Jovem músico capixaba realizou o sonho de estudar na Áustria para ser maestro
A grande distância entre Santa Maria de Jetibá, no interior do Espírito Santo, e a Áustria, não foi capaz de parar o sonho do capixaba Fábio Lahass. O jovem, que há menos de um ano contava o desejo de fazer mestrado em música erudita em uma universidade no país, agora mora em Viena e levanta todos os dias para viver o que sempre quis.
Ele é o único brasileiro em uma das melhores escolas de música clássica do mundo.
"Se alguém me falasse, quando criança, que eu poderia fazer isso, eu nunca iria acreditar que eu seria capaz disso", afirmou Fábio.
Fábio passou a infância no interior. Os pais, agricultores, trabalhavam com café. O filho precisava ajudar o pai na lavoura, mas esse nunca foi o talento de Fábio.
"Ele sempre ia com o pai dele [trabalhar no campo], mas não dava muito certo. Ele não tinha talento", declarou a mãe de Fábio, Lendina Lahass.
O talento que ele possui, no entanto, começava a aparecer na Igreja Luterana da cidade, durante os cultos. Era ele quem cantava mais alto. Isso chamou a atenção do pastor Willy Topfer, que também é músico.
O pastor sugeriu a Fábio começar aulas de música e, com um harmônio (instrumento de teclas), o jovem começou a aprender as primeiras lições com a esposa de Willy.
Faltava, porém, recursos para adquirir instrumentos para estudo por conta própria. Foi então que o jovem improvisou e, em uma folha em branco, desenhou um teclado e as notas. Os sons, mesmo que imaginários, representaram uma nova na evolução de Fábio com a música.
"Isso ajudou ele a desenvolver o que chamamos na música de ouvido interno. Bater o dedo em uma tecla e já saber, é como se a mente dele tocasse aquele som", explicou o pastor.
Em meio aos estudos, a história de Fábio foi contada por Willy na igreja e tocou o coração da dona de casa Samira Ziettlow. Ela doou um teclado para o jovem e o tempo destinado à música ficou ainda maior.
Tempo que, agora, faltava para o trabalho no campo. Ele pediu aos pais para ser liberado do trabalho na plantação e o pedido foi atendido. Essa mudança foi essencial para Fábio conseguir entrar em um internato capixaba que oferecia aulas de piano.
Aos 13 anos, participou de um festival de música em Domingos Martins, na Região Serrana do estado, e chamou a atenção da professora de música Elizabeth Poganski, da Faculdade de Música do Espírito Santo (Fames).
Elizabeth ouviu a história de Fábio e, sabendo que ele não poderia se manter por conta própria em outra cidade, o convidou para morar com ela e estudar para entrar na Fames.
"Era nítido que ele tinha talento, mas lhe faltavam algumas aptidões técnicas. Assim foi feito [hospedagem e estudos] até ele entrar na Fames. Ele passou com 10", disse a professora.
Por dois anos na faculdade de música, Fábio também teve aulas de canto e aprendeu sobre regência de coral. Outro convite, no entanto, fez com que ele avançasse ainda mais na carreira.
"Eu postava os meus trabalhos, e então recebi um convite para trabalhar na Paróquia Cantareira, em São Paulo. Larguei tudo em Vitória e fui para São Paulo", contou Fábio.
Ele estudou na Cantareira e na escola de música do Teatro Municipal de São Paulo, onde fez aulas de piano erudito e canto lírico.
Anos depois, e ainda mais experiente, Fábio decidiu ser maestro e estudar na universidade em Viena. As provas de seleção eram difíceis e envolviam até mesmo regência em alemão. O desafio foi grande, mas Fábio conseguiu passar pelas provas.
Para conseguir custear a viagem à Áustria e a vida no país, ele contou com ajuda de quem acompanhou de perto a sua história. Foram feitas campanhas da igreja luterana de Santa Maria de Jetibá na internet e, por fim, Fábio conseguiu juntar quase R$ 100 mil.
O dinheiro serviu para que ele seguisse em direção ao seu sonho, mas o jovem brasileiro ainda precisa conviver com o trabalho para continuar os estudos. As tarefas, agora, já não são mais no campo dele: no tempo livre, Fábio dá aulas de música pela internet para alunos do Brasil.
Os desejos de Fábio ainda não terminaram. Ele ainda sonha em dar uma vida melhor para os pais e retribuir com música toda a ajuda que recebeu.
"É um grande sonho que está se realizando. Eu gostaria também que isso inspirasse outras pessoas do Brasil. Pessoas que talvez tenham uma realidade parecida com a minha, no sentido de que a gente deve lutar pelos nossos sonhos, pois eles não são impossíveis. Eu sempre falo para as pessoas irem atrás dos próprios sonhos, mas isso não é fácil. Nunca disse que é fácil. Então precisamos ter força e alegria para isso", declarou Fábio.