Orca interage com barco de mergulhadores no ES
Um vídeo feito por três amigos mergulhadores mostrando o momento em que uma orca se aproxima de um barco viralizou nas redes sociais. O registro foi feito na tarde de segunda-feira (19) em Nova Almeida, na Serra, na Grande Vitória.
Nas imagens, os amigos, eufóricos, chegam a tocar várias vezes no animal. Mas um oceanógrafo ouvido pelo g1 explicou que essa interação é perigosa e que é necessário respeitar um distanciamento de animais marinhos.
"As pessoas devem respeitar uma distância dos animais marinhos, seguindo normas existentes de distanciamento. No caso dos cetáceos (baleias e golfinhos) não devemos nos aproximar a menos de 100 m na observação, e no caso eles se aproximam quando se sentem interessados", contou o oceanógrafo Paulo Rodrigues do Projeto Baleia Jubarte.
Sobre a orca do vídeo, Paulo disse que o animal se aproximou porque já estava debilitado e até com mordidas de tubarão.
"As orcas e golfinhos selvagens geralmente não interagem dessa forma para pedir carinho ou brincar, e esse é um caso que ela estava demonstrando estar debilitada, precisando de ajuda. Já estava magra e demonstrando estar enferma. Alguns detalhes como muitas mordidas de tubarão cachimbo e a presença de cracas também demonstram que ela estava com mobilidade afetada", explicou o oceanógrafo.
O especialista reforçou a importância de também não chegar perto de animais marinhos que aparecem encalhados em praias, já que eles ainda podem ter força o suficiente para machucar quem se aproximar.
"A aproximação do animal vivo nadando ou encalhado também é arriscado devido ao tamanho e força desses animais, que pode acertar e causar traumatismo e até a morte de pessoas, pelo impacto de uma nadadeira. Por isso também quando esses animais chegam encalhados, é perigoso chegar perto e encostar", disse.
Já no caso de animais mortos, o perigo é outro: o risco de contrair infecções.
"A causa enfermidade e da morte pode ser um vírus, e o próprio estágio de decomposição pode gerar patógenos [organismos] que podem transmitir doenças ao homem. Não é atoa que nossa equipe de resgate dos encalhes usa todos os EPIs para assegurar nossa saúde", falou Paulo.
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Orca achada morta
Na manhã desta terça-feira (20), segundo o Instituto Orca, o mesmo animal que estava no vídeo com os mergulhadores apareceu morto na areia de uma praia de Nova Almeida.
Fernando, um dos mergulhadores que estava no barco, comentou sobre o final triste do animal.
"Infelizmente agora acordei triste, porque a bichinha morreu", disse o mergulhador.
O Instituto Orca, a prefeitura da Serra e a Ambipar, empresa executora do PMP-BC/ES (Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Campos e do Espírito Santo), foram acionados sobre a causa da morte da orca.
Lupércio, diretor do Instituto, explicou que o comportamento da orca de ter se aproximado e interagido tanto com o barco dos mergulhadores já apontava que o animal parecia estar dando um 'sinal de socorro'. Além disso, a orca apresentava alguns machucados.
"É um comportamento atípico permitir aproximação de alguém e deixar tocar. O animal deveria estar em estado bem grave, machucado. As orcas andam em grupo, mas quando um dos animais fica doente, o animal pode se desgarrar e procurar a beira da praia. Provavelmente o de hoje estava com alguma doença que atrapalha a nadar, a flutuabilidade. Lesões externas estranhas, isso tudo vai ter que ser coletado para análise ", disse o diretor.
O Instituto está analisando o que vai ser feito com o corpo do animal. Equipes estão discutindo se o animal vai ser levado para o Instituto para fazer necrópsia e descobrir a causa da morte ou se ele vai ser enterrado na praia mesmo.
"É um local de difícil acesso. Envolve uma logística para ver o que vai ser feito, se vão resgatar o animal inteiro para fazer análise. Depende de maré, acesso de máquinas", explicou Lupércio.
Experiência única
No vídeo (veja no início da reportagem), os amigos conseguem ver de longe o animal se aproximando e depois os três ficam eufóricos com a chegada do animal perto da embarcação. A orca encosta no barco e os amigos fazem até carinho no animal.
"Doideira meu Deus do céu, olha aqui quem tá debaixo de nós, acredite se quiser, que doideira! É uma orca cara! Que barato meu Deus! Obrigada! Eu tenho medo, eu tenho pavor, ai que doideira!" comentou um dos amigos.
Em outro momento, os amigos chegam a comentar que o animal estava batendo no barco.
"Olha amigo, que massa! Ai meu Deus, vai tombar o barco. Ela gostou do carinho. Ela tá dando cabeçada no barco. Tá doido! Aí ó, ela aqui do nosso lado. É uma orca brother, o bicho mais maravilhoso do mundo mesmo", disse outro mergulhador.
"É uma orca mesmo! Olha isso! Ai meu deus, cuidado. Ela me ama! Olha os dentes! Sacudindo o barco. Eita, agora ficou perigoso."
Fernando Rocha é um dos mergulhadores que estava no barco e disse que nunca tinha vivenciado uma experiência dessas, mesmo sendo mergulhador há 25 anos. Explicou que ele e os amigos saíram para mergulhar em alto mar, como de costume, quando encontraram o animal.
"Parecia que ela tava me pedindo carinho o tempo todo. Todos ficaram muito emocionados, na hora dava vontade de chorar, gritar, vontade de pular em cima dela, abraçar ela de alegria. Não pulei por respeitar o animal, não faz bem abraçar, pular em cima. Eu até falei que amava ela, que ela me amava", contou Fernando.
O mergulhador explicou que ao longo da , os amigos conseguem ver de longe o animal se aproximando e depois os três ficam eufóricos com a chegada do animal perto da embarcação. A o encosta no barco e os amigos fazem até carinho no animal.
"No verão eu mergulho quase todos os dias. Eu já encontrei mãe e filho de jubarte indo para praia e consegui salvar. Orca foi a primeira, foi inesquecível, uma emoção muito grande. Nem dormi a noite só pensando nela. Parecia que ela me conhecia", disse Fernando.
Sobre a orca
Segundo o diretor do Instituto Orca disse que o animal começou a ser monitorado após o registro dos mergulhadores. Isso porque, segundo o diretor, a aparição de orcas no litoral do Espírito Santo não é frequente.
"É o segundo registro de orca aqui no estado. O primeiro foi em 2014. Parece ser um animal jovem ou quase adulto. As orcas tem características bem oceânicas, não se aproximam muito da costa. Eles se deslocam ao longo de todo o oceano, mas têm regiões preferenciais, se deslocam em função das correntes. São animais de águas temperadas e mais frias. De São Paulo para baixo é mais comum ver essa baleias. Sabemos de outros fenômenos de orcas indo atrás de veleiros, mas não sabemos explicar a razão", explicou Lupércio Barbosa.
Prefeitura
A Prefeitura da Serra informou que o animal encontrado morto é uma orca, com cerca de 5 metros, animal raro de aparecer na região.
Disse ainda que a fiscalização ambiental foi ao local e ainda não há definição quanto à destinação do animal, se o corpo será enterrado ou se ficará com o Instituto Orca para fins de pesquisa.