Marinha alerta sobre cuidados com passeios em lanchas após explosão que deixou capixabas mortos e feridos no RJ

Acidente em Cabo Frio, na Região dos Lagos (RJ) no dia 17 de junho. Analisar as condições da lancha e se ela está com a fiscalização em dia são algumas das observações feitas pela Marinha.

Por Priciele Venturini, g1 ES e TV Gazeta


Marinha alerta sobre cuidados para evitar acidentes em passeios após explosão de lancha

A explosão de uma lancha com dez passageiros capixabas em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, deixou um alerta sobre a segurança e os cuidados com essas embarcações. A Marinha do Brasil é o órgão responsável pela fiscalização de lanchas e explicou que antes de contratar passeios, algumas observações nas condições da embarcação e na documentação precisam ser feitas.

No acidente em Cabo Frio, as vítimas contaram que a lancha explodiu no início do passeio, minutos após a lancha parar para abastecer. Duas pessoas morreram no acidente que aconteceu no dia 17 de junho, dentre elas uma criança de 4 anos.

Segundo o chefe do Departamento de Segurança do Tráfego Aquaviário do Espírito Santo Daniel Silva Velho, justamente, por ter produtos inflamáveis na embarcação, a fiscalização precisa ser ainda mais criteriosa.

"Uma embarcação possui naturalmente produtos químicos e combustíveis que são inflamáveis. Então se eles estiverem mal acondicionados a bordo ou se algum equipamento tiver algum vazamento, isso já é o suficiente para gerar um risco imenso de explosão", apontou Daniel.

Daniel disse ainda que quando uma embarcação é abordada, a documentação e as condições dos equipamentos de segurança e navegação são verificadas.

Capitania dos Portos do Espírito Santo — Foto: Reprodução/TV Gazeta

Além disso, o capitão da Marinha orientou o que deve ser observado na hora de contratar o serviço.

"Verificar se os condutores são habilitados para isso, as condições da lancha, se você está em uma embarcação bem cuidada, com equipamentos bem conservados, equipamento que funcionam, principalmente coletes e boias salva-vidas. Se você está na embarcação e de repente tá sentindo um cheiro persistente de combustível, alguma coisa está errada", pontuou o capitão.

Quem trabalha com aluguel de lanchas também sabe que algumas medidas de segurança sobre o comportamento dentro da embarcação são fundamentais.

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O empresário que trabalha no ramo há 15 anos, Pablo Huber, disse que está sempre alerta para evitar acidentes. Ele disse que na alta temporada, chega a alugar sete lanchas em um único dia.

"Não pular e não entrar na água sem autorização, além de que o abastecimento da embcarçao jamais pode ser feito com os passageiros dentro. Desliga a máquina, tira todo mundo de dentro da lancha, abre os paineiros para arejar", disse Pablo Huber.

Cinco pessoas foram encaminhadas para um hospital de Cabo Frio no acidente do dia 17 de junho. — Foto: Mariana Couto/g1

O empresário recomendou que ao alugar uma lancha, as pessoas se preocupem mais com as condições da lancha do que com os preços oferecidos.

"Eu acho que as pessoas não prestam tanta atenção, elas se ligam muito no valor, em tentar conseguir propostas mais baratas e aí acabam caindo no primeiro que fez um preço melhor. Se uma oferta foge demais ao padrão, você pode desconfiar porque pode ter algo errado", comentou.

Estado de saúde das vítimas

Nayara Tauslane Andrade, de 22 anos e o filho Jean Andrade, de 1 ano e 5 meses, seguem internados no Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT).

O quadro de saúde dos dois é estável, mas ainda não há previsão de alta. Uma semana após o acidente, mãe e filho se reencontraram no hospital.

"É muito bom ver que meu filho tá bem, se recuperando. Todo mundo tá cuidando muito bem dele. Ele deu tchau pra mim. Está melhorando muito, graças a Deus. Por um momento, achei que nunca mais ir ver meu filho", diss Nayara durante o encontro.

Davi Freire Zerbone, de 4 anos e Aleksandro Leão Vieira, de 36 anos, são do Espírito Santo e morreram em explosão de lancha em Cabo Frio, RJ — Foto: Reprodução

Ana Lívia Pimentel, de 5 anos e Caroline Pimentel, de 28 anos, foram transferidas para o Espírito Santo nesta quarta-feira (27). Elas são filha e esposa do empresário Aleksandro Leão Vieira, que não resistiu aos ferimentos do acidente e morreu na madrugada de domingo (23).

Caroline foi levada para o Hospital Jayme Santos Neves, na Serra, e a criança para o Hospital Infantil de Vitória.

Segundo a irmã do empresário, Aleksandro voltou para a embarcação para salvar as crianças.

"Quando a embarcação explodiu, ele foi arremessado para fora da lancha. Mas ele voltou para pegar as crianças, que era o Davi, o Gean e a filha dele, Ana Júlia. Só que esse retorno não foi tão rápido. No susto, ele ficou paralisado até realmente conseguir pegar os pequenos", disse a irmã Aline Vieira.

Letícia Sampaio, de 26 anos, também foi transferida para o Jayme no domingo. A vítima está grávida de 3 meses e seu quadro de saúde é estável. O filho de Letícia, Davi Freire Zerbone, foi a primeira vítima do acidente que teve a morte confirmada na sexta-feira (21).

Mãe e filho se reencontram uma semana após acidente com lancha em Cabo Frio — Foto: Reprodução: Secretária Estadual de Saúde (SES-RJ)

A criança estava internada no Hospital Estadual Roberto Chabo, em Araruama, na Região dos Lagos, em estado grave. Davi teve 100% do rosto queimado e chegou a ser entubado.

O acidente

O acidente ocorreu na tarde de segunda-feira (17) na Ilha do Japonês, em Cabo Frio. Havia 11 pessoas na embarcação - o piloto e 10 passageiros - e, de acordo com um dos passageiros, a explosão ocorreu minutos após a lancha parar para abastecer.

Questionada sobre o acidente, a Marinha do Brasil informou que a Delegacia da Capitania dos Portos em Cabo Frio (DelCFrio) instaurou inquéritos administrativos, cujo prazo de conclusão é de 90 dias, com o propósito de apurar causas, circunstâncias e possíveis responsabilidades do acidente.

Leia a nota na íntegra:

A Marinha do Brasil (MB), por intermédio do Comando do 1º Distrito Naval (Com1°DN), informa que a Delegacia da Capitania dos Portos em Cabo Frio (DelCFrio) instaurou Inquéritos Administrativos sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN), cujo prazo de conclusão é de 90 dias, com o propósito de apurar causas, circunstâncias e possíveis responsabilidades, sobre os últimos acidentes com as embarcações "A MAR I", "BRADOCK" e "EYE SEA", ocorridos em Cabo Frio - RJ. Os IAFN encontram-se em sua fase de instrução, a qual abrange todos os esforços para a elucidação destes acidentes.

Pontua-se que Ações de Fiscalização do Tráfego Aquaviário (AFTA) são realizadas nas Marinas e Iates Clubes, procedendo uma verificação documental e de equipamentos previstos nas Normas da Autoridade Marítima. Não obstante, as AFTA também são conduzidas no mar, efetuando-se inspeção na documentação do condutor, da embarcação e nos itens de segurança obrigatórios. Em 2024, foram realizadas mais de 5.840 inspeções, 314 notificações, além de 22 apreensões.

Insta salientar, por oportuno, que a DelCFrio realiza palestras para a Comunidade Marítima, ocasião quando é possível reforçar não somente as principais recomendações e precauções de segurança, previstas nos anexos 4B e 5F da NORMAM-211/DPC, mas também contribuir para a redução de falhas de procedimentos.

Cabe ressaltar que a Marinha incentiva e considera importante a participação da sociedade, que pode ser feita pelos telefones 185 (número para emergências marítimas e fluviais, além de pedidos de auxílio), (21) 2104-6119 e (21) 97515-7895 (diretamente com o Com1ºDN, para outros assuntos, inclusive denúncias).

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