Jovem descobre câncer no exame admissional e amputa as pernas
Quatro meses após amputar as pernas durante tratamento contra uma Leucemia Linfoide Aguda (LLA), a capixaba Bianca Andrade, de 25 anos, sonha com o momento em que vai poder voltar a andar e retomar a independência em suas atividades do dia a dia. Em julho de 2023, a jovem fez um exame admissional exigido para a contratação em um estágio, que revelou um câncer no sangue.
"Tudo mudou na minha vida. Eu tive que trancar a faculdade, eu não posso trabalhar. Eu ainda dependo da minha família para me levar até o banheiro. Mas, em breve, tudo isso vai mudar também", comentou.
A jovem mora com a família em Flexal, em Cariacica, na Grande Vitória. Antes de ir para casa, depois da amputação, precisou de ajuda para adaptar o lar a nova realidade.
"De imediato, quando eu estava no hospital ainda, meus amigos e familiares fizeram um mutirão e conseguiram ajeitar a casa. Eles nivelaram o chão, ampliaram a cozinha, tiraram a escada e ampliaram o banheiro", contou Bianca.
No entanto, segundo Bianca, ainda eram necessárias adaptações para tornar a casa acessível. Uma delas, o banheiro, ainda não estava finalizado; a outra, o acesso à residência que, por ficar em um beco estreito, não comporta a passagem da cadeira de rodas.
"Hoje o banheiro que temos é muito pequenos e precisamos destruir uma escada para torná-lo um pouco maior. Ele também vai ter barras de apoio, tudo para eu ter mais facilidade. Já o beco, aos poucos, estamos reformando, com as doações que recebemos", disse.
Nas redes sociais, a jovem faz rifas e pede doações para terminar a reforma.
Após a amputação das pernas e a recuperação da cirurgia, Bianca deixou de receber a quimioterapia de forma venosa e passou a recebê-la de forma oral, em dose menor, sendo chamada de 'manutenção' do tratamento, para impedir que a leucemia volte.
O g1 pediu à Secretaria de Saúde do Espírito Santo um levantamento dos casos de leucemia no estado, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
No último dia 12 de junho, Bianca iniciou tratamento no Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes), em Vila Velha, na Grande Vitória. As sessões de fisioterapia devem durar até agosto deste ano. Depois disso, a jovem deve receber próteses.
"Eu tô ansiosa para a prótese. Vou reaprender a andar e ter independência, ter mais mobilidade", disse.
Sepse provocou a amputação
Em janeiro de 2024, após cinco sessões de quimioterapia, uma febre levou a internação da estudante, seguida de um estado de coma, provocado por uma pneumonia assintomática, que causou sepse.
Ao todo, Bianca ficou sete dias em coma e, durante esse período, a equipe médica utilizou uma série de antibióticos e noradrenalina para tentar conter o avanço da infecção.
"Quando falaram que eu precisava amputar as pernas, eu entrei em desespero. Receber essa notícia foi até pior do que receber a notícia do câncer."
"Mas aí a minha mãe, meu namorado e toda minha família conversaram comigo. Com o tempo, eu fui entendendo a minha história. Eu acredito em Deus. Então, eu aceitei. Hoje eu entendo que eu vivi um grande milagre", disse a jovem.
O médico intensivista do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), Wyllyam Reis, explicou que a sepse é um conjunto de manifestações graves em todo o organismo produzidas por uma infecção. Usualmente é chamada de infecção generalizada.
"É uma infecção que ameaça a vida do paciente através de uma disfunção orgânica. Ou seja, uma infecção em algum ponto do organismo, como no pulmão, que provoca em todo o corpo uma resposta inflamatória numa tentativa de combater o agente da infecção de maneira muito amplificada, pouca defesa e bastante amplificação. [...] No Brasil, a mortalidade da sepse está em torno de 35% em caso de pacientes tratados", explicou.
Segundo o médico, no caso de uma paciente com câncer ou outra condição de comorbidade, a defesa fica ainda mais suscetível a infecções. "A bactéria ganha o sangue e consegue com muito mais facilidade destruir o sistema".
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O médico explicou ainda que amputações são comuns em casos mais agudos da infecção, em que é necessário altas doses para manter a pressão arterial. O sangue bombeado passa a não chegar direito a algumas partes do corpo, normalmente extremidades, como dedos, orelha, perna. Isso provoca a necrose, a morte do tecido.
"Quando a necrose irreversível é detectada, realizamos alguns exames, biópsia, avaliação com cirurgião vascular e os responsáveis legais são comunicados, muitas vezes o paciente não está consciente. Informados sobre a inviabilidade do órgão e eles precisam assinar um termo de consentimento para que o procedimento seja feito", descreveu o especialista.
Casos de leucemia no ES
A Secretaria da Saúde informou que, em 2024, 23 pessoas tiveram leucemias e foram atendidas na rede pública de saúde do estado até o momento. Em 2023, foram 164 casos ao longo de todo o ano.
Em relação à leucemia linfóide aguda, foram 5 casos, neste ano, e 71, no ano passado, de acordo com o Painel Oncologia Brasil.
Relembre o caso
A estudante Bianca Andrade, de 25 anos, se preparava para começar um estágio em Pedagogia, em julho de 2023, em uma escola particular de Vitória, quando o exame admissional exigido para a contratação revelou um câncer. Desde então, a jovem passou por várias internações e infecções, resultando na amputação de suas pernas.
Dias depois, em uma consulta com um especialista no Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), ligado à Ufes, um exame específico na medula óssea revelou o diagnóstico de Leucemia Linfoide Aguda (LLA), um tipo de câncer que afeta os glóbulos brancos.
Bianca foi internada em agosto de 2023, cerca de três semanas após o diagnóstico, para começar a quimioterapia. Ao todo, foram sete meses entre idas e vindas para o Hucam, onde realizou o tratamento.
Já em janeiro de 2024, após cinco sessões de quimioterapia, uma febre levou a internação da estudante, seguida de um estado de coma, provocado por uma pneumonia assintomática, que causou sepse, também conhecida como infecção generalizada.
Quando acordou do coma, a jovem precisou fazer uma cirurgia para amputar as penas, que haviam necrosado.