiação nas praias de Guarapari”.
A areia é do tipo monazítica, tem elementos químicos raros, como o tório, que brilha e emite radiação gama, mas, há um detalhe: ela não tem urânio, que é o que pode fazer mal.
“Essa é a grande diferença, que é única. Então, isso só vai ter aqui e na Índia. Você tem uma combinação de fatores que você não tem em nenhum lugar no mundo”.
Hoje é sabido que ela não faz mal, mas nos anos 50 e 60, embora ainda não houvesse comprovação científica, pessoas saíam de longe para cobrir o corpo com a famosa areia preta, que diziam dar aliviar dores das articulações. Até Garrincha e a namorada, Elza Soares, visitaram as areias milagrosas devido às dores nas pernas que o jogador sofreu durante toda a carreira. O casal parou Guarapari, em 1963. Veja na foto abaixo.
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Anos depois, as areias pretas de Guarapari continuam atraindo pessoas em busca de alívio para as dores. Para ter certeza desse poder de cura, o físico nuclear Marcos pediu a ajuda da doutora Sônia Golvea, especialista em ciências fisiológicas.
A Universidade Federal Do Espírito Santo e a USP, em São Paulo, se uniram numa pesquisa que durou 6 anos. Os resultados apontaram que a areia radioativa pode ser aliada até no combate ao câncer.
A descoberta foi revelada, em primeira mão, no Globo Repórter desta sexta-feira (5), que fez uma expedição pelo litoral capixaba. Saiba mais abaixo:
O estudo
Marcos testava as areias em um simulador, enquanto Sônia preparava as jovens ratinhas de laboratório. A radiação era feita com o simulador que foi criado pelos físicos.
A areai foi colocada embaixo das ratinhas. Foram ao todos, três meses em um viveiro, sob a areia radioativa. Eles foram questionando e analisando cada detalhe na saúde das ratinhas, e o resultado comprovou: a areia não faz mal.
“Isso já era uma resposta positiva, ou seja, a gente observou que não houve alteração no coração, no fígado, no rim no cérebro. Então nós avaliamos o todo”.
O próximo passo foi estudar a relação dessa radiação com um possível desenvolvimento de câncer. A doença foi induzida nos órgãos reprodutores de dois grupos. As ratas expostas à areia chamaram a atenção dos físicos: não desenvolveram o tipo agressivo. Já as que não ficaram expostas à areia, todas tiveram.
“A gente fez de novo e a resposta continua sendo a mesma. Há um efeito positivo dessa radiação, produzindo uma resposta menos agressiva no desenvolvimento desse tumor. A gente tem como provar através de todos os protocolos e foram muitas análises”.
A radiação da areia não promoveu cura, mas ativou mecanismos de defesa.
“Que é o princípio da vacina. Você coloca um negócio ruim, que é o vírus, mas em doses pequenas, e aí você se defende”.
Veja a íntegra do programa abaixo:
Globo Repórter – litoral do ES – 05/07/2024
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